29.3.21

Qualidade da educação pública e luta de classe

 






A qualidade da educação em nossas escolas públicas, nas quais estão matriculados 47,3 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos em 179,5 mil escolas, está longe de atingir a qualidade socialmente referenciada que queremos. No PISA de 2018, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes da Escola Básica, aplicado em países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), constata-se que nossos estudantes sequer conseguem atingir a média dos seus colegas de outros países em leitura, matemática e ciências. Só 2% alcançam os mais altos níveis (Nível 5 e 6).

Este desastre, porém, não constitui novidade para os cientistas da educação. A literatura com excelentes diagnósticos sobre os problemas da educação brasileira é farta. Praticamente todos os problemas foram examinados à exaustão. É uma pena, porém, que grande parte são abordados como objetos em si, hipostasiados, sem apreendê-los como “rica totalidade com múltiplas determinações e relações” (Marx, 2018). A própria OCDE, por exemplo, não considera isoladamente o baixo desempenho em leitura, matemática e ciências dos nossos estudantes; ela os relaciona diretamente com a condição de classe deles: os estudantes mais favorecidos superam os menos favorecidos em leitura por 97 pontos; dito de maneira mais direta: quanto mais altas as posições socioeconômicas das famílias dos estudantes, tanto maior tende a ser os seus desempenhos escolares na comparação com os estudantes das classes inferiores. E essa mesma organização diz ainda que:

No Brasil, os alunos de baixo desempenho são agrupados em certas escolas com menos frequência do que a média da OCDE, e os alunos de alto desempenho agrupam-se com mais frequência em certas escolas.

A dualidade público-privada de oferta educacional que a OCDE destaca é, pois, uma questão de classe, ricos e pobres, e tem deixado de receber a atenção devida nas análises acadêmicas, permitindo escapar que escolas para os mais desfavorecidos e escolas para os mais favorecidos espelham a sociedade capitalista.  É uma dualidade cruel porquanto confirma a posição de classe dos indivíduos, determinando que os mais pobres sempre se situem na base da pirâmide social. Uma simples observação empírica comprova isso com facilidade e confirma que a formação de quadros indispensáveis aos negócios da classe dominante ocorre nas escolas particulares que sejam tops de linha no país e no estrangeiro; a classe média se satisfaz com escolas particulares de segunda linha e à classe baixa se designa um único destino: escolas públicas sucateadas que produzem desempenhos sofríveis em qualquer comparação internacional.

Por mais que setores da sociedade civil se organizem e reivindiquem escolas públicas de qualidade socialmente referenciada, os setores que defendem os interesses das classes dominantes se erigem em oposição e constroem enormes barreiras nos âmbitos políticos, legislativos e judiciários. Muito embora a organização dos setores mais progressistas favoráveis à melhoria da qualidade da educação seja numericamente proporcional à dos seus oponentes, as lutas ainda continuam desiguais em função de dificuldades de angariar fundos e espaços nas mídias. De um lado e outro, são diversos os movimentos, fundações e institutos que empunham bandeiras pela educação pública de qualidade, gratuita, universal e laica, porém com interesses e propostas diferentes. Do lado do empresariado se organizam mais poderosamente os seguintes movimentos, fundações e institutos - Movimento Todos pela Educação, Movimento Escola Sem Partido, Fundação Roberto Marinho, Fundação Victor Civita, Fundação Bradesco, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Itau Cultural, Fundação Xuxa Meneghel, Fundação Lemann, Instituto Ayrton Senna, Instituto Qualidade no Ensino etc.; estes lutam por uma educação pautada pela pedagogia das competências exclusivamente voltada para a qualificação do trabalhador.

No âmbito da sociedade política, ou do estado como preferirem, as lutas também não são menores ou menos intensas. No Poder Legislativo, na Câmara dos Deputados, composta de 513 representantes do povo, a “bancada da educação” tem exatos 109 deputados, dos quais 84% são brancos, em maioria empresários de educação (28,4%), advogados (13,8%), professores (11%) e médicos (10,1%); do total desta bancada, 33% pertencem também à bancada empresarial.

