Apenas 2% dos jovens brasileiros pretendem ser professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, segundo pesquisa da Fundação Carlos Chagas, e esses 2% são os alunos de piores notas. Os dados da pesquisa estão publicados na revista Veja de 6 de fevereiro de 2010.
Segundo a pesquisa o "curso de pedagogia é pouco disputado e significa, para a imensa maioria dos estudantes, a única porta de entrada possível para o ensino superior - e não uma carreira de que realmente gostam. Conclui a especialista Bernardete Gatti, coordenadora da pesquisa: "Sem atrair as melhores cabeças para as faculdades de pedagogia, o Brasil jamais conseguirá deixar as últimas colocações nos rankings de ensino".
Em 1995 participei de uma pesquisa encomendada pelo CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e o cenário de futuro já era pavoroso. Poucos pretendiam o magistério, incluindo as Licenciaturas, e de cada 10 que chegavam ao magistério somente 3 permaneciam nos primeiros cinco anos.
Este drama não é exclusivo do Brasil. Em todos os países onde a valorização do magistério está em processo decadente, o mesmo fenômeno se repete. Na Alemanha a crise de professores é tão grande que já começaram a admitir professores do Leste Europeu para a alfabetização das crianças alemãs.
Quando chegarmos a esse ponto, de onde vamos atrair professores? Da África? Haití? Paraguai?
7.2.10
6.2.10
Espaços integrados de educação superior e mobilidade acadêmica - com qual propósito?
Em postagem anterior comentei os esforços no sentido de criar espaços integrados de educação superior na União Européia, América Latina e Brasil. Ainda não tinha certeza dos avanços concretos realizados no território nacional em termos de educação superior. Mas o fato é que já estamos muito além do que supunha. Sem falar no novo ENEM que tenta reeditar o vestibular unificado para as universidades brasileiras e impõe a prática da mobilidade acadêmica aos estudantes, duas ações concretas merecem destaque: o programa de mobilidade acadêmica Andifes (Associação Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior) e a deliberação do consórcio CEDERJ (Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro.
A Deliberação do CEDERJ se constitui como uma ação inovadora porquanto integra a educação online semipresencial com a educação presencial oferecida pelas universidades consorciadas ao CEDERJ (UFRJ, UFFRJ, UFF, UERJ e UENF). Os alunos dos cursos presenciais poderão fazer disciplinas em regime online semipresencial, e os alunos matriculados em curso online semipresenciais poderão cursar disciplinas presenciais onde sejam oferecidas.
Não tenho a pretensão de negar a importância de integrar modalidades de ensino e as instituições públicas de ensino de educação superior no Estado do Rio de Janeiro e também no Brasil. Para mim está claro que a integração e a mobilidade acadêmica podem constituirem-se em fabulosos espaços de desenvolvimento do conhecimento e de comunicação desinteressada para além do pragmatismo gerencial-mercantil. O que me preocupa então é a possibilidade de estar contido nesses processos o objetivo mercantil de reduzir custos, abrindo-se mão de mais meios, recursos e professores bem preparados e entregues ao ensino, pesquisa e extensão, e de alunos desejosos de saber.
Será uma lástima tudo isso se objetivar com redução de custos e quadros de funcionários em nome da produção de melhores indicadores de produtividade que somente beneficiam a realização do capital.
A Deliberação do CEDERJ se constitui como uma ação inovadora porquanto integra a educação online semipresencial com a educação presencial oferecida pelas universidades consorciadas ao CEDERJ (UFRJ, UFFRJ, UFF, UERJ e UENF). Os alunos dos cursos presenciais poderão fazer disciplinas em regime online semipresencial, e os alunos matriculados em curso online semipresenciais poderão cursar disciplinas presenciais onde sejam oferecidas.
Não tenho a pretensão de negar a importância de integrar modalidades de ensino e as instituições públicas de ensino de educação superior no Estado do Rio de Janeiro e também no Brasil. Para mim está claro que a integração e a mobilidade acadêmica podem constituirem-se em fabulosos espaços de desenvolvimento do conhecimento e de comunicação desinteressada para além do pragmatismo gerencial-mercantil. O que me preocupa então é a possibilidade de estar contido nesses processos o objetivo mercantil de reduzir custos, abrindo-se mão de mais meios, recursos e professores bem preparados e entregues ao ensino, pesquisa e extensão, e de alunos desejosos de saber.
Será uma lástima tudo isso se objetivar com redução de custos e quadros de funcionários em nome da produção de melhores indicadores de produtividade que somente beneficiam a realização do capital.
