SENADOR QUER HORÁRIO INTEGRAL NAS ESCOLAS
Jornalista Alessandra Novaes. Edição da FD de 25 de fevereiro e 3 de março de 2010/Caderno Educação
"O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) pediu ao governo federal que assuma um papel central no processo de construção de um sistema educacional de qualidade. Ele considerou que estados e municípios já fazem mais do que efetivamente podem. Ele afirmou ainda que está mais do que provado que a educação integral é o caminho natural e insubstituível para a construção da cidadania e para alicerçar o desenvolvimento nacional.
Raupp, ao falar dos custos que isso geraria, também disse que "não há como utilizar os custos de um sistema educacional como desculpa". Ele lembrou que todos os países vitoriosos investiram em educação e que esse tipo de gasto trata-se de escolha política. Ele defendeu a necessidade de universalizar a educação "básica de qualidade imediatamente".
Para alcançar o objetivo, ele sugeriu "um pacto nacional". “Na prática, isso se traduziria por durante duas décadas, os três entes públicos (união, estado e município) assumissem tarefas, encargos e responsabilidades para que a educação dê o salto que precisa". Em aparte, o senador Adelmir Santana (DEM-DF) avaliou que a escola em tempo integral não é boa apenas para retirar as crianças da rua, mas também por oferecer ao aluno a oportunidade de ele rever conteúdos programáticos".
Fonte: Agência Senado.
AN - Você concorda com essa idéia do senador Raupp? Por que?
Zacarias Gama - A idéia de um “pacto nacional” pela educação de qualidade é importante e deve ser empreendido não só porque envolve toda a sociedade na busca de solução, mas sobretudo porque pode viabilizar a educação que queremos. Sua formulação no entanto precisa ser amplamente discutida com a sociedade. Os açodamentos contudo devem ser evitados porque podem situar a educação totalmente a reboque de interesses imediatistas ditados pelo mercado, totalmente contrários a uma escola pública, entendida como escola para o povo, que pode e deve existir para a promoção do ser humano, não apenas para escolarizar mediocremente ou simplesmente qualificar um futuro operário. Apenas escolarizar ou qualificar um operário significa fixar e cristalizar as pessoas nas condições sociais em que nasceram, restringindo cada vez mais as camadas sociais dirigentes e beneficiárias da riqueza produzida por todos.
AN- O horário integral é a melhor solução para a educação? Como este "tempo a mais" deveria ser empregado?
ZG - A escola de tempo integral é um passo importante, mas não basta apenas que sejam de tempo integral. Precisamos de uma escola única de tempo integral que seja de cultura geral, humanista e tenha o trabalho como principio formativo. Nossos alunos precisam desenvolver suas capacidades de trabalho intelectual e também de trabalho técnico e industrial.
AN - A "federalização" será uma boa saída em qualquer situação?
ZG - A federalização da educação nacional, como política de estado, é uma boa saída, mas não acredito que o seja em qualquer situação. Mas é fato que hoje, objetivamente falando, as escolas públicas federais de qualquer nível estão em melhor situação que as escolas administradas por outros entes da Federação, inclusive em relação às escolas particulares. A Federação tem dado demonstrações de que cuida melhor da educação pública que os Estados e Municípios.
AN - O prazo de duas décadas seria suficiente para alavancar a educação de qualidade?
ZG - Acredito que sim. Mas é possível que em uma década possa ser dado o salto de qualidade. A década seguinte poderia ser usada para consolidação e aperfeiçoamentos.
AN - Além de tirar as crianças das ruas, ao adotar o ensino em horário integral, que benefícios a medida traria? Há prejuízos envolvidos?
ZG - Essa idéia de escola como “depósito de crianças” deve ser banida de um projeto sério por uma escola de qualidade. O que deve nortear um pacto pela educação de qualidade deve ser a construção de uma escola única e pública dotada de condições concretas para eliminar de imediato os privilégios e o elitismo que ainda existem, do tipo escolas para pobres e escolas para ricos, para trabalhadores braçais e trabalhadores intelectuais. Não vejo prejuízos envolvidos na criação de um projeto de escola e educação que beneficie igualmente a todos os alunos, sem distinção de classe social.
AN - Considerando que o projeto fosse aprovado e implementado. Com relação à carreira do magistério, o que deveria ser modificado para que o compromisso de alcançar a tão sonhada educação de qualidade se tornasse uma realidade?
ZG - O magistério público estadual e municipal vive um descaso impressionante com elevados índices de exonerações, licença, absenteísmo, falta de perspectivas de futuro na carreira etc. que o situa muito inferiormente ao magistério público federal. Acredito que tal pacto deveria também incluir, como ponto de partida para a valorização do magistério, um regime único de plano de carreira e salários igual ao dos professores do sistema federal de ensino.
AN - A melhoria da educação depende apenas da mudança de gestão? Que outros fatores estariam envolvidos?
