18.7.10

Escolas municipais terão reforço de trainees

A notícia veiculada pelo jornal O Globo, do dia 17/07/2010, é de estarrecer: a Sra. Secretária Municipal de Educação - Cláudia Costin - vai contratar 40 universitários e profissionais recém-formados em qualquer área de conhecimento como "trainees", por um salário mensal de R$ 2.500,00 (DOIS MIL E QUINHENTOS REAIS, por um período de dois anos, auxiliando com aulas de reforço de aprendizagem para estudantes de unidades localizadas em áreas de risco, as Escolas do Amanhã.

E por que tanto estarrecimento?
Primeiro, por causa do salário, "equivalente ao de um professor de 40 horas do ensino regular". Acho incrivel, porque na rede municipal só há professores 40 horas quando alguém resolve acumular (dobra) ou otber nova matrícula por concurso. Ora, sendo assim o salário dos trainees é muito maior porque não terão efetivo exercício em sala de aula que chegue a 40 horas semanais.

Segundo: esta Secretária é mesmo comprometida com o mundo empresarial, gosta de repassar dinheiro público para este setor (nacional e internacional). Por que ela não se utiliza das Universidades? Por que não cria um programa de recuperação da qualidade da educação envolvendo as Universidades públicas do Rio de Janeiro?

Terceiro: a ausência do SEPE frente à sanha desta Secretária privatista, tecnicista etc. é um fenômeno inexplicável. O SEPE precisa colocar um fim nas insanidades que são cometidas em nome da melhoria da qualidade da educação pública municipal.

Quarto: O programa "Teach For All" é o responsável pela formação dos trainees.Tal programa tem atuação internacional; está presente em 13 países.

Quinto: Grandes empresas estão presentes neste Programa, cada vez mais subsumindo a educação pública aos interesses mercadológicos. Elas serão responsaveis pelo pagamento de 2/3 das despesas com o Programa.

Cada vez mais o círculo privatista em torno da educação pública municipal vai se fechando. Já estão presentes pautando os seus rumos o Instituto Ayrton Senna, Fundação Bradesco, Itaú Cultural, Firjan, Fundação Victor Civita etc. Quem mais ainda virá para completar o círculo?

Global  Map

Teach  For All is a global network of independent organizations that are  working to expand educational opportunity in their nations by enlisting  their most promising future leaders in the effort. We aspire to the  vision that one day, all children will have the opportunity to attain an  excellent education. This is a matter of fairness and justice for our  children, and it is of utmost importance for the welfare of all the  world’s citizens.
students and teachers Teach For All thanks its global founding partners for their generous support in making the launch and ongoing development of Teach For All possible:
Michael & Susan Dell Foundation, The Nduna Foundation, The HSBC Global Education Trust, Visa Inc., and New Profit Inc./Monitor Group.


10.7.10

Por que as aulas não funcionam? crítica aos apologetas do tecnicismo em educação

A revista Veja, de 22 de junho de 2010, em reportagem de Roberta Abreu Lima - "Aula Cronometrada" - faz a apologia de um "método científico" que cronometra as aulas e descobre o desperdício de tempo. Segundo a jornalista, os cronômetros trouxeram à tona a monotonia das aulas, os tempos de indisciplina e desatenção dos alunos, o que corresponde a 56 dias perdidos num ano letivo.
Há muitos anos trabalhei numa escola preparatória para o Vestibular que cronometrava o tempo, atribuindo algo em torno de 10 minutos para cada momento da aula: apresentação do tema, motivação, exposição, exercícios e avaliação. 50 minutos cravados. E funcionava?
Claro que sim. O autoritarismo desta divisão do tempo não leva em conta a dialogicidade que precisa haver na relação de ensino. Nós tínhamos um script e o cumpríamos. Mas era como um bolero: dois pra lá, dois pra cá.
Os tecnicistas de plantão desprezam a dialeticidade presente na sala de aula. Alunos e professores, ensinar e aprender, perguntar e responder são pólos de unidades dialéticas e têm seus movimentos com tempos próprios. Desrespeitar esta dialeticidade implica em mecanização do ensino e anulação da interação dialógica.
Muitos behavioristas já teorizaram sobre a efetividade das aulas nestes moldes, propondo máquinas de ensinar, instruções programadas etc. e conseguiram atingir dado nível da instrução, isto é, o domínio de certo nível de conhecimentos sistematizados. Formaram muitos técnicos de qualidade. O Sistema S (Senai, Senac etc) trabalha muito nesta linha.
A apologia e a aplicação deste tecnicismo-com-cronômetro-em-punho não resolvem o problema da educação dos nossos alunos. Educar não é simplesmente instruir. Exige o desenvolvimento onilateral da personalidade, valorização de qualidades humanas, traços de personalidade social e de caráter de acordo com dada concepção de mundo.
Supõe relaçoes sociais durante as aulas pautadas por determinados valores éticos e sociais. A educação não é um fenômeno social asséptico, inodoro e submetido a tempos fixos e regulares.