23.12.09
Universidade de Integração Latino-americana (UNILA)
O Brasil acaba de criar uma nova universidade, com sede em Foz do Iguaçu, Paraná. Sua proposta é a de integrar países de lingua portuguesa e espanhola. Por incrivel que pareça a criação dessa univeridade me preocupa. Estaria o país caminhando para constituir um espaço latino-americano de educação superior, com mobilidade de alunos, professores e funcionários e unificação da gestão universitária, semelhante ao Espaço Europeu de Educação Superior?
Lá na Europa muitos estudantes e professores estão protestando fortemente contra a medida. Apenas Portugal parece ser o país mais concordante. A União Européia, a despeito da importância e tradição das diversas universidades, submete todas à lógica administrativo-gerencial, impõe critérios únicos de avaliação, enfim, reduz todas a um só sistema universitário. Põe fim à democracia das universidades e institui o regime total. Parafraseando Mussolini: a UE, do alto de seu Parlamento, ao saber o que uma universidade faz, saberá o que todas estão fazendo. O totalitarismo uniformizador é reducionista porque não pode viver com as diferenças.
Será que estamos caminhando na América Latina para o mesmo totalitarismo universitário?
Os projetos e tratados do Mercosul Educativo e da Unasul têm indicativos de sinais positivos.
Lá na Europa muitos estudantes e professores estão protestando fortemente contra a medida. Apenas Portugal parece ser o país mais concordante. A União Européia, a despeito da importância e tradição das diversas universidades, submete todas à lógica administrativo-gerencial, impõe critérios únicos de avaliação, enfim, reduz todas a um só sistema universitário. Põe fim à democracia das universidades e institui o regime total. Parafraseando Mussolini: a UE, do alto de seu Parlamento, ao saber o que uma universidade faz, saberá o que todas estão fazendo. O totalitarismo uniformizador é reducionista porque não pode viver com as diferenças.
Será que estamos caminhando na América Latina para o mesmo totalitarismo universitário?
Os projetos e tratados do Mercosul Educativo e da Unasul têm indicativos de sinais positivos.
6.12.09
Sociedade do controle
A Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, antes de estar a serviço da Pedagogia e da educação de qualidade, está prestando o melhor serviço para a consolidação da sociedade do controle. Seu projeto Conexão Educação parece ter saido das páginas do livro "1984" de George Orwell. Cada aluno recebeu um cartão que lhe permite viajar de ônibus, merendar, entrar na sala e marcar sua presença em cada aula que tiver num dia letivo. Os professores, por sua vez, também estão controlados. Em cada aula de um dia, precisa abrir a Conexão em um computador instalado em sua mesa de trabalho, inserir todos os seus dados de identificação, permitir a cada aluno registrar sua presença e, ufa, lançar o conteúdo dado (se não fizer tudo isso, é como se não tivesse dado aula; o sistema registra que o professor não compareceu à aula).
É preciso controle sim, mas não com tanta perda de tempo para a aula. Os procedimentos necessários tomam de 15 a 20 minutos de cada aula de 50 minutos. Considerando a pontualidade brasileira, os alunos estão tendo aulas com tempos cada vez mais encolhidos. Um pequeno atraso do professor ou qualquer lentidão da conexão pode reduzir uma aula para miseráveis 20 minutos ou menos.
Será que a Sra. Secretária Teresa Porto está sabendo disso? Acredito que sim, mas seu tecnicismo deve estar se sentido glorioso. Tudo está sob controle.
Mas o que o Ministério Público pensaria disso? Se o MP soubesse disso, garanto que não haveria de concordar.
É preciso controle sim, mas não com tanta perda de tempo para a aula. Os procedimentos necessários tomam de 15 a 20 minutos de cada aula de 50 minutos. Considerando a pontualidade brasileira, os alunos estão tendo aulas com tempos cada vez mais encolhidos. Um pequeno atraso do professor ou qualquer lentidão da conexão pode reduzir uma aula para miseráveis 20 minutos ou menos.
Será que a Sra. Secretária Teresa Porto está sabendo disso? Acredito que sim, mas seu tecnicismo deve estar se sentido glorioso. Tudo está sob controle.
Mas o que o Ministério Público pensaria disso? Se o MP soubesse disso, garanto que não haveria de concordar.
