Claro que o calor está insuportável. Mas será que isso justifica dar aulas de bermuda? Vou assumir, talvez com certo conservadorismo, uma posição contrária. Basta pensar: por que o advogado não entra de bermuda no tribunal? Por que o médico não atende de bermuda? Por que o engenheiro, mesmo debaixo do sol no canteiro de obras, usa calça comprida?
Não é apenas questão de estética. É também de simbolismo. Essas profissões, de grande valorização social, entendem que a imagem fala tanto quanto as palavras — e que a autoridade se constrói também pelo modo como nos apresentamos.
Lembro-me de um texto que li anos atrás. O autor dizia que os professores ajudavam a cavar a própria desvalorização ao abandonar o “pedagogês” e, ao mesmo tempo, descuidar da aparência. Nos anos 70 e 80, não eram raros os professores de chinelo de pneu, cabelo desgrenhado, roupas surradas e bolsas de lã de lhama a tiracolo. Aquele ar alternativo, longe de inspirar respeito, transmitia descompromisso. Qual criança ou adolescente teria vontade de ver num professor assim um modelo a seguir?
A tese continua atual. O professor que aparece diante de sua turma com aparência relaxada reforça uma contradição evidente: exige seriedade, dedicação e futuro promissor dos alunos, mas não projeta esses mesmos valores em si mesmo. É verdade que a docência sofre com salários baixos e reconhecimento insuficiente, mas justamente por isso a construção simbólica de sua imagem deveria ser tratada com mais zelo, não menos.
Nada tenho contra a bermuda. O que me preocupa é a esculhambação da imagem pública do magistério. Uma profissão que já carrega tanto peso não pode dar ao mundo sinais de que também desistiu de se levar a sério.

Nenhum comentário:
Postar um comentário