ZG - Nos últimos anos o que mais se fez foi mudança de gestão da escola pública, cada Governador ou Prefeito querendo inscrever sua concepção de escola e educação, chegando a formas de controle humilhantes e típicas do mundo empresarial que tanto liquidam a autonomia das escolas e docentes, como sobretudo engessam a subjetividade criativa dos professores. Não obstante todos os controles existentes, sobressaindo agora com programas informatizados, eles não têm melhorado a qualidade da educação nas bases pretendidas com seriedade. Penso que novas mudanças de gestão devem se voltar para a gestão pedagógica de modo a superar o espontaneismo e as diferenças produzidas pela sociedade de classes. Antes de serem simplesmente ativas, no sentido de muita atividade característica do ativismo reprodutor do status quo, nossas escolas devem primar pelos métodos de investigação e conhecimento que, necessariamente, não desembocam na produção de inovação e originalidade a qualquer custo.
AN - Do ponto de vista financeiro, você considera esta uma medida viável?
ZG - O financiamento da educação é viável e está previsto no Art. 212 da Constituição Federal: “a União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”. Observe-se que todo este montante destina-se ao desenvolvimento do ensino, e, no entanto, o ensino tem sido o primo pobre na hora da distribuição. Há muitas transferências inclusive para financiar a sobrevivência de escolas particulares, programas de bolsas de estudo que beneficiam outras instituições educacionais, maquiagens contábeis que desviam dinheiro da finalidade constitucional etc. Um pacto nacional pela educação precisa atentar para tudo isto e corrigir as distorções.
25.2.10
20.2.10
Alunos que marcam - Publicado no Blog "Rio Acima" do Jornal do Brasil
O Jornalista Marcelo Migliaccio fez uma homenagem aos Professores no dia 15 de outubro de 2009. Fiquei deveras surpreso e lisongeado com a homenagem que prestou a alguns dos seus professores, citando entre eles o meu nome.
Ao mesmo tempo sua homenagem me mostrou o tamanho da responsabilidade de um professor: como nós marcamos a vida de alguém. No caso, fui seu professor, entre 1976/1977 no Colégio São Vicente, professor de uma criança com seus 13 ou 14 anos.
Troquei com ele a seguinte correspondência:
Zacarias Gama enviou em 18/02/2010 as 00:12:
Prezado Marcelo Todo professor tem uma galeria de alunos que sempre são lembrados por diversas razões. Na minha estão você e o Jozemar que lhe escreveu querendo confirmar se vc se referia a mim. Fui professor de ambos no ensino fundamental: de você na 7a. série e do Jozemar na 5a. série no Colégio Pio Americano em São Cristovão. Sua fisionomia pouco mudou, vejo pelo retrato. A do Jozemar também deve ter mudado pouco. Só não só capaz de reconhecê-lo porque não nos vemos há muito tempo, bota tempo nisto! Ainda não me aposentei, continuo na lida com muita disposição, agora trabalhando com alunos de pós-graduação stricto sensu do Programa de Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da Uerj. Sempre que vejo seu pai na TV, sua imagem me vem à mente. Fico feliz que tenha se lembrado de mim e me prestado esta homenagem que me deixou muito sensibilizado.
Migliaccio enviou em 18/02/2010 as 09:30:
Zacarias, as duas melhores coisas de ter um blog são podermos fazer justiça com pessoas que foram importantes para nós e quem sabe ter notícias delas. Fiquei muito emocionado quando vi sua mensagem, porque desde o momento em que escrevi o texto tive esperança de que você um dia lesse. Algumas das mais deliciosas aulas que tive foram dadas por você no São Vicente. Fico feliz por saber que continua na ativa, ajudando tanta gente a crescer com seu talento. Lembro que você usava um adesivo no vidro de trás do seu Passat escrito "Hei de vencer, mesmo sendo professor". Não há dúvidas de que você venceu, com muitos méritos, o maior deles é estar para sempre no coração de seus alunos. Um abração.
Ao mesmo tempo sua homenagem me mostrou o tamanho da responsabilidade de um professor: como nós marcamos a vida de alguém. No caso, fui seu professor, entre 1976/1977 no Colégio São Vicente, professor de uma criança com seus 13 ou 14 anos.
Troquei com ele a seguinte correspondência:
Zacarias Gama enviou em 18/02/2010 as 00:12:
Prezado Marcelo Todo professor tem uma galeria de alunos que sempre são lembrados por diversas razões. Na minha estão você e o Jozemar que lhe escreveu querendo confirmar se vc se referia a mim. Fui professor de ambos no ensino fundamental: de você na 7a. série e do Jozemar na 5a. série no Colégio Pio Americano em São Cristovão. Sua fisionomia pouco mudou, vejo pelo retrato. A do Jozemar também deve ter mudado pouco. Só não só capaz de reconhecê-lo porque não nos vemos há muito tempo, bota tempo nisto! Ainda não me aposentei, continuo na lida com muita disposição, agora trabalhando com alunos de pós-graduação stricto sensu do Programa de Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da Uerj. Sempre que vejo seu pai na TV, sua imagem me vem à mente. Fico feliz que tenha se lembrado de mim e me prestado esta homenagem que me deixou muito sensibilizado.
