Grupo estuda novo modelo após fim do sistema de ciclos no Rio
Data: 12/01/2009
Veículo: O ESTADO DE S. PAULO - SP
Editoria: VIDA
Jornalista(s): Alexandre Rodrigues
Assunto principal: ENSINO SUPERIOR
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
OUTROS
Ano letivo no município começa com revisão em português e matemática
Escalada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), para cumprir a promessa de campanha de suspender os ciclos de progressão continuada adotados em 2007 na rede municipal pelo ex-prefeito Cesar Maia (DEM), a nova secretária da Educação, Cláudia Costin, admite a possibilidade de retomar o sistema. Ao acabar por decreto com o que foi rotulado no debate eleitoral de aprovação automática, Paes criou uma comissão para estudar um novo modelo educacional.
No sistema de ciclos, o aluno só pode ser reprovado ao final de cada etapa (de dois ou três anos). Segundo Cláudia, os ciclos serão reabilitados se o grupo entender que esse é o melhor caminho. "Criamos um programa de trabalho que vai propor um novo sistema, propondo se voltaremos ou não aos ciclos e, se voltarmos, como. Pessoalmente, sou simpática à ideia de ciclos, mas tem que ser bem implantada. Do jeito que está, não vale a pena", disse Cláudia ao Estado. Em sua primeira semana no cargo, ela ouviu depoimentos de diretores sobre a falta de condições nas escolas para o acompanhamento minucioso que os ciclos exigem, chegando a casos como de alunos do 6º ano que não sabem ler e escrever.
"Temos de diminuir a reprovação, mas nem a sociedade nem as autoridades estão convencidas no momento de que a saída do problema da aprendizagem é o ciclo", diz Cláudia, que foi secretária de Cultura do Estado de São Paulo. Ela está preocupada em manter um dos pressupostos dos ciclos: o de que a velocidade do aprendizado é diferente entre os alunos, que precisam de cuidado individual.
Embora a prefeitura tenha restabelecido a reprovação, Cláudia quer as escolas envolvidas para evitá-la. Por isso, determinou que todos os alunos da rede municipal passarão por uma revisão dos conteúdos de português e matemática da série anterior nos primeiros 45 dias do ano letivo. No fim do período, uma prova vai indicar quem passou sem aprender e precisa da recuperação especial ao longo do ano. "Queremos identificar precocemente os que não dominam o conteúdo da série anterior. Não queremos chegar ao fim do ano e ter a surpresa de que um aluno vai ser reprovado. Pior do que a aprovação automática é a reprovação automática", diz Cláudia. "Nem sempre o aluno não domina o conteúdo por falta de esforço. Cerca de 32% dos alunos no Brasil são reprovados na 1ª série. É um menino de 7 anos. Ele não é malandro."
Para o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio, o fim dos ciclos uma vitória. "É um passo importante. O governo anterior adotou o sistema de forma autoritária, sem ouvir os professores. É preciso ter menos alunos por sala e profissionais bem remunerados", disse Vera Nepomuceno, coordenadora do sindicato.
Para Zacarias Gama, professor da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, as constantes mudanças nos sistemas de progressão e avaliação prejudicam os alunos. "Pesquisas mostram que a falta de continuidade causa impacto negativo nos alunos e professores. É preciso um alinhamento da escola nas decisões políticas, que levam mais em conta as demandas políticas do que as do professorado."
Apesar de o Ministério da Educação não se posicionar a favor ou contra os ciclos, a secretária de Educação Básica da pasta, Maria do Pilar Lacerda, não esconde seu entusiasmo com o sistema, que ajudou a implementar em Belo Horizonte quando era secretária. Ela concorda que a resistência ao fim da reprovação em meio à disputa eleitoral simplificou a proposta sob o rótulo "aprovação automática". "As pessoas acham que, se não houver reprovação, não há aprendizado. É uma mudança grande de cultura. O MEC não é a favor nem contra. Somos contra a aprovação automática, mas também contra a cultura da reprovação. O foco é a aprendizagem", diz ela.
Não apenas concordo com sua opinião como vejo em suas palavras uma orientação saegura para nossas autoridades educacionais. Mudar o processo educacional quando muda um secretário ou um governador ou prefeito é mais prejudicial do que qualquer projeto educacional. Fico impressionbado como pessoas aparentemente bem informadas afirmam existir algo como "aprovação automática" ou é má fé ou desconhecimento total.
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