Ir à escola todos os dias, cumprir os seus horários, assistir às aulas e acompanhar as exposições de conteúdos feitas pelos professores em sala de aula pode ser a coisa mais chata do mundo para muitas crianças e adolescentes. Essa rotina, no entanto, tem a capacidade de criar hábitos e disciplina, coisas difíceis de ser adquiridas solitariamente. No conforto dos lares é quase impossível adquirir a disciplina necessária para um programa de estudos. São poucas as pessoas autodisciplinadas e os pais que conseguem que os seus filhos sejam disciplinados para os estudos.
Muitos já escreveram sobre isto. Grande quantidade de pesquisadores veem a escola como a instituição intermediária entre a família e a sociedade, de grande importância quando a autoridade paterna ou materna passa a ser contestada pelos adolescentes. Os professores, com o mandato pedagógico que recebem da sociedade, substituem-nos e são capazes de conseguir bons resultados a despeito de todas as críticas que lhes podem ser feitas.
A centralidade da rotina escolar na vida das crianças e adolescentes é capaz de controlar desde os seus tempos livres diários às férias e finais de semana. Se há atrasos nas tarefas escolares, os tempos livres são diminuídos colocando-se em risco até as férias.
E por que estou falando isto?
Porque há quem recomende para as crianças e jovens as suas matrículas em cursos à distância de educação fundamental e média, com o uso de tecnologias de informação, desobrigando-os de ir às escolas diariamente. De um lado, apostam em maior efetividade de aprendizagem à luz das críticas feitas às escolas brasileiras e, de outro, na economia que o estado poderá fazer com professores, merendas, transporte etc. Eles partem de um principio bastante discutível segundo o qual as famílias contemporâneas são capazes de estar disponíveis da mesma forma que os professores; minimamente fixam pais ou mães, ou os dois, como preceptoras dos seus filhos sem considerar os seus afazeres nas fábricas, escritórios etc. Também supõem que as famílias podem garantir boas condições de recepção de conteúdos pela internet, máquinas possantes, atualizadas e com boa velocidade de downloads e uploads.
Minha experiência em educação a distância, com estudantes de graduação, me situa na contramão dessas recomendações, a começar pela diferenciação social que a recepção do sinal de internet estabelece a partir da capacidade financeira de garantir as condições de recepção dos conteúdos, para tanto precisam comprar os planos mais caros para ter os maiores e melhores streamamings (You Tube, filmes de longa metragem, transmissões online...). Os estudantes que moram em pequenos municípios e nas áreas rurais eram os mais excluídos, sofrendo com interrupções constantes de luz elétrica, dificuldades de assistência técnica e ausência de sinais fortes garantidos pelas operadoras. As desistências são grandes, havendo turmas com mais de 60% de abandono, dada a falta de disciplina para acompanhar os planos de estudo, assim como as interferências de caráter social características da vida em família que impõem interrupções não desejadas. Ou seja, para que a educação a distância seja realmente possível torna-se imperativo a garantia de qualidade para todos, a inclusão de todos como valor universal. A questão da disciplina de cada um para acompanhar os planos de estudo, sinceramente, não sei como poderá resolvida.
O que sei é que não se pode agir pragmaticamente e de forma a economizar na educação das futuras gerações. Os fins idealizados por arrivistas políticos constituem um perigo danoso para a sociedade, porque quase sempre são hipotéticos, destituídos de meios adequados e éticos. Ao invés de garantirem a educação de qualidade referenciada socialmente nas escolas que temos e que precisam de ser bem cuidadas, retiram das suas cartolas soluções mágicas que rendem votos e iludem a sociedade.
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