A existência de 41 deputados titulares escalados para compor a Comissão Especial da reforma política da Câmara é muito mais do que um deboche. Todos têm fichas-sujas, são acusados de enriquecimento ilícito, têm problemas com a Justiça Eleitoral e são investigados por uso de caixa dois em campanhas e participação em escândalos políticos como o mensalão. Trata-se de algo bem mais profundo. As lideranças que os indicaram expõem o distanciamento e o seu descaso para com o eleitorado. Os deputados indicados atuam em causa própria, colocam em risco as garantias democráticas e deixam clara a degradação da representação parlamentar. Conspira-se contra a sociedade enquanto os estes deputados se fartam em conseguir vantagens para si e seus apaniguados, não importa a que preço.
É hora de a sociedade fazer uma crítica radical deste estado de coisas. A política é importante demais para ser deixada somente com os políticos, principalmente quando se revelam cínicos e antiéticos. O que esperar de uma profunda reforma política que o País precisa quando velhas e novas raposas são encarregadas delas pelos seus próprios partidos? O argumento de que as suas vozes estão desgastadas e desmoralizadas é frágil diante do poder de articulação silenciosa que são capazes de empreender na tessitura de leis que os favorecem diretamente e às frações dominantes que comungam os interesses que eles representam. Eles não apenas agem em causa própria, mas também conforme o interesse de muitos cidadãos que se abrigam na penumbra para preservar os imperativos da ordem estabelecida. São eles que se abatem e manietam o trabalho, os sindicatos e toda a sociedade civil que sonha com um Brasil diferente, efetivamente democrático.
Expedientes despudorados desta proporção exigem de todos nós nova atitude política para reprimir e controlar os descalabros que nos impõem. Toda a sociedade é chamada a criticar radicalmente procedimentos cínicos como este, a intervir e a promover uma cruzada que desfaça o divorcio entre o poder de tomar decisões políticas e a participação do eleitorado. Nada justifica atribuir créditos a uma classe política que acumula deboches para com a sociedade eleitora.
É hora de não termos ouvidos moucos nem de virar as costas ao que está acontecendo. A hora é de um movimento nacional que se contraponha a estes deputados e às forças destrutivas da democracia que eles representam e dão materialidade. É hora de uma frente extraparlamentar com mais força que a da ficha limpa para dar um basta em tais expedientes escusos e antidemocráticos.
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