11.5.09
Educação em crise
O Ministro da Educação, Fernando Haddad, pode até não ser uma opção presidenciável do Presidente Lula, mas convenhamos uma coisa: em seu açodamento reformista trouxe ao debate nacional a atual crise da educação brasileira.
Diversos Estados estão saindo de um profundo sono letárgico para admitir que a coisa está muito mal. O Diário do Nordeste de Fortaleza, em sua edição do dia 10 de maio, estampou com alarde uma discussão sobre a qualidade da educação pública oferecida às crianças e aos jovens cearenses. Para os parlamentares do Ceará "há dois pontos falhos principais: falta de estímulo e remuneração e graves problemas gerenciais das unidades escolares". Mas não apenas isto. É, entretanto, preocupante que justifiquem o desempenho das melhores escolas públicas do Ceará com base na ordem e na disciplina.
No Paraná, o Jornal Paraná Online, edição também do dia 10 de maio, abre espaço para comemorar o desempenho no ENEM da melhor escola particular de Cascável, a qual, segundo seu diretor, conseguiu tal feito graças a uma boa equipe de professores, bem preparada e comprometida com o resultado dos alunos, e às "orientações e cobranças por parte da direção do colégio, que está sempre "em cima" de tudo o que acontece. E, por último, vem o planejamento da vida do aluno".
Estamos com estas lamentações e comemorações chegando a um ponto importante: a crise generalizada na educação nacional é um fato ineludível e, mais importante ainda, a sociedade está considerando-a como um problema que precisa ser resolvido imediatamente.
Esta tomada de consciência social é importante e vital para o salto de qualidade que se pretende.
Contudo, há necessidade de alguns cuidados como por exemplo ir com menos sede ao pote e empreender esforços para não se voltar a velhas fórmulas. A onda conservadora, e batante reacionária, que assolou os sistemas educacionais dos EUA e Inglaterra há pouco tempo atrás não se traduziu necessariamente em melhores desempenhos.
Na Inglaterra "o maior inquérito realizado nos últimos 40 anos sobre o ensino básico concluiu que o controle centralizado das escolas teve um efeito devastador na educação das crianças. As diretivas ministeriais impediram os professores de agir espontaneamente e daí resultou um declínio da qualidade de ensino. Teria sido melhor, concluiu a Universidade de Cambridge, deixar tudo como estava" (Vidas Alternativas, http://va.vidasalternativas.eu/?p=767.
Nos EUA, mesmo com a recente introdução de "vouchers" que permitem aos pais escolherem entre escolas públicas e particulares não tem efeitos significativos. Os estudos de John F. Witte (2001, ver no site http://www.prof2000.pt/users/jmatafer/site_dep_port/quest-pedag/quest_pedag16.htm) sobre o primeiro sistema de "vouchers" nos EUA revelaram não haver diferenças significativas entre os resultados dos alunos do ensino público e do privado. No máximo, encontra-se uma diferença ligeira nos resultados de Matemática. O mesmo já se pode adiantar com relação às Charter Schools (algo semelhante com a iniciativa da Secretária Cláudia Costin de transferir a gestão de algumas escolas públicas para as Organizações Sociais). Os primeiros estudos que nos chegam acerca destas escolas americanas, implantadas a partir de 1991, também não são animadores. A subordinação da gestão da escola a um projeto de educação elaborado pela comunidade de pais, devidamente aprovado e financiado pelo Poder Público por quatro ou cinco anos, muito embora seja incensado como a mais fantástica iniciativa de gerenciamento das escolas, a mais sensacional inovação no sistema de educação americano, não tem se traduzido em desempenhos elevados nos testes padronizados de tipo ENEM. Muito pelo contrário; muitas escolas tiveram resultados bem abaixo das expectativas.
Portanto, ao mais apressados e profetas de soluções mágicas, vale a pena pensar antes de submeter nossas crianças e jovens à sanha dos arrivistas de plantão. Aqui no Brasil muito ajudaria se nossas autoridades abandonassem a retórica demagógica e eleitoreira e assumissem as suas responsabilidades educacionais com seriedade, a começar pelo aumento os investimentos para a educação. O governo federal admite que gasta por ano apenas um mil e quinhentos reais (R$ 1.500,00) por aluno na escola pública, praticamente o valor de uma mensalidade em uma escola de ensino médio de tempo integral. Os alunos das escolas mostradas nas fotas possivelmente nem isto recebem...
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