A proposta de superação desta dualidade feita pelo empresariado objetiva encampar e dirigir a rede pública de educação conforme os seus interesses de lucros cada vez maiores. Não por acaso a rede pública é bombardeada diariamente em jornais, programas jornalísticos e humorísticos de televisão e é invariavelmente comparada com as escolas particulares; nunca, porém, com escolas particulares pequenas que povoam a periferia das grandes cidades e com desempenhos inferiores a inúmeras escolas públicas. É uma estratégia de desmoralização da rede pública de escolas para futuro controle. Quanto mais for inculcado socialmente a precariedade e a falta de qualidade da educação pública, tanto mais fácil deverá ser transferência de seu controle, assim como dos fundos públicos de educação, o grande alvo do empresariado da educação.

Os grandes grupos empresariais de educação já se organizam e se estendem pelo território nacional visando sufocar o sistema de ensino público. O melhor exemplo é sem dúvida o Grupo COGNA Educação, antiga Kroton-Anhanguera, atualmente uma holding que engloba as seguintes instituições: Kroton, Pitágoras, Platos, Saber,  Vasta Educação e Somos Educação, contabilizando hoje mais de 2,4 milhões de matrículas da Educação Básica ao Ensino Superior e operando 54 unidades próprias de ensino básico em 13 estados. Em 2019 o Grupo COGNA Educação fez negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e Nova Iorque (NYBOT) que atingiram a casa dos 36,7 bilhões de reais.

A luta pela educação pública e gratuita de qualidade para todas as crianças e jovens, como se observa, é intensa e envolve poderosas forças. Um dos contendores neste campo de batalha, o empresariado de educação do Brasil, está longe de pretender renunciar aos seus negócios. E isto vem desde os tempos de colônia sem nunca passar despercebido. Há muito, diversos estudiosos já chamaram a atenção para o egoísmo das nossas elites e para o delimitado horizonte cultural que ela impõe aos mais desfavorecidos:

afinal de contas, a cultura cívica era a cultura de uma sociedade de democracia restrita, inoperante, na relação da minoria poderosa e dominante com a massa da sociedade. Essa massa era a gentinha; e, para ser a gentinha, a educação seria como uma pérola, que não deveria ser lançada aos porcos (ou então, seria uma espécie de ersatz, uma coisa elementar, rudimentar, que ajudaria a preparar máquinas humanas para o trabalho). Florestan Fernandes (1989, p.125).

Como se pode observar, são opostos os interesses de quem defende a educação de qualidade. De um lado, a classe que defende a escola pública de qualidade, gratuita, universal e laica que não condene os jovens à eterna exploração das suas forças de trabalho; de outro, a classe de empresários de todos os ramos da economia interessada na escola que apenas os qualifique para o trabalho e reprodução a cidadania existente em todas as suas dimensões.

A luta de classe é clara e exatamente por isso é também uma luta política, como já afirmado por Marx; os seus contendores têm plena consciência dos seus interesses e se organizam para defendê-los no âmbito da máquina do Estado. São estas formas antagônicas de organização que mobilizam os integrantes de cada classe e a sociedade em geral. 

12.3.21

Pais que expõem os filhos à contaminação pelo coronavírus. Que pais são estes?



Em 2019 o debate sobre o "homeschooling" foi intenso. Mesmo quem não tinha filhos defendeu o direito de os pais educarem, eles próprios, os seus filhos em casa. Este debate veio na onda do Escola Sem Partido, um projeto saído de mentes conservadoras, retrógradas, machistas e misóginas que criticava o "marxismo cultural" hegemônico nas escolas brasileiras e visava proteger as crianças e jovens da ideologização feita pelos professores, como se todos fossem marxistas, comunistas...

Foi uma coisa de louco. De repente surgiram "especialistas" em educação doméstica e proliferaram os exemplos de sucesso vindos dos Estados Unidos. Eu mesmo participei da Comissão Julgadora de Mestrado, para o meu desgosto, na qual o mestrando escreveu um panegírico com o maior entusiasmo possível. A despeito das minhas críticas, a dissertação foi aprovada mais por seu aspecto formal do que pelo seu discutível conteúdo. 

Mas aí, chegou a pandemia de Covid-19, o isolamento social e a educação doméstica. Os pais se tornaram professores, explicadores, acompanhantes... Em junho já surgiam depoimentos nas redes sociais de pais que estavam mordendo os cotovelos. Eles sentiam na pele a dificuldade de ensinar uma criança pequena a escrever a palavra "bola" e o quanto é difícil o trato escolar com adolescentes. Pasmem, pela primeira vez em muito tempo, os professores passaram à categoria de heróis indispensáveis. Pais, mães, tios, avós começaram a sentir na própria pele as agruras do magistério. Começaram até a criticar a baixa remuneração e o desprestígio social dos professores.