23.8.09
13/08/2009 - Folha Dirigida
Os desafios da EAD
Por Paulo Chico
Os números preliminares do AbraEAD 2008 (Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância) revelam que, em apenas dois anos, praticamente dobrou o número de alunos de graduação na EAD. Dos 397 mil matriculados em 2007, o Brasil saltou para 761 mil estudantes em cursos na modalidade no ano passado. Tal dado revela que, mais que simples moda, a tendência de crescimento veio para ficar. Por isso, também aumentam as preocupações com os rumos dessa evolução. Estará a quantidade devidamente acompanhada da qualidade? A avaliação do conhecimento adquirido pelos alunos ainda alimenta boa parte da dose de preconceito e desconfiança que pesa sobre a EAD. Um dos fundadores do Cederj, consórcio que reúne as universidades públicas do Rio na oferta de cursos semi-presenciais, o professor Zacarias Gama tem seu foco de ação voltado justamente para o processo de aferir o aprendizado. Na verdade, é avaliador de educação a distância do Ministério da Educação, missão que o leva a visitar instituições espalhadas por todo o país.
Nessas viagens, se depara com muitas experiências interessantes no campo da EAD. E, é evidente, algumas outras más, que tanto colocam em xeque a seriedade da modalidade de ensino. Mesmo dentro de seu local de trabalho, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), nem todos apostam na eficiência dessa prática de ensino. "Aqui na universidade temos professores doutores extremamente resistentes à educação a distância. Eles têm lá as suas razões, mas também têm um grande desconhecimento de como a coisa se dá na prática. Executada de forma responsável e planejada, a EAD se revela uma modalidade não apenas viável, mas de bastante credibilidade", conclui ele, que é formado em História, além de mestre e doutor em Educação.
Folha Dirigida - O ponto mais nebuloso da educação a distância é mesmo a avaliação. Há o que temer quanto a eficácia e seriedade deste processo? No que se difere, ou deveria se diferenciar, a avaliação de um estudante matriculado em curso presencial de outro que estuda na modalidade EAD?
Zacarias Gama - Inicialmente não tem muita diferença, não. Pelo contrário, está havendo uma defasagem grande entre a avaliação a distância e a avaliação presencial. Eu diria que, na avaliação presencial, há um determinado avanço. No modelo a distância ela sofre algumas limitações do próprio computador. As pessoas às vezes não sabem usar todos os recursos, todas as ferramentas. Há uma tendência grande de se reproduzir algumas avaliações quantitativas, típicas de salas de aula, via EAD. Há muita coisa boa dos referenciais positivistas, tecnicistas. O subjetivismo também tem seu valor, as provas abertas, redações, dissertações são ótimas. Mas é preciso verificar qual concepção de mundo está sendo trabalhada. A questão não está no instrumental, e sim na teoria. A escola, sobretudo voltada para as classes populares, precisa trazer critérios que permitam a sua leitura particular de mundo. Se ela for burguesa, pode usar qualquer instrumento, para manter o sistema. Gostaria que as avaliações sempre permitissem a objetividade da classe popular. Tenho essa utopia.
Então, é preciso, antes do modelo em si, repensar o papel da avaliação?
Precisamos discutir a avaliação da perspectiva da classe dominada. Ainda temos um modelo que é referendar certos valores e conhecimentos da classe dominante. Avaliar é qualificar os conhecimentos aprendidos pelo aluno, mas é sempre no sentido da reprodução de quadros já existentes. Seria interessante se as escolas estivessem mais preocupadas com um entendimento melhor da avaliação. Isso vai depender da opção que o professor faça.
Quais cuidados o professor deve ter neste processo?
Essa avaliação na EAD deve ser mais próxima, muito processual, feita à miúde. No presencial, tendo conhecimento físico do meu aluno, eu disponho de mais critérios que me levem a ter mais ou menos credibilidade em relação a ele. Se ele está atento ou disperso, sua expressão facial, seu comportamento... Tudo isso me dá informações, pistas, sobre quem ele é. No modelo a distância, o professor deve tomar alguns cuidados, como estar mais ligado na construção do instrumento de avaliação. Colocar em xeque não só os saberes que considera necessários, mas a articulação de idéias e a consistência teórica do aluno, investigar sempre o seu referencial teórico. Saber se, de fato, ele está construindo um pensamento e uma escrita em nível acadêmico. É preciso desenvolver o seu potencial.
Há outros modelos possíveis de avaliação?
No Brasil, é muito forte a tendência das teorias de avaliação relacionadas com competência e habilidade, consideradas hoje indispensáveis para a maior realização do capital. Mas isso é um reducionismo. A escola deixa de se preocupar com a auto-formação do aluno, para diversos projetos, permitindo que ele faça escolhas próprias, para impor um único destino em nome do capital. A EAD, na verdade, dá grande liberdade, autonomia e estimula uma postura pró-ativa do aluno, a ponto de já aceitar ações de auto-avaliação dos estudantes.
