A revista Veja, de 22 de junho de 2010, em reportagem de Roberta Abreu Lima - "Aula Cronometrada" - faz a apologia de um "método científico" que cronometra as aulas e descobre o desperdício de tempo. Segundo a jornalista, os cronômetros trouxeram à tona a monotonia das aulas, os tempos de indisciplina e desatenção dos alunos, o que corresponde a 56 dias perdidos num ano letivo.
Há muitos anos trabalhei numa escola preparatória para o Vestibular que cronometrava o tempo, atribuindo algo em torno de 10 minutos para cada momento da aula: apresentação do tema, motivação, exposição, exercícios e avaliação. 50 minutos cravados. E funcionava?
Claro que sim. O autoritarismo desta divisão do tempo não leva em conta a dialogicidade que precisa haver na relação de ensino. Nós tínhamos um script e o cumpríamos. Mas era como um bolero: dois pra lá, dois pra cá.
Os tecnicistas de plantão desprezam a dialeticidade presente na sala de aula. Alunos e professores, ensinar e aprender, perguntar e responder são pólos de unidades dialéticas e têm seus movimentos com tempos próprios. Desrespeitar esta dialeticidade implica em mecanização do ensino e anulação da interação dialógica.
Muitos behavioristas já teorizaram sobre a efetividade das aulas nestes moldes, propondo máquinas de ensinar, instruções programadas etc. e conseguiram atingir dado nível da instrução, isto é, o domínio de certo nível de conhecimentos sistematizados. Formaram muitos técnicos de qualidade. O Sistema S (Senai, Senac etc) trabalha muito nesta linha.
A apologia e a aplicação deste tecnicismo-com-cronômetro-em-punho não resolvem o problema da educação dos nossos alunos. Educar não é simplesmente instruir. Exige o desenvolvimento onilateral da personalidade, valorização de qualidades humanas, traços de personalidade social e de caráter de acordo com dada concepção de mundo.
Supõe relaçoes sociais durante as aulas pautadas por determinados valores éticos e sociais. A educação não é um fenômeno social asséptico, inodoro e submetido a tempos fixos e regulares.
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Um comentário:
Juro que nunca imaginei que alguém pudesse pensar cronometrar aulas. Cronometramos partidas de futebol - quantos jogadores parados durante tanto tempo - corridas de cavalos - mas nunca vi cronometrar aulas, cirurgias, partidas de xadrez. Penso que o autor do blog foi até bem in tencionado, mas acredito que os que pensam em cronometrar aulas, não apenas não entenderam nada do que ele escreveu como não têm a mínima idéia do que seja educação. Talvez confundam educação com instrução.
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