5.6.09

The Economist.com faz análise da educação brasileira: Pobres escolas do Brasil

Na edição de The Economist.com, do dia 06 de junho de 2009, reconhece-se que Deus é brasileiro, mas que Ele não intervem para melhorar nosso sistema educacional. Reconhece-se também que, apesar de uma economia em crescimento depois de décadas de estagnação, em termos educacionais estamos ainda muito longe de outros países em desenvolvimento e que 45% dos chefes de família pobres têm menos de um ano de escolaridade.
Em São Paulo, Diadema, seu jornalista encontrou uma escola com 2.000 alunos funcionando em três turnos e, para espanto dos leitores, ele responsabiliza o fracasso desta escola apontando o absenteísmo dos professores, a má vontade do Sindicato de aceitar bonus por produtividade, e os enormes gastos com a educação superior (onde são feitas as grandes pesquisas brasileiras).

Em destaque, vejamos a seguir o que The Economist.com nos diz:

"O Brasil padece de absentismo docente. Os professores desfrutam de um "direito" de cinco dias de ausência em um ano sem qualquer aviso ou explicação, mas algumas ausentam-se mais ainda. Nas escolas geridas pelos governos estaduais, 13% de todos os dias letivos foram perdidos devido à ausência professores em 2006. Em um dia ruim em algumas escolas públicas estaduais, o absentismo dos professores pode chegar a 30%.

O Jornalista não discute as razões das ausências dos professores às aulas. Diversos estudos construiram diversas teses a respeito, as quais vão dos baixos salários, burnout, falta de perspectivas na carreira docente etc. Nem tampouco define o que é um dia "ruim". Aqui no Rio há faltas constantes de professores e alunos em função de tiroteios, transformaçâo das escolas em abrigos para flagelados de enchentes etc. A única tese que nenhum estudo sustenta é a da completa falta de responsabilidade e comprometimento dos professores com a educação das crianças e jovens.

Muitos alunos repetem o ano letivo e é grande o índice de crianças que abandonam suas escolas precocemente. Apenas 42% dos jovens com 17 anos têm ensino médio completo. Melhorar a qualidade das escolas requer um aumento significativo na quantidade de dinheiro disponível para cada aluno. Para conseguir isto o Brasil precisa de professores qualificados, que estão em falta. Muitos têm dois ou três diferentes postos de trabalho em diferentes escolas e se queixam de que as condições são intimidatórias e que a remuneração é baixa.

A razão não exposta pelo jornalista: os jovens abandonam suas escolas não necessariamente porque querem ou porque estão desmotivados. Grande parte deles, do sexo masculino principalmente, abandona porque tem de trabalhar, ajudar suas famílias. Por exclusiva malandragem talvez seja pequeno o número de evadidos; mesmo assim é preciso ainda ainda considerar as transferências interescolares.
Neste comentário seu ponto forte é admitir que a melhoria da qualidade das escolas requer um aumento significativo na quantidade de dinheiro disponível para cada aluno. O Próprio Ministro da Educação reconhece que cada aluno-ano custa apenas 1.500 reais, isto é, uma ou duas mensalidades de uma escola particular de qualidade tipo Colégio São Bento no Rio de Janeiro.
É igualmente forte o ponto em que admite a precariedade salarial do professorado público. O salário básico nacional, em maioria, está abaixo de 950 reais/mês. Para um professor sustentar sua família precisa trabalhar em mais de um lugar para atingir pouco mais de 2.500 reais por mês, com frequência trabalhando de 7 horas da manhã às 23 horas indo de uma escola para outra, muitas delas situadas em bairros distantes. Assim, quando chega à sua casa é para dormir, dar alguma atenção à sua família. Preparar aulas, somente quando é verdadeiramente imprescindível, a repetição de conteúdos anteriores está praticamente naturalizada.

São Paulo,um estado particularmente rico, está mal posicionado nos rankings nacionais. As suas instituições que administram a educação estão caóticas, diz Norman Gall do Instituto Braudel de Economia Mundial. Em São Paulo a burocracia estatal tenta administrar 5.000 escolas e 230.000 professores com pouco pessoal e baixos salários.