A questão do copiar e colar da internet, quando da elaboração dos trabalhos. Como combater essa prática?
É óbvio que existe cópia de trabalhos. Há muito tempo, mas não foi a EAD quem inventou isso. Além do que, há uma proliferação de profissionais e de escritórios que ajudam o aluno a tapear os professores. Fazem a monografia, a dissertação, a tese inteira. Há como controlar isso, sim. Começa pelo cuidado na construção do instrumental, exigindo uma certa circunscrição do pensamento e da reflexão ao que está sendo trabalhado naquele módulo, naquele momento. Se o aluno está fazendo uso da bibliografia e o modo como ele utiliza esse material. Na EAD, todas as atividades e ações ficam registradas. Basta acompanhar o processo como um todo, e não apenas avaliar o produto final.
Ainda há alunos que se inscrevem em cursos a distância atraídos pela falsa tese de que ali tudo será mais fácil, menos rigoroso?
É claro que existe reprovação na educação a distância. Aliás, há muita evasão e reprovação. Quando se trata de uma experiência séria, a EAD reproduz regulamentos e critérios da universidade. Ou seja, o aluno tem que compor uma pontuação, cumprir os módulos... Por trás da maioria das reprovações está o equívoco do estudante de que a EAD é um modelo que vai facilitar a vida dele, garantir a sua aprovação de qualquer forma. Ele não tem noção das demandas que a EAD vai gerar.
Os altos índices de evasão ainda pesam contra a modalidade. O que está por trás disso?
Outro problema muito comum, enfrentado por boa parte dos alunos que se inscrevem em cursos de EAD, é ter que superar deficiências técnicas. As pessoas partem da suposição equivocada de que o Brasil já está coberto por uma boa rede de energia elétrica, uma rede eficiente de telefonia... O que não é verdade. É complicado, por exemplo, pensar em EAD sem uma boa conexão de banda larga, por exemplo. Às vezes, o pólo emissor do conhecimento tem o domínio, mas o pólo receptor, não. Sofre com insuficiências técnicas, assim como o aluno em sua casa. Diante dessas dificuldades práticas, alguns desistem... Por isso mesmo, há cursos que têm um semestre de Informática, não só para os alunos saberem navegar na plataforma, mas também para capacitar os tutores...
Sobretudo durante os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi palco da expansão desenfreada de instituições privadas com ofertas de cursos superiores, muitas vezes sem maior compromisso com a qualidade. O país corre o risco de experimentar algo semelhante no campo da EAD?
É preciso ter cuidado com essa mercantilização da EAD, com o risco de uma expansão sem qualidade. Essa modalidade, diferentemente do imaginário popular, supõe um alto nível de investimento, com instalações adequadas e corpo bem treinado. Na verdade, ela compreende a reprodução dispersa de um ambiente universitário.
E isso tem sido respeitado?
Tenho visto muitos pólos sem sala de estudo, sem bibliotecas, sem uma ambiência universitária, laboratórios ou tutores especializados. Eles costumam ser muito generalistas. Visitei em Roraima uma instituição onde três ou quatro tutores atendiam a todas as disciplinas dos vários cursos oferecidos. Ora, eles são incapazes de tirar uma dúvida específica de um estudante. Se o aluno não consegue, via e-mail ou telefone, contactar o conteudista na matriz, vai ficar com aquela dúvida em aberto. Não vai conseguir absolutamente sair daquilo. Há, por parte de algumas instituições, uma falsificação da aprovação.
Como isso ocorre?
Muita gente está aligeirando a avaliação dos alunos. Presenciei, recentemente, uma universidade de grande porte oferecendo cursos em que avaliava os conhecimentos em cinco disciplinas diferentes, dadas num semestre, com uma única prova presencial de dez questões de múltipla escolha. Isto é, duas questões para cada disciplina. E vi esse tipo de prova medíocre em cursos nas áreas do Direito, Engenharia, Pedagogia, e até em Saúde. Não é por acaso que o MEC vem fechando diversos cursos.
Em suas viagens pelo país, na função de avaliador, o que viu de melhor e de pior nas experiências de EAD?
