19.4.20

Qual pizza prefiro: assada em forno elétrico ou a lenha?

Tem me chamado a atenção o modo como alguns países e cidades conseguem oferecer educação de qualidade com referência social para todos. E estou me referindo à Finlândia, Polônia e Sobral, aqui no Ceará. São três fórmulas diferentes, com alguma coisa em comum.
Os elementos comuns das reformas que realizaram a partir dos anos 1980 - apuro da gestão escolar, qualificação do professorado, reformas curriculares etc. - são os mais aparentes, isto é, aqueles que podem ser identificados de imediato. As diferenças começam a ser identificadas quando investigamos os objetivos das reformas e nos perguntamos quais os seus objetivos últimos, que tipos de resultados a obter?
Para mim a diferença básica é relativa aos processos. A Polônia e a cidade de Sobral fizeram as suas apostas e definiram métodos e estratégias racionais adequadas de curto prazo. Quando analiso as duas experiências sou remetido à cibernética usada pela NASA ou pela Agência Espacial Brasileira para colocar em órbita os seus artefatos espaciais. A cibernética, como campo de estudo da Física, desenvolve teorias de controle e de sistemas, juntamente com outras disciplinas, permite que os cientistas guiem os seus artefatos corrigindo os seus desvios até atingir, quase cirurgicamente, os seus alvos. O controle sobre eles em suas rotas é quase total.
A utilização de princípios cibernéticos na administração de sistemas educacionais produz resultados semelhantes e tais princípios, fora do campo da Física, conformam a gestão de qualidade com a qual operam a Polônia e a cidade de Sobral. Ambas se serviram deles para  evitar evasões, desvios de fluxo, fracassos etc. Desenvolveram meios para atingir o sucesso e conseguiram. A Polônia que até os anos 1990 tinha um péssimo oferecimento de educação de qualidade já aparece no Top 10 do ranking promovido pela OCDE após a aplicação da bateria de testes do PISA e, Sobral, com a mesma aplicação é disparada o melhor IDEB do Brasil, 9.1, o que a coloca numa posição mundial invejável. Esta administração do sistema educacional com vistas ao sucesso - medido pelo desempenho de estudantes em testes padronizados - satisfaz as autoridades educacionais e até permitem as suas reeleições e a continuidade dos seus partidos no topo da vida política nacional.
A concepção de sucesso presente na reforma educacional da Finlândia não é o alto desempenho em testes padronizados. Para os finlandeses tal desempenho não é o fim, mas efeito colateral de uma educação sólida ao longo de todo o percurso básico. Suas formas de controle são outras e, às vezes, com resultados inesperados. Privilegia-se o aprofundamento dos estudos em bases científicas desde a educação infantil, as leituras dos grandes autores e o contato com os teoremas de ouro das ciências exatas. Seus professores são incentivados a aprofundar os seus estudos, seja no campo específico de sua disciplina, seja no campo de sua área de interesse. Todos têm autonomia curricular, teórica e metodológica para provocar mediações superiores em seus alunos, exigir que desenvolvam os seus potenciais e revelem com criatividade ou inovação novos modos de compreender fenômenos. As crianças e jovens suômis fazem pouquíssimas provas ao longo da escolaridade básica, no máximo duas, mas, em contrapartida, são exigidos a se desdobrarem em pesquisas, produção de relatórios, demonstrações, debates etc.
Como podem observar, não há somente uma via para a conquista do sucesso educacional, aqui estou colocando em evidência uma horizontal, utilizada pela Polônia e Sobral, e uma vertical. Também estou afirmando que ambas são viáveis e produzem resultados esperados.
Porém, preciso advertir: os resultados tem diferentes durações e agregam maior valor de uso e troca aos estudantes. Os poloneses e sobralenses podem estar obtendo os seus certificados de conclusão da educação básica com mais destreza na resolução de testes padronizados e até das mais elevada nota nas redações de tais exames, mas fica a dúvida relativas à capacidade deles de demonstrar determinados teoremas, resolver problemas de grande complexidade, apresentar soluções criativas e inovadoras, como os alunos da Finlândia que se preparam para se inserirem em um mundo de alta complexidade e velozes transformações.
Neste momento me vem à mente o motorista que transita em alta velocidade nas rodovias de última geração, chega ao seu destino com segurança mas é incapaz de expressar qualquer comentário sobre a paisagem por onde esteve a muitos quilômetros por hora, e aquele outro que foi incapaz de voar em um bólido de muitos cavalos, mas que usufruiu a paisagem, aprendeu com ela, tornou-se outro em sua viagem.
Eu como gosto de viajar apreciando as paisagens e do sabor da pizza e feijoada de fogão a lenha, já defini a minha preferência. Fico com o sistema educacional da Finlândia.





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