Migliaccio enviou em 18/02/2010 as 09:30:
Zacarias, as duas melhores coisas de ter um blog são podermos fazer justiça com pessoas que foram importantes para nós e quem sabe ter notícias delas. Fiquei muito emocionado quando vi sua mensagem, porque desde o momento em que escrevi o texto tive esperança de que você um dia lesse. Algumas das mais deliciosas aulas que tive foram dadas por você no São Vicente. Fico feliz por saber que continua na ativa, ajudando tanta gente a crescer com seu talento. Lembro que você usava um adesivo no vidro de trás do seu Passat escrito "Hei de vencer, mesmo sendo professor". Não há dúvidas de que você venceu, com muitos méritos, o maior deles é estar para sempre no coração de seus alunos. Um abração.
7.2.10
A crise do magistério
Apenas 2% dos jovens brasileiros pretendem ser professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, segundo pesquisa da Fundação Carlos Chagas, e esses 2% são os alunos de piores notas. Os dados da pesquisa estão publicados na revista Veja de 6 de fevereiro de 2010.
Segundo a pesquisa o "curso de pedagogia é pouco disputado e significa, para a imensa maioria dos estudantes, a única porta de entrada possível para o ensino superior - e não uma carreira de que realmente gostam. Conclui a especialista Bernardete Gatti, coordenadora da pesquisa: "Sem atrair as melhores cabeças para as faculdades de pedagogia, o Brasil jamais conseguirá deixar as últimas colocações nos rankings de ensino".
Em 1995 participei de uma pesquisa encomendada pelo CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e o cenário de futuro já era pavoroso. Poucos pretendiam o magistério, incluindo as Licenciaturas, e de cada 10 que chegavam ao magistério somente 3 permaneciam nos primeiros cinco anos.
Este drama não é exclusivo do Brasil. Em todos os países onde a valorização do magistério está em processo decadente, o mesmo fenômeno se repete. Na Alemanha a crise de professores é tão grande que já começaram a admitir professores do Leste Europeu para a alfabetização das crianças alemãs.
Quando chegarmos a esse ponto, de onde vamos atrair professores? Da África? Haití? Paraguai?
Segundo a pesquisa o "curso de pedagogia é pouco disputado e significa, para a imensa maioria dos estudantes, a única porta de entrada possível para o ensino superior - e não uma carreira de que realmente gostam. Conclui a especialista Bernardete Gatti, coordenadora da pesquisa: "Sem atrair as melhores cabeças para as faculdades de pedagogia, o Brasil jamais conseguirá deixar as últimas colocações nos rankings de ensino".
Em 1995 participei de uma pesquisa encomendada pelo CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e o cenário de futuro já era pavoroso. Poucos pretendiam o magistério, incluindo as Licenciaturas, e de cada 10 que chegavam ao magistério somente 3 permaneciam nos primeiros cinco anos.
Este drama não é exclusivo do Brasil. Em todos os países onde a valorização do magistério está em processo decadente, o mesmo fenômeno se repete. Na Alemanha a crise de professores é tão grande que já começaram a admitir professores do Leste Europeu para a alfabetização das crianças alemãs.
Quando chegarmos a esse ponto, de onde vamos atrair professores? Da África? Haití? Paraguai?
6.2.10
Espaços integrados de educação superior e mobilidade acadêmica - com qual propósito?
Em postagem anterior comentei os esforços no sentido de criar espaços integrados de educação superior na União Européia, América Latina e Brasil. Ainda não tinha certeza dos avanços concretos realizados no território nacional em termos de educação superior. Mas o fato é que já estamos muito além do que supunha. Sem falar no novo ENEM que tenta reeditar o vestibular unificado para as universidades brasileiras e impõe a prática da mobilidade acadêmica aos estudantes, duas ações concretas merecem destaque: o programa de mobilidade acadêmica Andifes (Associação Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior) e a deliberação do consórcio CEDERJ (Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro.
A Deliberação do CEDERJ se constitui como uma ação inovadora porquanto integra a educação online semipresencial com a educação presencial oferecida pelas universidades consorciadas ao CEDERJ (UFRJ, UFFRJ, UFF, UERJ e UENF). Os alunos dos cursos presenciais poderão fazer disciplinas em regime online semipresencial, e os alunos matriculados em curso online semipresenciais poderão cursar disciplinas presenciais onde sejam oferecidas.
Não tenho a pretensão de negar a importância de integrar modalidades de ensino e as instituições públicas de ensino de educação superior no Estado do Rio de Janeiro e também no Brasil. Para mim está claro que a integração e a mobilidade acadêmica podem constituirem-se em fabulosos espaços de desenvolvimento do conhecimento e de comunicação desinteressada para além do pragmatismo gerencial-mercantil. O que me preocupa então é a possibilidade de estar contido nesses processos o objetivo mercantil de reduzir custos, abrindo-se mão de mais meios, recursos e professores bem preparados e entregues ao ensino, pesquisa e extensão, e de alunos desejosos de saber.
Será uma lástima tudo isso se objetivar com redução de custos e quadros de funcionários em nome da produção de melhores indicadores de produtividade que somente beneficiam a realização do capital.