O que há de mais genial é quando o oferecedor do curso EAD faz convênios com faculdades ou universidades bem instaladas. O aluno tem a especifidade da sua modalidade de ensino, mas vivendo num ambiente universitário, numa profusão de conhecimento, que sempre enriquece o chamado currículo oculto. No Cederj, por exemplo, o pólo é visto como embrião de um centro universitário no município onde ele se instala. As piores experiências são aquelas nas quais o indivíduo que comprou o franchising não tem cuidados, sequer sabe o que é uma universidade. Tudo acontece em instalações precárias até mesmo para uma escola do ensino básico.
Do ponto de vista social, qual é o grande trunfo da EAD?
Falando do Cederj, que funciona com oito pólos espalhados pelo estado: ele é importante do ponto de vista estratégico, pois permite a formação dos jovens sem retirá-los de suas cidades de origem. Isto é, promove a formação de inteligências e o desenvolvimento local, no interior. Determinadas cidades de Minas Gerais, por exemplo, acabam esvaziadas pela convergência dos estudantes universitários para centros de formação tradicionais, como Juiz de Fora e Ouro Preto, num processo que buscamos reverter no Rio.
Os desafios da EAD
Por Paulo Chico
Os números preliminares do AbraEAD 2008 (Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância) revelam que, em apenas dois anos, praticamente dobrou o número de alunos de graduação na EAD. Dos 397 mil matriculados em 2007, o Brasil saltou para 761 mil estudantes em cursos na modalidade no ano passado. Tal dado revela que, mais que simples moda, a tendência de crescimento veio para ficar. Por isso, também aumentam as preocupações com os rumos dessa evolução. Estará a quantidade devidamente acompanhada da qualidade? A avaliação do conhecimento adquirido pelos alunos ainda alimenta boa parte da dose de preconceito e desconfiança que pesa sobre a EAD. Um dos fundadores do Cederj, consórcio que reúne as universidades públicas do Rio na oferta de cursos semi-presenciais, o professor Zacarias Gama tem seu foco de ação voltado justamente para o processo de aferir o aprendizado. Na verdade, é avaliador de educação a distância do Ministério da Educação, missão que o leva a visitar instituições espalhadas por todo o país.
Nessas viagens, se depara com muitas experiências interessantes no campo da EAD. E, é evidente, algumas outras más, que tanto colocam em xeque a seriedade da modalidade de ensino. Mesmo dentro de seu local de trabalho, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), nem todos apostam na eficiência dessa prática de ensino. "Aqui na universidade temos professores doutores extremamente resistentes à educação a distância. Eles têm lá as suas razões, mas também têm um grande desconhecimento de como a coisa se dá na prática. Executada de forma responsável e planejada, a EAD se revela uma modalidade não apenas viável, mas de bastante credibilidade", conclui ele, que é formado em História, além de mestre e doutor em Educação.
Folha Dirigida - O ponto mais nebuloso da educação a distância é mesmo a avaliação. Há o que temer quanto a eficácia e seriedade deste processo? No que se difere, ou deveria se diferenciar, a avaliação de um estudante matriculado em curso presencial de outro que estuda na modalidade EAD?
Zacarias Gama - Inicialmente não tem muita diferença, não. Pelo contrário, está havendo uma defasagem grande entre a avaliação a distância e a avaliação presencial. Eu diria que, na avaliação presencial, há um determinado avanço. No modelo a distância ela sofre algumas limitações do próprio computador. As pessoas às vezes não sabem usar todos os recursos, todas as ferramentas. Há uma tendência grande de se reproduzir algumas avaliações quantitativas, típicas de salas de aula, via EAD. Há muita coisa boa dos referenciais positivistas, tecnicistas. O subjetivismo também tem seu valor, as provas abertas, redações, dissertações são ótimas. Mas é preciso verificar qual concepção de mundo está sendo trabalhada. A questão não está no instrumental, e sim na teoria. A escola, sobretudo voltada para as classes populares, precisa trazer critérios que permitam a sua leitura particular de mundo. Se ela for burguesa, pode usar qualquer instrumento, para manter o sistema. Gostaria que as avaliações sempre permitissem a objetividade da classe popular. Tenho essa utopia.
Então, é preciso, antes do modelo em si, repensar o papel da avaliação?
Precisamos discutir a avaliação da perspectiva da classe dominada. Ainda temos um modelo que é referendar certos valores e conhecimentos da classe dominante. Avaliar é qualificar os conhecimentos aprendidos pelo aluno, mas é sempre no sentido da reprodução de quadros já existentes. Seria interessante se as escolas estivessem mais preocupadas com um entendimento melhor da avaliação. Isso vai depender da opção que o professor faça.
Quais cuidados o professor deve ter neste processo?
