O jornal Brasil Econômico de Quinta-feira, 17 de maio, estampou à página 18 uma matéria com a seguinte chamada: “Aos 50 anos, José Alves volta para os bancos de escola”. Não se trata porém de um simplório sr. José Alves Filho que volta para concluir os seus estudos. O sujeito em questão é um poderoso empresário herdeiro e presidente do Grupo José Alves que atua nos setores de bebida (Coca-cola Company), serviços de tecnologia da informação (Red&White IT Solutions), rastreamento e monitoramento de cargas (3T Stystems) e em mais outros cinco setores com uma receita anual girando em torno de 850 milhões de reais.
Em
meio aos demais setores de atuação deste Grupo está o ensino superior. Ele já
controla as Faculdades Alves Faria (ALFA), mantidas pelo Centro Educacional
Alves Faria Ltda (CENAF) com atuação na Região Centro-Oeste, e a Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo (FADISP), esta última criada
em 2001 exclusivamente para oferecer cursos na área do Direito. Segundo o mesmo
jornal, a expectativa deste Grupo é que nos próximos cinco anos o seu universo
cresça de 3,5 mil para 8,5 mil estudantes de graduação, mestrado e doutorado no
eixo Goiânia-São Paulo com o propósito de formar profissionais com competência
e orientação para resultados.
A
volta do empresário José Alves Filho aos bancos escolares não é, pois, um
retorno para uma simples retomada de estudos. Trata-se de uma volta essencialmente
capitalista com a finalidade de extrair mais valor no campo da educação
superior. Seu grupo passará a investir maciçamente na ampliação dos seus negócios
de ensino superior; pelo menos R$ 5 milhões anuais serão investidos em
propaganda, contratos, construções e outras ações configurando uma espiral
tensa e socialmente avassaladora neste campo. Tensa porque passa a atuar fortemente
sem necessariamente ter alguma missão e valores próximos aos da formação do
homem integral; seu objetivo explícito em site institucional é tão somente a
formação do profissional de resultados (sabe-se lá guiado por qual ética).
Avassaladora porque a expansão pretendida tende a submeter outras instituições
de ensino superior que têm a sociedade
como seu princípio e referência normativa e valorativa.
A
expansão do Grupo José Alves, apesar de sua veemência, não constitui porém um
fato isolado. Outros grandes grupos nacionais vêm fazendo o mesmo, muitos deles
com ofertas de participação acionária na bolsa de valores de Nova Iorque. Dois grandes
grupos ilustram bem o atual processo de privatização do ensino superior. Um é
representado pela Galileo Educacional que recentemente
passou a controlar a Universidade Gama Filho (UGF) e o Centro Universitário da
Cidade (UniverCidade), o qual muito rapidamente já vem gerando muitas preocupações
para professores, funcionários e estudantes de ambas instituições de ensino
superior. Uma Carta Aberta dos alunos do Centro Universitário da Cidade à sua
direção, publicada no site Petição Pública, exige o imediato pagamento de todos
os salários atrasados de docentes e funcionários até o dia 13 de abril de 2012
e os pagamentos relativos a FGTS, INSS, férias, indenizações e 13º salário. Na
UGF a situação não é diferente. O Yahoo Notícias de 18 de maio de 2012 informa
ser problemática a administração deste Grupo em ambas universidades: Segundo os alunos, a atual administração
mantêm instalações de ensino em estado precário, salários de professores e
funcionários estão dois meses atrasados e houve aumento de mensalidade sem reflexo
em melhora das condições de ensino. O outro grupo que contribui para a
mesma ilustração é o Grupo Kroton Educacional com sede em Belo Horizonte. Ele
atualmente está presente em 30 municípios de 9 estados brasileiros, nos quais
controla 40 unidades de ensino superior, com mais de 92 mil alunos, e mais de
700 escolas de educação básica com cerca de 280 mil alunos. Em quatro
municípios este Grupo atua integralmente no oferecimento da educação básica.
Somente no primeiro semestre de 2011 obteve um lucro líquido de 174%. Em 2006
sua renda liquida chegou a 113 milhões de reais. A sua avidez de expansão é
grande, não para e se faz acompanhar de oferta de ações na Bolsa de Valores de
São Paulo (BOVESPA). Dados obtidos junto à BOVESPA informam a sua captação de recursos
junto a investidores institucionais residentes e domiciliados nos Estados
Unidos da América, por meio de Agentes de Colocação Internacional (Itau BBA USA
Securities Inc., BTG Pactual US Capital Corp., Santander Investment Securities
Inc., Bradesco Securities, Inc. e Banco Votorantim Securities, Inc.).
O fato é que a expansão
de grupos eminentemente capitalistas no campo da educação é uma realidade
concreta e é deveras preocupante. Das 2377 instituições de ensino superior
existentes no Brasil, apenas 278 são públicas. Isto quer dizer que o setor
privado já controla quase 90% do sistema de ensino superior.
Esta expansão,
entretanto, é desordenada e basicamente está concentrada nas áreas de
conhecimento que exigem baixos investimentos em pesquisas, laboratórios e
tecnologias educacionais. Vem sendo feita, portanto, sem obedecer a políticas
estratégicas capazes de permitir ao País livrar-se do pagamento de royalties aos
centros produtores e vendedores de novos conhecimentos e patentes. A devida atenção
do Poder Público a esta expansão é imperativa e urgente. Sem uma rígida
regulação produzida pelo Ministério da Educação, Secretaria de Ensino Superior
(SESu) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
nós nos condenamos aos patamares mais baixos na hierarquia do que vem chamado
de sociedade e economia do conhecimento. A continuidade desta expansão apenas
em conformidade com as leis do mercado deixa-a aberta ao arrivismo mais
selvagem, com graves prejuízos para a consolidação de um sistema de ensino
superior de qualidade, num momento em que o País precisa dar sustentabilidade
ao seu desenvolvimento e incrementar com a independência a pesquisa e a
produção de novos conhecimentos de ponta em todas as áreas do conhecimento.
Publicado no Jornal Folha Dirigida, Caderno Educação, Coluna Sem Censura, pág. 4. Rio de Janeiro. Edição de 31/05/2012.
Publicado no Jornal Folha Dirigida, Caderno Educação, Coluna Sem Censura, pág. 4. Rio de Janeiro. Edição de 31/05/2012.
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