18.8.12

O IDEB de 2012 não confirma a qualidade das escolas particulares


A campanha contrária às escolas públicas brasileiras tem sido grande e acirrada. Nas televisões e jornais de grande circulação só assistimos e lemos notícias sobre as suas mazelas. Seu efeito sobre o imaginário da classe média é a sua hispostasiação: a escola pública é para pobres, os professores são mal preparados, as greves são constantes etc.
As publicações regulares do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica pelo MEC/INEP estão, no entanto, colocando outro foco sobre as mesmas e evidenciando esforços públicos para a sua melhoria. O IDEB deste ano mostra importante recuperação da qualidade do sistema nacional de escolas públicas de Ensino Fundamental. Já dá para constatar que muitas escolas públicas têm atingido metas que hão de elevar consideravelmente o nível de proficiência dos seus alunos, equiparando-os aos de muitos países da União Europeia em médio prazo. O que o IDEB também demonstra é que a qualidade das escolas particulares não corresponde ao que se propala midiaticamente.
 Em um conjunto de provas que compõem este indicador verifica-se que os alunos das escolas particulares têm desempenhos equivalentes nas mesmas provas. Em todas as regiões do País eles e suas escolas deixaram de alcançar a meta/média de 5,8 para o ano de 2011.  O jornal O Globo considerou como pífio o resultado que apresentaram.
Destacadamente as escolas públicas de Minas Gerais, Santa Catarina, Distrito Federal, Paraná, São Paulo, Goiás, Espirito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro cumpriram e até ultrapassaram a meta brasileira para 2011.  Nestes estados a média foi crescentemente de 5,1 (Rio de Janeiro) a  5,9 (Minas Gerais). Mesmo as escolas das Regiões Norte e Nordeste e do Estado de Tocantis cumpriram as suas metas, mas ainda ficaram abaixo da média nacional: 5,0.
As escolas particulares do Brasil, leigas e religiosas, apesar de toda propaganda, fetichização e de algumas magnificas instalações ficaram no mesmo patamar de médias cinco em todas as Regiões Brasileiras, perfazendo a reles média 5,6. 
O grande efeito imediato e positivo da transparência nacional do IDEB é o desnudamento objetivo de uma realidade que vinha sendo nublada pela mídia. As diferenças entre escolas públicas e particulares brasileiras são praticamente inexistentes; de verdade o que se constata é um autêntico empate técnico entre elas, o qual, aliás, vem de há muito tempo. Diversos estudos que não são publicados nacionalmente já o demonstraram. Só a mídia patrocinada por educandários particulares sonega a verdade ao grande público.
Gráficos produzidos pela UNESCO, com os níveis de desempenho em Matemática dos alunos das escolas públicas e privadas de ensino fundamental da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Honduras, México, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela, publicado pela primeira vez em 2000, demonstram que não são acentuadas as diferenças de desempenho dos alunos de escolas públicas e particulares. Os gráficos apresentados abaixo foram gerados pela Oficina Regional de Educación para América Latina y el Caribe (Laboratorio Latinoamericano de Evaluación de la Calidad de la Educación) e estão disponíveis na Internet[1], integrando importante informe. 
 

No primeiro nível – reconhecimento e utilização de fatos e relações matemáticas básicas – a diferença de desempenho de alunos de escolas públicas e particulares é de apenas 2.63 pontos percentuais. No segundo – reconhecimento e utilização de estruturas matemáticas simples – há uma diferença maior, de 7.94 pp, mas volta a ser menor, praticamente insignificante, no nível três – reconhecimento e utilização de estruturas matemáticas complexas: 0.07 pontos percentuais.
O fato é que não é expressiva a diferença de desempenho dos alunos de escolas públicas e particulares em todos os países da amostra. Até mesmo os diferentes níveis socioculturais dos estudantes deixam de ter peso apreciável para justificar as constatações apresentadas graficamente. O empate técnico é tão acentuado que as explicações talvez devam demandar pesquisas quanto as metodologias de ensino, materiais pedagógicos concretos e outros campos das práticas didático-pedagógicas.
No gráfico demonstrativo do nível de desempenho em Linguagem na mesma região a situação não é muito diferente. Vejamos. Ele também foi gerado no mesmo ano, pela mesma Oficina da UNESCO em Santigado do Chile.



Neste gráfico há diferenças mais visíveis. O desempenho dos alunos de escolas particulares é superior nos três níveis de aferição de domínios em Linguagem. Mas não se pode dizer que a diferença seja acachapante, que comprova haver grande inferioridade de desempenho dos alunos de escolas públicas. É, porém, indiscutível que estes apresentam fragilidades quando solicitados a expressarem o conteúdo de um texto com as suas próprias palavras e a exporem conclusões próprias. A análise do gráfico nos permite apenas inferir que mais alunos das escolas particulares são capazes de ler e compreender o que estão lendo. Mas, se o requisito é tão puramente ler um texto, de modo audível e claro, os alunos de ambas as redes de escolas atendem-no em situação bastante idêntica. Neste nível a diferença em pontos percentuais é de apenas 3.49.
A literatura especializada já trouxe à luz diversas explicações com bases empíricas para esta ligeira superioridade dos alunos de escolas particulares; muitas têm mais a ver com a suas condições socioeconômicas do que com a qualidade do ensino ofertado pelas escolas particulares. Os estudos de Pierre Bourdieu, apenas para citar este grande sociólogo, colocam ênfase no capital cultural das famílias de maior poder aquisitivo pela produção desta diferença. As idas aos teatros, cinemas e museus, assim como as viagens e convívio com pessoas mais cultas aumentam significativamente o nível de proficiência destes alunos em leitura, interpretação de textos etc.
O fato é que a partir da divulgação periódica do IDEB a sociedade civil brasileira precisa estar mais atenta ao que vem sendo realizado nas escolas públicas brasileiras, sobretudo por seu professorado. Precisa também reivindicar melhorias mais eficientes junto aos órgãos estaduais para o Ensino Médio, o antigo Segundo grau. Este não está avançando na mesma velocidade do Ensino Fundamental.


[1] UNESCO-SANTIAGO. Primer estúdio internacional comparativo sobre lenguaje, matemática y factores asociados, para alumnos del tercer y cuarto grado de la educación básica – segundo informe. Santiago de Chile, octubre de 2000. Disponível no site: http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001231/123143s.pdf. Acessado em Agosto de 2012.

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