Essa avaliação na EAD deve ser mais próxima, muito processual, feita à miúde. No presencial, tendo conhecimento físico do meu aluno, eu disponho de mais critérios que me levem a ter mais ou menos credibilidade em relação a ele. Se ele está atento ou disperso, sua expressão facial, seu comportamento... Tudo isso me dá informações, pistas, sobre quem ele é. No modelo a distância, o professor deve tomar alguns cuidados, como estar mais ligado na construção do instrumento de avaliação. Colocar em xeque não só os saberes que considera necessários, mas a articulação de idéias e a consistência teórica do aluno, investigar sempre o seu referencial teórico. Saber se, de fato, ele está construindo um pensamento e uma escrita em nível acadêmico. É preciso desenvolver o seu potencial.
Há outros modelos possíveis de avaliação?
No Brasil, é muito forte a tendência das teorias de avaliação relacionadas com competência e habilidade, consideradas hoje indispensáveis para a maior realização do capital. Mas isso é um reducionismo. A escola deixa de se preocupar com a auto-formação do aluno, para diversos projetos, permitindo que ele faça escolhas próprias, para impor um único destino em nome do capital. A EAD, na verdade, dá grande liberdade, autonomia e estimula uma postura pró-ativa do aluno, a ponto de já aceitar ações de auto-avaliação dos estudantes.
A questão do copiar e colar da internet, quando da elaboração dos trabalhos. Como combater essa prática?
É óbvio que existe cópia de trabalhos. Há muito tempo, mas não foi a EAD quem inventou isso. Além do que, há uma proliferação de profissionais e de escritórios que ajudam o aluno a tapear os professores. Fazem a monografia, a dissertação, a tese inteira. Há como controlar isso, sim. Começa pelo cuidado na construção do instrumental, exigindo uma certa circunscrição do pensamento e da reflexão ao que está sendo trabalhado naquele módulo, naquele momento. Se o aluno está fazendo uso da bibliografia e o modo como ele utiliza esse material. Na EAD, todas as atividades e ações ficam registradas. Basta acompanhar o processo como um todo, e não apenas avaliar o produto final.
Ainda há alunos que se inscrevem em cursos a distância atraídos pela falsa tese de que ali tudo será mais fácil, menos rigoroso?
É claro que existe reprovação na educação a distância. Aliás, há muita evasão e reprovação. Quando se trata de uma experiência séria, a EAD reproduz regulamentos e critérios da universidade. Ou seja, o aluno tem que compor uma pontuação, cumprir os módulos... Por trás da maioria das reprovações está o equívoco do estudante de que a EAD é um modelo que vai facilitar a vida dele, garantir a sua aprovação de qualquer forma. Ele não tem noção das demandas que a EAD vai gerar.
Os altos índices de evasão ainda pesam contra a modalidade. O que está por trás disso?
Outro problema muito comum, enfrentado por boa parte dos alunos que se inscrevem em cursos de EAD, é ter que superar deficiências técnicas. As pessoas partem da suposição equivocada de que o Brasil já está coberto por uma boa rede de energia elétrica, uma rede eficiente de telefonia... O que não é verdade. É complicado, por exemplo, pensar em EAD sem uma boa conexão de banda larga, por exemplo. Às vezes, o pólo emissor do conhecimento tem o domínio, mas o pólo receptor, não. Sofre com insuficiências técnicas, assim como o aluno em sua casa. Diante dessas dificuldades práticas, alguns desistem... Por isso mesmo, há cursos que têm um semestre de Informática, não só para os alunos saberem navegar na plataforma, mas também para capacitar os tutores...
Sobretudo durante os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi palco da expansão desenfreada de instituições privadas com ofertas de cursos superiores, muitas vezes sem maior compromisso com a qualidade. O país corre o risco de experimentar algo semelhante no campo da EAD?
É preciso ter cuidado com essa mercantilização da EAD, com o risco de uma expansão sem qualidade. Essa modalidade, diferentemente do imaginário popular, supõe um alto nível de investimento, com instalações adequadas e corpo bem treinado. Na verdade, ela compreende a reprodução dispersa de um ambiente universitário.
E isso tem sido respeitado?
Tenho visto muitos pólos sem sala de estudo, sem bibliotecas, sem uma ambiência universitária, laboratórios ou tutores especializados. Eles costumam ser muito generalistas. Visitei em Roraima uma instituição onde três ou quatro tutores atendiam a todas as disciplinas dos vários cursos oferecidos. Ora, eles são incapazes de tirar uma dúvida específica de um estudante. Se o aluno não consegue, via e-mail ou telefone, contactar o conteudista na matriz, vai ficar com aquela dúvida em aberto. Não vai conseguir absolutamente sair daquilo. Há, por parte de algumas instituições, uma falsificação da aprovação.
