Desde sempre é difícil
ser professor em qualquer nível ou modalidade de educação, nunca foi fácil.
Sempre estivemos pressionados pelos saberes que os estudantes adquirem fora da
escola. Nestes dias sombrios de ameaças físicas e simbólicas as nossas dificuldades
aumentam e nos levam a muitas indagações, a começar por aquelas que nascem
diante da massa de homens massa de ultradireita e esquerda que ameaça a nossa
frágil democracia. A maioria passou por nossas classes escolares e hoje nos ameaça com a escola sem partido, com a militarização das
escolas, banimento de livros contrários às suas ideias e até nos agridem
fisicamente. Trata-nos a todos como subversivos como se isto fosse verdade e
nos acusam de querermos pintar de vermelho a nossa bandeira, transformar o
Brasil numa nova Cuba ou Venezuela.
Vivemos tempos de uma
irracionalidade cruel que sequer percebe a contradição das suas afirmações:
sempre acusou a escola de ser reprodutora do modo de viver, pensar e ser da
classe dominante e agora vem a público nos acusar de ideologizadores do
comunismo e da crise de valores que a sociedade atravessa. Teríamos nos
libertado das estruturas autoritárias do sistema escolar que impõe os
currículos, conteúdos, livros, procedimentos didáticos e controles pedagógicos e
administrativos? Que poder é esse que atribuem a nós professores? Fizemos uma
revolução sem nos darmos conta dela?
Não, não somos os professores os
responsáveis exclusivos pela libertação dessa massa de homens ignaros que
picham igrejas, tatuam suásticas a canivete, perseguem negros e homossexuais,
matam indígenas, hostilizam imigrantes, espancam, assassinam mulheres e agridem
os seus opositores políticos. É preciso que a sociedade volte os seus olhos
críticos para as demais agências educativas: famílias; igrejas; quarteis e
hospitais; jornais e televisão; sindicatos, movimentos e organizações sociais;
empresas públicas e privadas e se pergunte que tipo de educação têm
oferecido.
Apenas responsabilizar os
professores é fácil e se manter cego à totalidade do problema é de uma miopia
sem tamanho.
A sociedade é que não está sendo
educadora como deveria. É ela que não consolida e aprofunda os saberes
adquiridos nas escolas, que não exige mediações importantes diante da realidade
concreta. É ela que mercantiliza e empobrece a música, o cinema, as colunas de
jornais, o teatro, os cultos religiosos, a ordem unida, as assembleias, as
reuniões corporativas, as conversas familiares, os simples saraus e tertúlias
nas praças.
Nós, os professores, não temos tamanha capacidade e abrangência.
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