A Deliberação do CEDERJ se constitui como uma ação inovadora porquanto integra a educação online semipresencial com a educação presencial oferecida pelas universidades consorciadas ao CEDERJ (UFRJ, UFFRJ, UFF, UERJ e UENF). Os alunos dos cursos presenciais poderão fazer disciplinas em regime online semipresencial, e os alunos matriculados em curso online semipresenciais poderão cursar disciplinas presenciais onde sejam oferecidas.
Não tenho a pretensão de negar a importância de integrar modalidades de ensino e as instituições públicas de ensino de educação superior no Estado do Rio de Janeiro e também no Brasil. Para mim está claro que a integração e a mobilidade acadêmica podem constituirem-se em fabulosos espaços de desenvolvimento do conhecimento e de comunicação desinteressada para além do pragmatismo gerencial-mercantil. O que me preocupa então é a possibilidade de estar contido nesses processos o objetivo mercantil de reduzir custos, abrindo-se mão de mais meios, recursos e professores bem preparados e entregues ao ensino, pesquisa e extensão, e de alunos desejosos de saber.
Será uma lástima tudo isso se objetivar com redução de custos e quadros de funcionários em nome da produção de melhores indicadores de produtividade que somente beneficiam a realização do capital.
23.12.09
Universidade de Integração Latino-americana (UNILA)
O Brasil acaba de criar uma nova universidade, com sede em Foz do Iguaçu, Paraná. Sua proposta é a de integrar países de lingua portuguesa e espanhola. Por incrivel que pareça a criação dessa univeridade me preocupa. Estaria o país caminhando para constituir um espaço latino-americano de educação superior, com mobilidade de alunos, professores e funcionários e unificação da gestão universitária, semelhante ao Espaço Europeu de Educação Superior?
Lá na Europa muitos estudantes e professores estão protestando fortemente contra a medida. Apenas Portugal parece ser o país mais concordante. A União Européia, a despeito da importância e tradição das diversas universidades, submete todas à lógica administrativo-gerencial, impõe critérios únicos de avaliação, enfim, reduz todas a um só sistema universitário. Põe fim à democracia das universidades e institui o regime total. Parafraseando Mussolini: a UE, do alto de seu Parlamento, ao saber o que uma universidade faz, saberá o que todas estão fazendo. O totalitarismo uniformizador é reducionista porque não pode viver com as diferenças.
Será que estamos caminhando na América Latina para o mesmo totalitarismo universitário?
Os projetos e tratados do Mercosul Educativo e da Unasul têm indicativos de sinais positivos.
Lá na Europa muitos estudantes e professores estão protestando fortemente contra a medida. Apenas Portugal parece ser o país mais concordante. A União Européia, a despeito da importância e tradição das diversas universidades, submete todas à lógica administrativo-gerencial, impõe critérios únicos de avaliação, enfim, reduz todas a um só sistema universitário. Põe fim à democracia das universidades e institui o regime total. Parafraseando Mussolini: a UE, do alto de seu Parlamento, ao saber o que uma universidade faz, saberá o que todas estão fazendo. O totalitarismo uniformizador é reducionista porque não pode viver com as diferenças.
Será que estamos caminhando na América Latina para o mesmo totalitarismo universitário?
Os projetos e tratados do Mercosul Educativo e da Unasul têm indicativos de sinais positivos.
6.12.09
Sociedade do controle
A Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, antes de estar a serviço da Pedagogia e da educação de qualidade, está prestando o melhor serviço para a consolidação da sociedade do controle. Seu projeto Conexão Educação parece ter saido das páginas do livro "1984" de George Orwell. Cada aluno recebeu um cartão que lhe permite viajar de ônibus, merendar, entrar na sala e marcar sua presença em cada aula que tiver num dia letivo. Os professores, por sua vez, também estão controlados. Em cada aula de um dia, precisa abrir a Conexão em um computador instalado em sua mesa de trabalho, inserir todos os seus dados de identificação, permitir a cada aluno registrar sua presença e, ufa, lançar o conteúdo dado (se não fizer tudo isso, é como se não tivesse dado aula; o sistema registra que o professor não compareceu à aula).
É preciso controle sim, mas não com tanta perda de tempo para a aula. Os procedimentos necessários tomam de 15 a 20 minutos de cada aula de 50 minutos. Considerando a pontualidade brasileira, os alunos estão tendo aulas com tempos cada vez mais encolhidos. Um pequeno atraso do professor ou qualquer lentidão da conexão pode reduzir uma aula para miseráveis 20 minutos ou menos.
Será que a Sra. Secretária Teresa Porto está sabendo disso? Acredito que sim, mas seu tecnicismo deve estar se sentido glorioso. Tudo está sob controle.
Mas o que o Ministério Público pensaria disso? Se o MP soubesse disso, garanto que não haveria de concordar.
É preciso controle sim, mas não com tanta perda de tempo para a aula. Os procedimentos necessários tomam de 15 a 20 minutos de cada aula de 50 minutos. Considerando a pontualidade brasileira, os alunos estão tendo aulas com tempos cada vez mais encolhidos. Um pequeno atraso do professor ou qualquer lentidão da conexão pode reduzir uma aula para miseráveis 20 minutos ou menos.