6.7.10

IDEB - Ensino médio fluminense em baixa

(Entrevista concedida à jornalista Letícia Vieira - Jornal Extra, publicada em 07.07.2010)

Letícia Vieira. A aprovação automática pode ter influenciado esse baixo desempenho da rede estadual no segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio?

ZG - A "aprovação automática" tem sua parcela de responsabilidade, mas não pode ser considerada como causa única. Antes devemos nos questionar acerca das políticas públicas efetivamente voltadas para a melhoria da qualidade da educação a partir das salas de aulas. A SEEDUC-RJ tem feito diversos esforços, mas é grande a convergência deles para o controle do trabalho do professor, controle do aluno etc sem isto se traduza em comprometimento com a qualidade das aulas, dos conteúdos.

LV - A partir dessa análise das escolas estaduais com pior desempenho, qual a relação entre a existência de escolas compartilhadas e as notas baixas no Ideb?

ZG - Não é surpresa que os alunos destas escolas tenham notas baixas no IDEB. Sabemos que as escolas compartilhadas sequer deveriam existir. Elas são precárias e esta precariedade tem influência direta nos níveis de proficiência dos alunos. É uma lástima que ainda existam, apesar de o Governo Estadual ter se comprometido em 2008 a acabar com a existência delas construindo 50 novos prédios escolares com estrutura moderna, salas climatizadas, auditório multimídia, laboratórios, bibliotecas e carteiras moduladas; eles acabariam com 178 escolas compartilhadas. Diversos estudos demonstram que a melhoria das condições físicas dos prédios escolares incidem sobre o desempenho de alunos e professores.

LV - Existe algum outro fator que o senhor acredita que pode ter provocado o baixo desempenho da rede estadual?

ZG - Como já disse, não temos apenas uma determinação para o baixo desempenho da rede estadual. A escola com tempo reduzido, algo em torno de três horas e meia, também é outro fator. Precisamos de políticas que estabeleçam a escola única de tempo integral que seja de cultura geral, humanista e tenha o trabalho como principio formativo. Nossos alunos precisam desenvolver suas capacidades de trabalho intelectual e também de trabalho técnico e industrial.
A situação do professorado também precisa ser melhorada. Suas condições objetivas de trabalho e sobrevivência impedem sua afirmação como profissional mais dedicado à sua profissão. Com professores trabalhando com duas matrículas, fazendo extras (GLP) e atuando em instituições particulares de ensino é impossível pretender atingir as metas propostas de uma hora para outra. Se não houver políticas sérias que promovam uma verdadeira revolução na educação de ensino médio será difícil cumprir as metas propostas e ultrapassá-las.

2.7.10

Universidades e Empresas

(Entrevista concedida à jornalista Alessandra Bisoni, do Jornal Folha Dirigida. Publicada na Capa do Caderno Educação, edição de 06.07.2010).


Folha Dirigida - O Sr. considera que a associação entre universidades e empresas é realmente benéfica para o incentivo à pesquisa nas universidades ou beneficia só as empresas que usufruem dos resultados?