O ano de 2021, para os pais com filhos pequenos e adolescentes, era pura esperança de um novo normal. O ano era como a pomba que traria o raminho de oliveira para mostrar aos passageiros da Arca de Noé que o dilúvio estava  passando. A pandemia seria vencida pela vacinação em massa. Os filhos voltariam para as escolas. Um novo normal se desenhava no horizonte. Pareciam ter esquecido o que é "homeschooling". Deixaram, porém, de considerar as trapalhadas e a incompetência do presidente que governa este país desde 2018. Ele, ao invés de liderar a superação da crise sanitária que ceifou - e ainda ceifa a vida de milhares - assumiu uma atitude de gente irresponsável: "É uma gripezinha". "Esta gente está de mi-mi-mi". "Um bando de maricas". "A máscara é sufocante". "Eu, com meu passado de atleta, não serei derrubado ". E pronunciou ainda muito outras bobagens. 

Resultado, 2021 começou mal, pior que o ano anterior. As comemorações de final de ano, o verão com praias lotadas, o carnaval e as irresponsáveis e grandes aglomerações promoveram uma segunda onda de matança e o  novas cepas do vírus, mais letais e fulminantes. Pressionado pelos pais, os sistemas de educação abriram e fecharam escolas, criaram ofertas híbridas (presenciais e remotas) e até o presente o consenso abrir ou fechar  está distante de ser conquistado. Escrevo este texto em março e, à falta de liderança nacional na luta pela vida, uma luzinha para se acender lá longe: os estados do Nordeste se organizaram em consórcio para tentar deter a mortandade. Na grande maioria, os governadores estão decretando medidas rígidas de restrição à circulação de  pessoas, comércio e escolas. e os filhos voltam a ficar em casa para desespero dos familiares. 

Em meio a esta pandemia o comportamento das famílias com filhos pequenos e adolescentes faz a gente chorar, tão grande a falta de noção e amor aos seus rebentos. A despeito de todos os riscos de contaminação pressionam para haver a volta às aulas. Preferem expor os filhos à contaminação a tê-los em casa e a praticar "homeschooling", o tão sonhado projeto de educar conforme os valores familiares. 

O comportamento de pais e mães está a merecer profundos e rigorosos estudos sociológicos, psicológicos etc. Eu não consigo entender o que se passa na cabeça deles. Por que preferem expor os seus filhos à contaminação por um vírus de tamanha letalidade a mantê-los em casa? Que amor de pai e mãe é este que prefere sujeitar os filhos aos perigos fora do lar? 

Fica ai o apelo aos sociólogos, psicanalistas de massas, psicólogos. O exemplo de Freud e Reich que, diante da ascensão fascista, queimaram as suas pestanas para descobrir por que as populações se deixam e deixaram encantar por regimes inumanos e genocidas.  






6.3.21

A face mais perversa da Escola

 



Zacarias Gama[1]

 

A sociedade brasileira tem algumas características interessantes. Uma delas é tratar as coisas pelas suas aparências mais exteriores. A escola, por exemplo, de tão presente em nossas vidas desde muito cedo penetra em nossas consciências e nos marca pela regularidade, imediatismo e evidência e nos referimos a ela a partir de boas ou más vivências, lembranças etc. Definimo-la pelos seus aspectos mais externos e tangíveis. Formamos dela uma compreensão muito limitada, difusa e incoerente por ser imediata e superficial. Isto, entretanto não quer dizer que todos temos a mesma compreensão, ela varia de grupo para grupo, lugar e tempo. O senso comum nunca é unitário. Professores, estudantes, autoridades, empresários e políticos têm diferentes compreensões dela. Para os primeiros pode ser lugar de trabalho, realizações e decepções; para os estudantes, local de encontros, socialização, coleguismo e também de sacrifícios e sucesso. As autoridades, por sua vez, podem compreendê-las como sendo dóceis ou difíceis face às determinações provenientes das suas repartições, precarizadas ou não quando precisam usar verbas de manutenção, enfim, as escolas para as autoridades gerenciais podem ser um conjunto de muitas preocupações. Os empresários veem-nas como locais de formação de trabalhadores dóceis, competentes e conformados com a exploração que sofrem nos lugares de trabalho. Os políticos, por último, podem usá-las para promover seus mandatos e garantir votos, para fazer delas cabides de empregos para seus apaniguados.