Será que a Sra. Secretária Teresa Porto está sabendo disso? Acredito que sim, mas seu tecnicismo deve estar se sentido glorioso. Tudo está sob controle.
Mas o que o Ministério Público pensaria disso? Se o MP soubesse disso, garanto que não haveria de concordar.
23.8.09
13/08/2009 - Folha Dirigida
Os desafios da EAD
Por Paulo Chico
Os números preliminares do AbraEAD 2008 (Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância) revelam que, em apenas dois anos, praticamente dobrou o número de alunos de graduação na EAD. Dos 397 mil matriculados em 2007, o Brasil saltou para 761 mil estudantes em cursos na modalidade no ano passado. Tal dado revela que, mais que simples moda, a tendência de crescimento veio para ficar. Por isso, também aumentam as preocupações com os rumos dessa evolução. Estará a quantidade devidamente acompanhada da qualidade? A avaliação do conhecimento adquirido pelos alunos ainda alimenta boa parte da dose de preconceito e desconfiança que pesa sobre a EAD. Um dos fundadores do Cederj, consórcio que reúne as universidades públicas do Rio na oferta de cursos semi-presenciais, o professor Zacarias Gama tem seu foco de ação voltado justamente para o processo de aferir o aprendizado. Na verdade, é avaliador de educação a distância do Ministério da Educação, missão que o leva a visitar instituições espalhadas por todo o país.
Nessas viagens, se depara com muitas experiências interessantes no campo da EAD. E, é evidente, algumas outras más, que tanto colocam em xeque a seriedade da modalidade de ensino. Mesmo dentro de seu local de trabalho, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), nem todos apostam na eficiência dessa prática de ensino. "Aqui na universidade temos professores doutores extremamente resistentes à educação a distância. Eles têm lá as suas razões, mas também têm um grande desconhecimento de como a coisa se dá na prática. Executada de forma responsável e planejada, a EAD se revela uma modalidade não apenas viável, mas de bastante credibilidade", conclui ele, que é formado em História, além de mestre e doutor em Educação.
Folha Dirigida - O ponto mais nebuloso da educação a distância é mesmo a avaliação. Há o que temer quanto a eficácia e seriedade deste processo? No que se difere, ou deveria se diferenciar, a avaliação de um estudante matriculado em curso presencial de outro que estuda na modalidade EAD?
Zacarias Gama - Inicialmente não tem muita diferença, não. Pelo contrário, está havendo uma defasagem grande entre a avaliação a distância e a avaliação presencial. Eu diria que, na avaliação presencial, há um determinado avanço. No modelo a distância ela sofre algumas limitações do próprio computador. As pessoas às vezes não sabem usar todos os recursos, todas as ferramentas. Há uma tendência grande de se reproduzir algumas avaliações quantitativas, típicas de salas de aula, via EAD. Há muita coisa boa dos referenciais positivistas, tecnicistas. O subjetivismo também tem seu valor, as provas abertas, redações, dissertações são ótimas. Mas é preciso verificar qual concepção de mundo está sendo trabalhada. A questão não está no instrumental, e sim na teoria. A escola, sobretudo voltada para as classes populares, precisa trazer critérios que permitam a sua leitura particular de mundo. Se ela for burguesa, pode usar qualquer instrumento, para manter o sistema. Gostaria que as avaliações sempre permitissem a objetividade da classe popular. Tenho essa utopia.
Então, é preciso, antes do modelo em si, repensar o papel da avaliação?
Precisamos discutir a avaliação da perspectiva da classe dominada. Ainda temos um modelo que é referendar certos valores e conhecimentos da classe dominante. Avaliar é qualificar os conhecimentos aprendidos pelo aluno, mas é sempre no sentido da reprodução de quadros já existentes. Seria interessante se as escolas estivessem mais preocupadas com um entendimento melhor da avaliação. Isso vai depender da opção que o professor faça.
Quais cuidados o professor deve ter neste processo?
Essa avaliação na EAD deve ser mais próxima, muito processual, feita à miúde. No presencial, tendo conhecimento físico do meu aluno, eu disponho de mais critérios que me levem a ter mais ou menos credibilidade em relação a ele. Se ele está atento ou disperso, sua expressão facial, seu comportamento... Tudo isso me dá informações, pistas, sobre quem ele é. No modelo a distância, o professor deve tomar alguns cuidados, como estar mais ligado na construção do instrumento de avaliação. Colocar em xeque não só os saberes que considera necessários, mas a articulação de idéias e a consistência teórica do aluno, investigar sempre o seu referencial teórico. Saber se, de fato, ele está construindo um pensamento e uma escrita em nível acadêmico. É preciso desenvolver o seu potencial.
Há outros modelos possíveis de avaliação?
No Brasil, é muito forte a tendência das teorias de avaliação relacionadas com competência e habilidade, consideradas hoje indispensáveis para a maior realização do capital. Mas isso é um reducionismo. A escola deixa de se preocupar com a auto-formação do aluno, para diversos projetos, permitindo que ele faça escolhas próprias, para impor um único destino em nome do capital. A EAD, na verdade, dá grande liberdade, autonomia e estimula uma postura pró-ativa do aluno, a ponto de já aceitar ações de auto-avaliação dos estudantes.