Como isso ocorre?
Muita gente está aligeirando a avaliação dos alunos. Presenciei, recentemente, uma universidade de grande porte oferecendo cursos em que avaliava os conhecimentos em cinco disciplinas diferentes, dadas num semestre, com uma única prova presencial de dez questões de múltipla escolha. Isto é, duas questões para cada disciplina. E vi esse tipo de prova medíocre em cursos nas áreas do Direito, Engenharia, Pedagogia, e até em Saúde. Não é por acaso que o MEC vem fechando diversos cursos.
Em suas viagens pelo país, na função de avaliador, o que viu de melhor e de pior nas experiências de EAD?
O que há de mais genial é quando o oferecedor do curso EAD faz convênios com faculdades ou universidades bem instaladas. O aluno tem a especifidade da sua modalidade de ensino, mas vivendo num ambiente universitário, numa profusão de conhecimento, que sempre enriquece o chamado currículo oculto. No Cederj, por exemplo, o pólo é visto como embrião de um centro universitário no município onde ele se instala. As piores experiências são aquelas nas quais o indivíduo que comprou o franchising não tem cuidados, sequer sabe o que é uma universidade. Tudo acontece em instalações precárias até mesmo para uma escola do ensino básico.
Do ponto de vista social, qual é o grande trunfo da EAD?
Falando do Cederj, que funciona com oito pólos espalhados pelo estado: ele é importante do ponto de vista estratégico, pois permite a formação dos jovens sem retirá-los de suas cidades de origem. Isto é, promove a formação de inteligências e o desenvolvimento local, no interior. Determinadas cidades de Minas Gerais, por exemplo, acabam esvaziadas pela convergência dos estudantes universitários para centros de formação tradicionais, como Juiz de Fora e Ouro Preto, num processo que buscamos reverter no Rio.
21.8.09
Efeito Orloff: o Brasil pode viver o drama da Alemanha amanhã.
Informes do UOL/DW-World.DE / Deutsche Welle nos dão conta da alarmante situação da Alemanha no que diz respeito à preocupante falta de professores de Ciências, Matemática e Física. Teme-se que o déficit em pouco tempo chegue a 40 mil professores e até possa ultrapassar esse número: na próxima década quase um milhão de professores irão se aposentar.
O que mais preocupa as autoridades alemãs é a pequena demanda pela profissão e o baixo nível daqueles que insistem em ser professores. As razões que as mesmas apontam estão ligadas à perda de prestígio do magistério básico, à imagem social dos professores, além de serem vistos como preguiçosos (6 semanas de férias e recesso), sobrecarregados (pilhas de trabalhos para corrigir, preparação de aulas, relatórios etc.) e responsáveis pelo baixo desempenho do alunado em exames comparativos tais como o do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). A situação é tão severa que já se pensa na importação de professores do Leste Europeu.
O que ocorre hoje na Alemanha não é, entretanto, uma exclusividade sua. No Brasil já são graves os indicadores desta mesma ocorrência e em breve poderemos estar vivendo drama semelhante ou maior. Em um estudo, do qual participamos, encomendado pelo CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) a pesquisadores da PUC-Rio, já tínhamos o indicativo em 1995 de que cada 10 concluintes dos cursos de licenciaturas em Geografia, Ciências, Matemática e Física somente três ingressavam no magistério público, e desses apenas um permanecia após cinco anos. Os demais buscavam postos de trabalhos mais promissores, com melhor remuneração e perspectiva de progressão na carreira em empresas do setor privado. Da realização dessa pesquisa aos dias de hoje, o déficit destes professores em nossas escolas públicas só tem aumentado.
Nossas autoridades pouco fizeram e fazem a respeito. Elas continuam dormindo em berço esplêndido, despreocupadas, talvez se valendo da possibilidade imediata de contar com os “Amigos da Escola”, da futura importação de professores de países africanos de língua portuguesa ou do Timor Leste ou, pior, pouco se ligando quanto ao futuro das novas gerações e do próprio País.
O que mais preocupa as autoridades alemãs é a pequena demanda pela profissão e o baixo nível daqueles que insistem em ser professores. As razões que as mesmas apontam estão ligadas à perda de prestígio do magistério básico, à imagem social dos professores, além de serem vistos como preguiçosos (6 semanas de férias e recesso), sobrecarregados (pilhas de trabalhos para corrigir, preparação de aulas, relatórios etc.) e responsáveis pelo baixo desempenho do alunado em exames comparativos tais como o do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). A situação é tão severa que já se pensa na importação de professores do Leste Europeu.