Indagando a alguns estudantes universitários o que é escola, verifico que a compreendem como “local de aprendizagens, conhecimentos, relações, é uma família”; “espaço onde são discutidas muitas coisas, é um local de trocas e aquisição de conhecimentos”; “a escola é um ambiente de aprendizagem, reflexão”; “para além do espaço formal – salas de aula etc. –também compreende a comunidade, a rua, a igreja, ambiente familiar...”; “um local para além da aprendizagem, é local de convivência, socialização”; “é a segunda casa da gente”. É preocupante a compreensão idílica da escola, ela inunda a sociedade e até alguns meios acadêmicos. É o império do senso comum. Como Gramsci recomenda, é imperativo, então, substituir didaticamente esse senso comum e as velhas concepções de escola que perduram na mentalidade popular. O esforço de elevação da compreensão popular é a nossa finalidade se queremos uma elite intelectual de um novo tipo.

O fato é que as compreensões de senso comum da escola se constituem como desviantes dos caminhos que precisamos trilhar em nossas lutas pela escola emancipadora e de educação de qualidade referenciada socialmente. Ela precisa ser compreendida como importante aparelho privado de hegemonia com finalidades bem definidas em nossa sociedade capitalista de classe. Para início de uma nova compreensão do que é a escola, ela exige ser definida como instituição que organiza, faz mediações e reproduz a hegemonia da classe dominante, constituída pelos grandes empresários da indústria, comércio, agricultura, serviços e bancos. A Lei de Diretrizes e Bases a considera como instituição pública destinada a oferecer “educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade”, com princípios e objetivos bem ajustados legalmente. O Artigo 2 da LDB, por exemplo, define que a sua finalidade é “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” e, para tanto, são estabelecidas bases curriculares comuns a partir das quais isto deve acontecer, considerando currículos, livros didáticos, tempos de aulas, duração do ano letivo etc.

Quando nos referenciamos à LDB tudo fica bem claro: a escola prepara os estudantes para a cidadania própria de uma sociedade de classes, na qual a propriedade privada determina o lugar social de cada um. E a escola faz isto com esmero, destacando os melhores alunos e indicando-os para representá-la nos mais variados eventos escolares e oficiais; ensinando crianças e jovens a cuidarem dos seus materiais escolares individuais e pondo neles os seus nomes, deixando bem à mostra quais são os seus proprietários; atribuindo notas aos trabalhos escolares de forma a condicioná-los a não reclamar quando os patrões estabelecerem o valor dos seus salários; a serem produtivos, empenhados e pontuais na realização das suas tarefas...

Ela, a escola, ainda os qualifica para o trabalho ao adotar pedagogias e currículos referenciados por competências e habilidades requisitadas pelo mundo do trabalho. Marise Ramos, no Dicionário da Educação do Profissional da Saúde, enfatiza que a “possibilidade virtuosa de relacionar as atividades pedagógicas às situações de trabalho e à prática social em geral está no horizonte (...) da formação plena dos trabalhadores”. Em outras palavras, esta escola subordinada pelo mercado condena crianças e jovens a não terem outra vida senão a de trabalhadores assalariados. O condutivismo-funcionalismo-construtivismo que impregna as pedagogias e currículos referenciados a competências e habilidades não deixa margem para as crianças e jovens serem sujeitos do mundo em que vivem, ou nas palavras de Johann Comenius, as escolas com tais pedagogias e currículos não os preparam “para conhecer as coisas, que, neste maravilhoso anfiteatro (O Planeta Terra), se oferecem às suas observações, como para fazer aquelas coisas que se lhes ordena que façam, como, finalmente, para gozar daquelas que, com mão liberal, o benigníssimo Criador lhes oferece (como a um hóspede que esteja em sua casa) para a fruição deles” (Capítulo X). Tampouco os prepara para os mais altos postos de trabalho e remuneração, o ensino que oferece é para a massa de trabalhadores de origem pobre, periférica e negros; as grandes empresas corporativas, em todas as áreas de produção e serviços, forma a sua elite de CEOs, executivos e poderosos gerentes com egressos de instituições educativas de altas mensalidades na qual a presença de brancos constitui a regra.