A questão do copiar e colar da internet, quando da elaboração dos trabalhos. Como combater essa prática?
É óbvio que existe cópia de trabalhos. Há muito tempo, mas não foi a EAD quem inventou isso. Além do que, há uma proliferação de profissionais e de escritórios que ajudam o aluno a tapear os professores. Fazem a monografia, a dissertação, a tese inteira. Há como controlar isso, sim. Começa pelo cuidado na construção do instrumental, exigindo uma certa circunscrição do pensamento e da reflexão ao que está sendo trabalhado naquele módulo, naquele momento. Se o aluno está fazendo uso da bibliografia e o modo como ele utiliza esse material. Na EAD, todas as atividades e ações ficam registradas. Basta acompanhar o processo como um todo, e não apenas avaliar o produto final.
Ainda há alunos que se inscrevem em cursos a distância atraídos pela falsa tese de que ali tudo será mais fácil, menos rigoroso?
É claro que existe reprovação na educação a distância. Aliás, há muita evasão e reprovação. Quando se trata de uma experiência séria, a EAD reproduz regulamentos e critérios da universidade. Ou seja, o aluno tem que compor uma pontuação, cumprir os módulos... Por trás da maioria das reprovações está o equívoco do estudante de que a EAD é um modelo que vai facilitar a vida dele, garantir a sua aprovação de qualquer forma. Ele não tem noção das demandas que a EAD vai gerar.
Os altos índices de evasão ainda pesam contra a modalidade. O que está por trás disso?
Outro problema muito comum, enfrentado por boa parte dos alunos que se inscrevem em cursos de EAD, é ter que superar deficiências técnicas. As pessoas partem da suposição equivocada de que o Brasil já está coberto por uma boa rede de energia elétrica, uma rede eficiente de telefonia... O que não é verdade. É complicado, por exemplo, pensar em EAD sem uma boa conexão de banda larga, por exemplo. Às vezes, o pólo emissor do conhecimento tem o domínio, mas o pólo receptor, não. Sofre com insuficiências técnicas, assim como o aluno em sua casa. Diante dessas dificuldades práticas, alguns desistem... Por isso mesmo, há cursos que têm um semestre de Informática, não só para os alunos saberem navegar na plataforma, mas também para capacitar os tutores...
Sobretudo durante os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi palco da expansão desenfreada de instituições privadas com ofertas de cursos superiores, muitas vezes sem maior compromisso com a qualidade. O país corre o risco de experimentar algo semelhante no campo da EAD?
É preciso ter cuidado com essa mercantilização da EAD, com o risco de uma expansão sem qualidade. Essa modalidade, diferentemente do imaginário popular, supõe um alto nível de investimento, com instalações adequadas e corpo bem treinado. Na verdade, ela compreende a reprodução dispersa de um ambiente universitário.
E isso tem sido respeitado?
Tenho visto muitos pólos sem sala de estudo, sem bibliotecas, sem uma ambiência universitária, laboratórios ou tutores especializados. Eles costumam ser muito generalistas. Visitei em Roraima uma instituição onde três ou quatro tutores atendiam a todas as disciplinas dos vários cursos oferecidos. Ora, eles são incapazes de tirar uma dúvida específica de um estudante. Se o aluno não consegue, via e-mail ou telefone, contactar o conteudista na matriz, vai ficar com aquela dúvida em aberto. Não vai conseguir absolutamente sair daquilo. Há, por parte de algumas instituições, uma falsificação da aprovação.
Como isso ocorre?
Muita gente está aligeirando a avaliação dos alunos. Presenciei, recentemente, uma universidade de grande porte oferecendo cursos em que avaliava os conhecimentos em cinco disciplinas diferentes, dadas num semestre, com uma única prova presencial de dez questões de múltipla escolha. Isto é, duas questões para cada disciplina. E vi esse tipo de prova medíocre em cursos nas áreas do Direito, Engenharia, Pedagogia, e até em Saúde. Não é por acaso que o MEC vem fechando diversos cursos.
Em suas viagens pelo país, na função de avaliador, o que viu de melhor e de pior nas experiências de EAD?
O que há de mais genial é quando o oferecedor do curso EAD faz convênios com faculdades ou universidades bem instaladas. O aluno tem a especifidade da sua modalidade de ensino, mas vivendo num ambiente universitário, numa profusão de conhecimento, que sempre enriquece o chamado currículo oculto. No Cederj, por exemplo, o pólo é visto como embrião de um centro universitário no município onde ele se instala. As piores experiências são aquelas nas quais o indivíduo que comprou o franchising não tem cuidados, sequer sabe o que é uma universidade. Tudo acontece em instalações precárias até mesmo para uma escola do ensino básico.
Do ponto de vista social, qual é o grande trunfo da EAD?
Falando do Cederj, que funciona com oito pólos espalhados pelo estado: ele é importante do ponto de vista estratégico, pois permite a formação dos jovens sem retirá-los de suas cidades de origem. Isto é, promove a formação de inteligências e o desenvolvimento local, no interior. Determinadas cidades de Minas Gerais, por exemplo, acabam esvaziadas pela convergência dos estudantes universitários para centros de formação tradicionais, como Juiz de Fora e Ouro Preto, num processo que buscamos reverter no Rio.
