(Entrevista concedida à jornalista Letícia Vieira - Jornal Extra, publicada em 07.07.2010)
Letícia Vieira. A aprovação automática pode ter influenciado esse baixo desempenho da rede estadual no segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio?
ZG - A "aprovação automática" tem sua parcela de responsabilidade, mas não pode ser considerada como causa única. Antes devemos nos questionar acerca das políticas públicas efetivamente voltadas para a melhoria da qualidade da educação a partir das salas de aulas. A SEEDUC-RJ tem feito diversos esforços, mas é grande a convergência deles para o controle do trabalho do professor, controle do aluno etc sem isto se traduza em comprometimento com a qualidade das aulas, dos conteúdos.
LV - A partir dessa análise das escolas estaduais com pior desempenho, qual a relação entre a existência de escolas compartilhadas e as notas baixas no Ideb?
ZG - Não é surpresa que os alunos destas escolas tenham notas baixas no IDEB. Sabemos que as escolas compartilhadas sequer deveriam existir. Elas são precárias e esta precariedade tem influência direta nos níveis de proficiência dos alunos. É uma lástima que ainda existam, apesar de o Governo Estadual ter se comprometido em 2008 a acabar com a existência delas construindo 50 novos prédios escolares com estrutura moderna, salas climatizadas, auditório multimídia, laboratórios, bibliotecas e carteiras moduladas; eles acabariam com 178 escolas compartilhadas. Diversos estudos demonstram que a melhoria das condições físicas dos prédios escolares incidem sobre o desempenho de alunos e professores.
LV - Existe algum outro fator que o senhor acredita que pode ter provocado o baixo desempenho da rede estadual?
ZG - Como já disse, não temos apenas uma determinação para o baixo desempenho da rede estadual. A escola com tempo reduzido, algo em torno de três horas e meia, também é outro fator. Precisamos de políticas que estabeleçam a escola única de tempo integral que seja de cultura geral, humanista e tenha o trabalho como principio formativo. Nossos alunos precisam desenvolver suas capacidades de trabalho intelectual e também de trabalho técnico e industrial.
A situação do professorado também precisa ser melhorada. Suas condições objetivas de trabalho e sobrevivência impedem sua afirmação como profissional mais dedicado à sua profissão. Com professores trabalhando com duas matrículas, fazendo extras (GLP) e atuando em instituições particulares de ensino é impossível pretender atingir as metas propostas de uma hora para outra. Se não houver políticas sérias que promovam uma verdadeira revolução na educação de ensino médio será difícil cumprir as metas propostas e ultrapassá-las.
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