Por sorte, as escolas são marcadas pela dialeticidade dos seus cotidianos impedindo que seja totalmente formativa conforme as determinações capitalistas. Os professores, estudantes, funcionários e pais de alunos são capazes de lhe impor resistências, quando se insurgem contra a escola reprodutivista forçando-a a ir para diante, a relaxar os determinantes do capital.

O campo em que a escola se inscreve é constantemente tensionado pelas forças sociais organizadas. Movimentos, institutos e fundações claramente capitalistas, tais como o Todos pela Educação, Escola Sem Partido, Instituto Ayrton Senna, Itaú Cultural, Fundação Xuxa Meneguel, Fundação Roberto Marinho, Fundação Bradesco e tantos outros, se empenham em garantir que a escola cumpra o seu desígnio de desenvolver com qualificação e competência o futuro trabalhador e cidadão burguês. São egoístas por excelência porquanto exigem uma formação especial, exclusiva para a sociedade burguesa. Ou como dizia Marx, exigem a “formação de homens egoístas, de homens separados dos homens e da comunidade (...), recolhidos aos seus interesses privados e aos seus caprichos privados (Sobre a questão judaica, Boitempo, 2010, p. 48 e 50).

Outros movimentos, em oposição, lutam por uma escola que deixe de condenar eternamente as nossas crianças e jovens à condição de trabalhadores assalariados explorados. Não querem a formação de seres humanos passivos, simplesmente conformados pela sociedade capitalista. Eles lutam pela emancipação dos seres humanos de seu egoísmo, individualismo, isolacionismo e desorganização. Lutam por uma escola que permita aos homens e mulheres se organizarem como “forças próprias, como forças sociais, e, em consequência, não mais se separem de si mesmos a força social na forma da força política. Enfim, que sejam observadores e conhecedores das coisas, trabalhadores associados e fruidores das delícias que existem na face da Terra.

A palavra de ordem destes movimentos, essencialmente humanistas e cristãos, é que as escolas deixem de adorar o “deus do mercado”, que se “mundanizou” e “se transformou em deus do mundo”.



[1] Professor Titular da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenador Geral do PPG Desenvolvimento e Educação Teotonio dos Santos (ProDEd-TS)

14.2.21

Um ministro-pastor à frente do MEC luta contra as forças do inferno que se levantam contra nós

 


Zacarias Gama


Uma das características do governo do presidente Jair Bolsonaro, além de inúmeras outras igualmente negativas, é a nomeação de pessoas despreparadas para os ministérios, as quais desaparecem do cenário nacional em pouco tempo por absoluta incompetência. O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, é o mais flagrante exemplo, ninguém tem conhecimento de suas ações ou, até mesmo, se continua vivo. O Bolsonaro, o detestado presidente, colocou-o no mais frio congelador, simplesmente por causa de seu potencial político de apagar qualquer luz do presidente. Atualmente, tudo indica que o ministro da Saúde seguirá o mesmo caminho, mas não por causa de algum potencial, mas sim por conta de sua magistral incompetência e capacidade de fazer trapalhadas logísticas. 

O atual ministro da Educação, o pastor e professor Milton Ribeiro, oriundo da Universidade Mackenzie, é outro grande exemplo de incompetência. Ele assumiu o MEC em 16 de julho, comprometendo-se a “dialogar com a sociedade e a observar os valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público” (Ministério da Educação, 16/07/2020).  Seis meses após a sua posse, em suas aparições públicas, a imagem que constrói de si é a de um indivíduo inepto, incapaz e despreparado para a função. Tentando justificar a sua inação, ele próprio afirma que o seu papel na educação é, sobretudo, espiritual, muito mais que político. Seu grande propósito é “tirar o Brasil de um rumo de desastre, em que valores como família, como criação de filhos, o que é certo, o que é errado, pudessem ser novamente restabelecidos. A Bíblia diz que haveria um tempo em que as pessoas iriam chamar o que é errado de certo, e o que é certo de errado” (Correio Braziliense, 25/01/2021), sequer se dando ao trabalho de ser coerente com o seu compromisso de posse.

Além de ser homofóbico – "Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe" (UOL Notícias, 24/09/2020) – é alheio às dificuldades dos estudantes de acessar as plataformas de ensino remoto em pleno isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19. Para ele tais dificuldades são problemas do Brasil e a retomada das aulas presenciais é da alçada dos estados e municípios. O MEC nada tem a ver com o desenrolar do ano letivo, em seu modo de ver.   