O jornalista neste comentário deveria se perguntar por que, ou buscar respostas para tal fato considerando que seu governador atual é um candidato potencial à sucessão do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, e que o Presidente anterior é paulista e sociólogo, e pouco fez pela melhoria da educação no Estado. Vale dizer que em sua gestão as "escolas de lata" proliferavam em São Paulo.
O fato de as instituições burocráticas estarem caóticas também admite resposta política. Aliás, poucos são os governadores que efetivamente se preocupam com a qualidade da educação dos futuros cidadãos. Muitos preferem inaugurar grandes e vistosas obras, porque elas garantem votos e vantagens financeiras.

Tal como noutros países, os sindicatos de professores apresentam um enorme obstáculo à melhoria. Quase tudo o que perturba a sua paz resulta em greves. No momento, em São Paulo os professores têm reagido a provas antes de começar a trabalhar para garantir que eles sejam qualificados; no ano passado, eles estiveram em pé de guerra, quando o governo estadual pretendeu reciclá-los a partir de determinado texto padrão.

Nenhum sindicato por natureza é contrário à melhoria da educação. As resistências que apresentam tem a ver com os propósitos político-administrativos dos governantes. No caso que o jornalista apresenta, é clara a luta dos sindicatos contra a desqualificação que os governantes atribuem à formação básica dos professores. Quem disse que o Estado tem competência para reciclar professores? Se a OAB impõe um exame aos jovens advogados é porque pouco pressiona as instituições de formação de novos bachareis em direito, muitas das quais dirigidas por notórios advogados. Ademais a escola não tem as mesmas características das empresas; ela rege-se por uma outra lógica, destituida dos critérios de produtividade das linhas de produção. A escola não produz mercadorias, não pretende uma educação de massa. A escola tem a função social de inserir as novas gerações nas áreas de conhecimentos produzidos histórica e culturalmente.

Em diversos estados há, porém, pequenos sinais de melhora. Dentre tais sinais (a revista The Economist.com) destaca a reintrodução da disciplina nas escolas e nas aulas, o apoio dado às escolas por certas ONGs, OS e outras entidades privadas, assim como a introdução de metas de ensino e manuais de exercícios fornecidos pelo estado".

Esta matéria é interessante e traz um retrato do caos em que se encontra a educação nacional. Não é porém isenta de ideologia favorável à privatização da administração do sistema nacional de educação, exaltação do modelo coreano, liquidação dos sindicatos ou transformação deles em Trade Unions à moda americana e de uma certa crença na capacidade do Governador José Serra resolver esta situação se for eleito à presidência (Que Deus nos proteja dele e do seu partido, o PSDB, que privatizou e desindustrializou este país no octênio FHC!).

O que a Revista propõe como tratamento para o Brasil não tem tido resultados positivos nem nos EUA nem na Inglaterra. A privatização das escolas públicas americanas (Charter Schools)está longe de atingir a qualidade da Finlândia ou mesmo da Coréia, e na Inglaterra os professores reagem às diversas formas de interferência da iniciativa privada na educação pública por causa do engessamento da criatividade deles e do baixo desempenho das escolas privatizadas em testagens mundiais e mesmo nacionais.

Aqui no Brasil a coisa tá preta, mas a saida não é esta, nem a que está sendo proposta pelo Ministro Fernando Haddad apesar dos seus esforços de conseguir mais dinheiro para a educação nacional. Enquanto tivermos escolas como as das fotografias que adicionei abaixo, enquanto o dinheiro estiver longe das salas de aula, enquanto as escolas estiverem lotadas de alunos distribuidos em dois ou mais turnos de aulas, enquanto os salários estiverem nos patamares em que estão, enquanto os sindicatos, as igrejas, os partidos, a OAB, o Ministério Público e outros segmentos da sociedade não considerarem o problema da educação nacional com seriedade, vamos continuar nesta penúria educacional e chegaremos ao bicentenário da independência em níveis abaixo da Finlândia, que aliás aparenta ter boa distribuição de renda.

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