A associação entre universidades e empresas deve ser vista no contexto das teses que as criticam como improdutivas e incapazes de alçar o País ao nível dos países mais desenvolvidos e centrais do mundo globalizado. No fundo o que se pretende é que as universidades se submetam às regras de competição do mercado e, de preferência, transfiram parte considerável de suas atividades fins – ensino, pesquisa e extensão – a uma nova burguesia de serviços, de modo conveniente aos interesses dela.

Folha Dirigida - Deve ser papel de uma agência de fomento à pesquisa incentivar este tipo de associação entre universidades e empresas? Ou o formado mais adequado seria o de financiar o trabalho nas universidades?

Penso que não. A educação superior, para além de sua função de contribuir para a melhoria do conjunto da sociedade, é um bem público com funções de educar, formar e realizar investigações de relevância para a sociedade como um todo; promover o saber mediante a investigação nos âmbitos da ciência, arte e humanidade; fomentar métodos educativos inovadores baseados no pensamento crítico e na criatividade. Seu financiamento por agências de fomento à pesquisa, tais como a FAPERJ e o CNPq, ética e politicamente, preserva a educação superior como uma prioridade social, sem que se submeta aos imperativos do empresariado capitalista, capaz de transformar a educação superior em um bem privado.

Folha Dirigida - A presença do investimento externo à universidade ou aos governos mantenedores tira a liberdade da pesquisa?

Sim, especialmente se o investimento externo estiver comprometido com a lucratividade, isto é, com a acumulação de riquezas. O mundo empresarial sempre trabalha com a relação custo-benefício, com a imediatidade de transformar tudo em meio de enriquecimento. Duvido que os investimentos provenientes de empresas privadas admitiriam investigações caras e demoradas em áreas do conhecimento que deixem de proporcionar ganhos imediatos. O corolário da intervenção externa, no que diz respeito ao financiamento das pesquisas, seria, imediatamente, determinar o que têm relevância econômica e capacidade de sobrepor-se à concorrência. A liberdade de pesquisa, nestes termos, fica condicionada para o que aponta para a lucratividade, acumulação, enriquecimento...

Folha Dirigida - Que tipo de consequências poderia trazer um incentivo maior à parceria entre universidades e empresas, principalmente estimuladas por órgãos governamentais? Poderia, por exemplo, desestimular os projetos nas áreas menos rentáveis, como as ciências sociais?

Na questão anterior já afirmo ser possível desestimular os projetos em áreas menos rentáveis. O metabolismo do capital não admite pesquisas de caráter social. Seu interesse está integralmente voltado para o mercado. Ele tende a privatizar todas as pesquisas importantes para a sociedade, como por exemplo as pesquisas com células-tronco, energia, produção de alimentos etc., transformando seus resultados em mercadorias vendáveis por preços vultosos, inacessíveis para a maioria da população.

Folha Dirigida - Na sua avaliação, as universidades têm dado a contribuição que deveriam com a produção científica no país? O que fazer para melhorar?

Claro que sim. O Brasil hoje aparece muito bem no cenário mundial, colocando-se em 13º lugar entre os países que mais produzem cientificamente, superando, por exemplo, a Rússia e a Holanda. As críticas que visam desqualificar as universidades, nossos maiores centros de investigação e de produção científica, pretendem que elas somente se comprometam com a produção de novos conhecimentos científicos como força produtiva. Há diversos intelectuais da fração da burguesia interessada na produção científica como força produtiva que, inclusive, advogam níveis de comprometimento das universidades com uma economia pautada pelo conhecimento, aceitando haver uma ingerência “controlada” das empresas nas atividades fins das universidades. Sou, porém, de opinião contrária sem pretender me situar numa posição de absoluta resistência. Penso que para melhorá-las ainda mais é preciso que sejam mais potenciadas conforme as necessidades humanas, evitando-se democraticamente que fiquem à mercê dos homens de negócio avidamente interessados em submetê-las à esfera privada e à lógica de exclusão.

Divagando

  A rigor a esquerda latino-americana é radicalmente contra o neoliberalismo. A produção acadêmica dos anos 1990 para cá é um belo exemplo d...