Os desafios da EAD
Por Paulo Chico
Os números preliminares do AbraEAD 2008 (Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância) revelam que, em apenas dois anos, praticamente dobrou o número de alunos de graduação na EAD. Dos 397 mil matriculados em 2007, o Brasil saltou para 761 mil estudantes em cursos na modalidade no ano passado. Tal dado revela que, mais que simples moda, a tendência de crescimento veio para ficar. Por isso, também aumentam as preocupações com os rumos dessa evolução. Estará a quantidade devidamente acompanhada da qualidade? A avaliação do conhecimento adquirido pelos alunos ainda alimenta boa parte da dose de preconceito e desconfiança que pesa sobre a EAD. Um dos fundadores do Cederj, consórcio que reúne as universidades públicas do Rio na oferta de cursos semi-presenciais, o professor Zacarias Gama tem seu foco de ação voltado justamente para o processo de aferir o aprendizado. Na verdade, é avaliador de educação a distância do Ministério da Educação, missão que o leva a visitar instituições espalhadas por todo o país.
Nessas viagens, se depara com muitas experiências interessantes no campo da EAD. E, é evidente, algumas outras más, que tanto colocam em xeque a seriedade da modalidade de ensino. Mesmo dentro de seu local de trabalho, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), nem todos apostam na eficiência dessa prática de ensino. "Aqui na universidade temos professores doutores extremamente resistentes à educação a distância. Eles têm lá as suas razões, mas também têm um grande desconhecimento de como a coisa se dá na prática. Executada de forma responsável e planejada, a EAD se revela uma modalidade não apenas viável, mas de bastante credibilidade", conclui ele, que é formado em História, além de mestre e doutor em Educação.
Folha Dirigida - O ponto mais nebuloso da educação a distância é mesmo a avaliação. Há o que temer quanto a eficácia e seriedade deste processo? No que se difere, ou deveria se diferenciar, a avaliação de um estudante matriculado em curso presencial de outro que estuda na modalidade EAD?
Zacarias Gama - Inicialmente não tem muita diferença, não. Pelo contrário, está havendo uma defasagem grande entre a avaliação a distância e a avaliação presencial. Eu diria que, na avaliação presencial, há um determinado avanço. No modelo a distância ela sofre algumas limitações do próprio computador. As pessoas às vezes não sabem usar todos os recursos, todas as ferramentas. Há uma tendência grande de se reproduzir algumas avaliações quantitativas, típicas de salas de aula, via EAD. Há muita coisa boa dos referenciais positivistas, tecnicistas. O subjetivismo também tem seu valor, as provas abertas, redações, dissertações são ótimas. Mas é preciso verificar qual concepção de mundo está sendo trabalhada. A questão não está no instrumental, e sim na teoria. A escola, sobretudo voltada para as classes populares, precisa trazer critérios que permitam a sua leitura particular de mundo. Se ela for burguesa, pode usar qualquer instrumento, para manter o sistema. Gostaria que as avaliações sempre permitissem a objetividade da classe popular. Tenho essa utopia.
Então, é preciso, antes do modelo em si, repensar o papel da avaliação?
Precisamos discutir a avaliação da perspectiva da classe dominada. Ainda temos um modelo que é referendar certos valores e conhecimentos da classe dominante. Avaliar é qualificar os conhecimentos aprendidos pelo aluno, mas é sempre no sentido da reprodução de quadros já existentes. Seria interessante se as escolas estivessem mais preocupadas com um entendimento melhor da avaliação. Isso vai depender da opção que o professor faça.
Quais cuidados o professor deve ter neste processo?
Essa avaliação na EAD deve ser mais próxima, muito processual, feita à miúde. No presencial, tendo conhecimento físico do meu aluno, eu disponho de mais critérios que me levem a ter mais ou menos credibilidade em relação a ele. Se ele está atento ou disperso, sua expressão facial, seu comportamento... Tudo isso me dá informações, pistas, sobre quem ele é. No modelo a distância, o professor deve tomar alguns cuidados, como estar mais ligado na construção do instrumento de avaliação. Colocar em xeque não só os saberes que considera necessários, mas a articulação de idéias e a consistência teórica do aluno, investigar sempre o seu referencial teórico. Saber se, de fato, ele está construindo um pensamento e uma escrita em nível acadêmico. É preciso desenvolver o seu potencial.
Há outros modelos possíveis de avaliação?
No Brasil, é muito forte a tendência das teorias de avaliação relacionadas com competência e habilidade, consideradas hoje indispensáveis para a maior realização do capital. Mas isso é um reducionismo. A escola deixa de se preocupar com a auto-formação do aluno, para diversos projetos, permitindo que ele faça escolhas próprias, para impor um único destino em nome do capital. A EAD, na verdade, dá grande liberdade, autonomia e estimula uma postura pró-ativa do aluno, a ponto de já aceitar ações de auto-avaliação dos estudantes.
A questão do copiar e colar da internet, quando da elaboração dos trabalhos. Como combater essa prática?
