A
crise estrutural do capitalismo está trazendo à cena novos sujeitos políticos
que vêm ocupando as ruas dos países da zona do euro, dos Estados Unidos e do
Chile. Todos estão indignados com a sensação de padecer de uma crise que é
financeira, econômica e social e que o aspecto social é o menos considerado
pelas autoridades governamentais ainda que seja essencialmente a chave para a
saída da crise. Ao mesmo tempo esses novos sujeitos expressam seu desdém à
política oficial convertida em profissão e exigem mais política, isto é, mais
democracia, com a efetiva participação cidadã nos destinos dos seus estados
nacionais.
O
capital-imperialismo subsumiu os estados nacionais retirando de suas populações
o direito de traçar os seus destinos nas suas arenas políticas. As regulações supranacionais
consensuadas nas grandes mesas de negociações das conferências
intergovernamentais manietaram as políticas nacionais, transformaram os chefes
de governo e de estado em simples executivos das determinações do capital para
garantir a lei da máxima rentabilidade dos investimentos improdutivos e criaram
uma classe política dissociada dos próprios eleitores e interessada apenas nos
seus interesses eleitorais e eleitoreiros particulares.
A
ortodoxia neoliberal, no entanto, surda e insensível aos clamores que se fazem
ouvir a partir das ruas, tem impedido quaisquer considerações profundas sobre a
questão social na Europa. Ela insiste em manter na ordem do dia os arrochos
salariais, cortes significativos nos programas sociais, demissões em massa,
cortes nas aposentadorias, diminuição de férias e aumento das jornadas diárias
de trabalho. O corolário imediato das medidas oficiais que estão sendo levadas
a efeito é a previsão de prolongada recessão econômica e de muitas dificuldades
para os cidadãos comuns da União Europeia e dos Estados Unidos.
A
superação da crise, contudo, não é pelos caminhos econômicos. Para uns, ela deverá
ocorrer com a inversão das tendências produtoras de desigualdades sociais e com
o reforço do Estado do Bem Estar (Welfare State). Outros tendem a
acreditar na impossibilidade de restauração do welfare state argumentando que a
complexidade adquirida pelo capitalismo financeiro atual situa-o num tempo em
que as condições têm outras determinações, completamente diferentes daquelas
que permitiram dar materialidade ao Estado de Bem Estar Social no período entre
guerras mundiais. De fato, a superação das desigualdades sociais demanda novas
ações político-sociais concretas em bases democráticas sólidas e imediatas.
Ao
invés de reformas estruturais que alarguem a participação democrática e
restabeleçam os programas sociais, a mesma ortodoxia insiste em demonizar os
movimentos dos indignados e tentar reprimi-los com os aparelhos policiais de
última geração.
Da
perspectiva dessa ortodoxia, se o povo não tem pão, que coma brioches. Historicamente,
entretanto, essa mesma insensibilidade já nos mostrou as suas consequências.
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