15.10.18

Cadê a Sociedade Educadora?


Desde sempre é difícil ser professor em qualquer nível ou modalidade de educação, nunca foi fácil. Sempre estivemos pressionados pelos saberes que os estudantes adquirem fora da escola. Nestes dias sombrios de ameaças físicas e simbólicas as nossas dificuldades aumentam e nos levam a muitas indagações, a começar por aquelas que nascem diante da massa de homens massa de ultradireita e esquerda que ameaça a nossa frágil democracia. A maioria passou por nossas classes escolares e hoje nos ameaça com a escola sem partido, com a militarização das escolas, banimento de livros contrários às suas ideias e até nos agridem fisicamente. Trata-nos a todos como subversivos como se isto fosse verdade e nos acusam de querermos pintar de vermelho a nossa bandeira, transformar o Brasil numa nova Cuba ou Venezuela. 

 Vivemos tempos de uma irracionalidade cruel que sequer percebe a contradição das suas afirmações: sempre acusou a escola de ser reprodutora do modo de viver, pensar e ser da classe dominante e agora vem a público nos acusar de ideologizadores do comunismo e da crise de valores que a sociedade atravessa. Teríamos nos libertado das estruturas autoritárias do sistema escolar que impõe os currículos, conteúdos, livros, procedimentos didáticos e controles pedagógicos e administrativos? Que poder é esse que atribuem a nós professores? Fizemos uma revolução sem nos darmos conta dela?

 Não, não somos os professores os responsáveis exclusivos pela libertação dessa massa de homens ignaros que picham igrejas, tatuam suásticas a canivete, perseguem negros e homossexuais, matam indígenas, hostilizam imigrantes, espancam, assassinam mulheres e agridem os seus opositores políticos. É preciso que a sociedade volte os seus olhos críticos para as demais agências educativas: famílias; igrejas; quarteis e hospitais; jornais e televisão; sindicatos, movimentos e organizações sociais; empresas públicas e privadas e se pergunte que tipo de educação têm oferecido. 
Apenas responsabilizar os professores é fácil e se manter cego à totalidade do problema é de uma miopia sem tamanho. 

A sociedade é que não está sendo educadora como deveria. É ela que não consolida e aprofunda os saberes adquiridos nas escolas, que não exige mediações importantes diante da realidade concreta. É ela que mercantiliza e empobrece a música, o cinema, as colunas de jornais, o teatro, os cultos religiosos, a ordem unida, as assembleias, as reuniões corporativas, as conversas familiares, os simples saraus e tertúlias nas praças.


Nós, os professores, não temos tamanha capacidade e abrangência.

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