É óbvio que existe cópia de trabalhos. Há muito tempo, mas não foi a EAD quem inventou isso. Além do que, há uma proliferação de profissionais e de escritórios que ajudam o aluno a tapear os professores. Fazem a monografia, a dissertação, a tese inteira. Há como controlar isso, sim. Começa pelo cuidado na construção do instrumental, exigindo uma certa circunscrição do pensamento e da reflexão ao que está sendo trabalhado naquele módulo, naquele momento. Se o aluno está fazendo uso da bibliografia e o modo como ele utiliza esse material. Na EAD, todas as atividades e ações ficam registradas. Basta acompanhar o processo como um todo, e não apenas avaliar o produto final.
Ainda há alunos que se inscrevem em cursos a distância atraídos pela falsa tese de que ali tudo será mais fácil, menos rigoroso?
É claro que existe reprovação na educação a distância. Aliás, há muita evasão e reprovação. Quando se trata de uma experiência séria, a EAD reproduz regulamentos e critérios da universidade. Ou seja, o aluno tem que compor uma pontuação, cumprir os módulos... Por trás da maioria das reprovações está o equívoco do estudante de que a EAD é um modelo que vai facilitar a vida dele, garantir a sua aprovação de qualquer forma. Ele não tem noção das demandas que a EAD vai gerar.
Os altos índices de evasão ainda pesam contra a modalidade. O que está por trás disso?
Outro problema muito comum, enfrentado por boa parte dos alunos que se inscrevem em cursos de EAD, é ter que superar deficiências técnicas. As pessoas partem da suposição equivocada de que o Brasil já está coberto por uma boa rede de energia elétrica, uma rede eficiente de telefonia... O que não é verdade. É complicado, por exemplo, pensar em EAD sem uma boa conexão de banda larga, por exemplo. Às vezes, o pólo emissor do conhecimento tem o domínio, mas o pólo receptor, não. Sofre com insuficiências técnicas, assim como o aluno em sua casa. Diante dessas dificuldades práticas, alguns desistem... Por isso mesmo, há cursos que têm um semestre de Informática, não só para os alunos saberem navegar na plataforma, mas também para capacitar os tutores...
Sobretudo durante os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi palco da expansão desenfreada de instituições privadas com ofertas de cursos superiores, muitas vezes sem maior compromisso com a qualidade. O país corre o risco de experimentar algo semelhante no campo da EAD?
É preciso ter cuidado com essa mercantilização da EAD, com o risco de uma expansão sem qualidade. Essa modalidade, diferentemente do imaginário popular, supõe um alto nível de investimento, com instalações adequadas e corpo bem treinado. Na verdade, ela compreende a reprodução dispersa de um ambiente universitário.
E isso tem sido respeitado?
Tenho visto muitos pólos sem sala de estudo, sem bibliotecas, sem uma ambiência universitária, laboratórios ou tutores especializados. Eles costumam ser muito generalistas. Visitei em Roraima uma instituição onde três ou quatro tutores atendiam a todas as disciplinas dos vários cursos oferecidos. Ora, eles são incapazes de tirar uma dúvida específica de um estudante. Se o aluno não consegue, via e-mail ou telefone, contactar o conteudista na matriz, vai ficar com aquela dúvida em aberto. Não vai conseguir absolutamente sair daquilo. Há, por parte de algumas instituições, uma falsificação da aprovação.
Como isso ocorre?
Muita gente está aligeirando a avaliação dos alunos. Presenciei, recentemente, uma universidade de grande porte oferecendo cursos em que avaliava os conhecimentos em cinco disciplinas diferentes, dadas num semestre, com uma única prova presencial de dez questões de múltipla escolha. Isto é, duas questões para cada disciplina. E vi esse tipo de prova medíocre em cursos nas áreas do Direito, Engenharia, Pedagogia, e até em Saúde. Não é por acaso que o MEC vem fechando diversos cursos.
Em suas viagens pelo país, na função de avaliador, o que viu de melhor e de pior nas experiências de EAD?
O que há de mais genial é quando o oferecedor do curso EAD faz convênios com faculdades ou universidades bem instaladas. O aluno tem a especifidade da sua modalidade de ensino, mas vivendo num ambiente universitário, numa profusão de conhecimento, que sempre enriquece o chamado currículo oculto. No Cederj, por exemplo, o pólo é visto como embrião de um centro universitário no município onde ele se instala. As piores experiências são aquelas nas quais o indivíduo que comprou o franchising não tem cuidados, sequer sabe o que é uma universidade. Tudo acontece em instalações precárias até mesmo para uma escola do ensino básico.
Do ponto de vista social, qual é o grande trunfo da EAD?
Falando do Cederj, que funciona com oito pólos espalhados pelo estado: ele é importante do ponto de vista estratégico, pois permite a formação dos jovens sem retirá-los de suas cidades de origem. Isto é, promove a formação de inteligências e o desenvolvimento local, no interior. Determinadas cidades de Minas Gerais, por exemplo, acabam esvaziadas pela convergência dos estudantes universitários para centros de formação tradicionais, como Juiz de Fora e Ouro Preto, num processo que buscamos reverter no Rio.
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