O que ocorre hoje na Alemanha não é, entretanto, uma exclusividade sua. No Brasil já são graves os indicadores desta mesma ocorrência e em breve poderemos estar vivendo drama semelhante ou maior. Em um estudo, do qual participamos, encomendado pelo CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) a pesquisadores da PUC-Rio, já tínhamos o indicativo em 1995 de que cada 10 concluintes dos cursos de licenciaturas em Geografia, Ciências, Matemática e Física somente três ingressavam no magistério público, e desses apenas um permanecia após cinco anos. Os demais buscavam postos de trabalhos mais promissores, com melhor remuneração e perspectiva de progressão na carreira em empresas do setor privado. Da realização dessa pesquisa aos dias de hoje, o déficit destes professores em nossas escolas públicas só tem aumentado.
Nossas autoridades pouco fizeram e fazem a respeito. Elas continuam dormindo em berço esplêndido, despreocupadas, talvez se valendo da possibilidade imediata de contar com os “Amigos da Escola”, da futura importação de professores de países africanos de língua portuguesa ou do Timor Leste ou, pior, pouco se ligando quanto ao futuro das novas gerações e do próprio País.
15.8.09
AGRESSÃO A PROFESSORES
É assustador o quanto as relações Professores e Pais foram alteradas de uns tempos para cá. A autoridade pedagógica outorgada pela sociedade é cada dia mais solapada e os professores tornam-se vítimas de agressões físicas.
Causas? Talvez devamos buscá-las nas políticas públicas de educação que insistem na desvalorização e desqualificação dos mestres. Atualmente só se fala em monitorá-los, submetê-los à autoridade das Unidade Executoras (UEx) e aos diversos mecanismos de Controle Social criado a partir de inspirações epistemológicas calcadas no institucionalismo que perpassa a reconfiguração do estado em bases neoliberais.
Os resultados estão ai e são divulgados pela mídia, sem que providências urgentes sejam tomadas.
Vejamos algumas manchetes:
A mãe de uma aluna invadiu um colégio público de Florianópolis, e agrediu a professora.(TV IG, edição de 14/08/2009 - 21:17. Veja o vídeo: http://tvig.ig.com.br/147700/mae-agride-professora-em-florianopolis.htm)
Mãe agride professora que não teria deixado filho ir ao banheiro no DF (O Globo Online, edição do dia 09/04/2009, 15:06h)
Criança se machuca e mãe agride professora na porta da escola (O Globo Online, edição do dia 03/10/2008, 10:45h)
Mãe chamada à escola para falar sobre atraso de filhos agride professora em Bagé, no Rio Grande do Sul ((O Globo Online, edição do dia 03/04/2009, 10:31h)
O salário já é pequeno, as condições de trabalho são horríveis, a falta de perspectiva na carreira é completa; daqui a pouco quem vai querer ser professor?
A Xuxa, a Viviane Senna e o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Victor Civita?
Causas? Talvez devamos buscá-las nas políticas públicas de educação que insistem na desvalorização e desqualificação dos mestres. Atualmente só se fala em monitorá-los, submetê-los à autoridade das Unidade Executoras (UEx) e aos diversos mecanismos de Controle Social criado a partir de inspirações epistemológicas calcadas no institucionalismo que perpassa a reconfiguração do estado em bases neoliberais.
Os resultados estão ai e são divulgados pela mídia, sem que providências urgentes sejam tomadas.
Vejamos algumas manchetes:
A mãe de uma aluna invadiu um colégio público de Florianópolis, e agrediu a professora.(TV IG, edição de 14/08/2009 - 21:17. Veja o vídeo: http://tvig.ig.com.br/147700/mae-agride-professora-em-florianopolis.htm)
Mãe agride professora que não teria deixado filho ir ao banheiro no DF (O Globo Online, edição do dia 09/04/2009, 15:06h)
Criança se machuca e mãe agride professora na porta da escola (O Globo Online, edição do dia 03/10/2008, 10:45h)
Mãe chamada à escola para falar sobre atraso de filhos agride professora em Bagé, no Rio Grande do Sul ((O Globo Online, edição do dia 03/04/2009, 10:31h)
O salário já é pequeno, as condições de trabalho são horríveis, a falta de perspectiva na carreira é completa; daqui a pouco quem vai querer ser professor?
A Xuxa, a Viviane Senna e o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Victor Civita?
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