A realização do ENEM – Exame Nacional de Ensino Médio – de estrita responsabilidade de sua pasta, não obstante os insistentes pedidos de adiamento pela sociedade, justiça e estudantes, teve os maiores índices de abstenção da história, 51,5%. Para sua excelência, o ministro-pastor, os estudantes ficaram com medo de se contaminarem, quando a sociedade sabe que as ausências foram devidas à suspensão das aulas nas escolas e cursos preparatórios e às dificuldades de acesso às plataformas de ensino remoto. Mais de 40% dos estudantes têm dificuldade de acessar sinais de internet de boa qualidade por falta de dinheiro e recursos técnicos. Os seus computadores são precários, os telefones são pré-pagos e a zonas de sombra impedem que se conectem. O Enem virtual realizado em fevereiro também foi um fracasso, a evasão chegou a mais de 68% no primeiro dia de provas (31 de janeiro), confirmando-se a exclusão dos mais pobres.

Um ministro-pastor, que ocupa a pasta da educação por desígnio divino, conforme diz – e que prefere responsabilizar “as forças do inferno que se levantam contra nós” é um escárnio e uma demonstração do apreço do governo do presidente Bolsonaro às grandes questões nacionais. Não se trata apenas de incompetência, mas de um projeto de volta ao passado, ao período anterior ao Iluminismo. A noção de progresso econômico e social é jogada às traças com a entrega da exploração de recursos nacionais a companhias estrangeiras; as autoridades religiosas voltam a propagar crenças religiosas e sociais fundamentalistas e irracionais; e a cada pronunciamento ou documentos oficiais são disseminadas dúvidas e incertezas artificiais que negam a ciência e os seus benefícios.

A grande façanha do professor Milton Monteiro, à frente do MEC, é, sem dúvida, descumprir o compromisso de “dialogar com a sociedade, observar e garantir os valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público”.  Sua felicidade é “orar com um grupo de ministros num salão onde as coisas mais infames eram ditas e feitas” (Correio Braziliense, 25/01/2021).

25.1.21

Trinta traços característicos das Escolas Novas

 Escola Nova





M. ADOLPHE FERRIÈRE

(Traduzido por Zacarias Gama do original em francês, publicado no livro no prefácio escrito por M. ADOLPHE FERRIÈRE para o livro UNE ÉCOLE NOUVELLE EN BELGIQUE, de A. FARIA DE VASCONCELLOS (Directeur de l’École nouvelle de Bierges-lez-Wawre (Belgique) Professeur à l’Université Nouvelle de Bruxelles). NEUCHATEL PARIS DELACHAUX & NIESTLE S.A. LIBRAIRIE FISCHBACHER ÉDITEURS. O material para este volume foi apresentado pela primeira vez em três palestras no J. J. Rousseau Institute em Genebra, em fevereiro e março de 1915. [sem data de publicação]. 

 

1.       A Escola Nova é um laboratório de pedagogia prática. Ele procura desempenhar o papel de desbravador ou pioneiro das escolas públicas, mantendo-se a par da psicologia moderna nos meios que implementa, e das necessidades modernas de vida espiritual e material para os fins que ela atribui a sua atividade.

2.       A Escola Nova é um internato, pois somente a influência total do ambiente em que a criança se move e cresce permite uma educação plenamente efetiva. Isso não significa de forma alguma que coloque o sistema de internato como um ideal divergente a ser aplicado sempre e em qualquer lugar: longe disso. A influência natural da família, se saudável, deve, em todo caso, ser preferida à dos melhores internatos.

3.       A Escola Nova está localizada na zona rural, o que constitui o ambiente natural da criança. A influência da natureza, a possibilidade que ela oferece de se entregar com amor ao trabalho nos campos, fazem dela o melhor complemento à cultura física e à educação moral. Mas, para a cultura intelectual e artística, a proximidade com a cidade é desejável.

4.       A Escola Nova agrupa seus alunos em casas separadas, cada grupo de dez a quinze alunos vivendo sob a direção material e moral de um educador assistido por sua esposa ou colaborador. Os meninos não devem ser privados da influência feminina adulta, nem do ambiente familiar que os internatos não podem oferecer.

5.       A coeducação dos sexos, praticada em internatos e até ao final dos seus estudos, tem dado, em todos os casos em que possa ser aplicada em condições materiais e espirituais favoráveis, resultados morais e intelectuais incomparáveis, tanto para meninos quanto para meninas.

6.       A Escola Nova organiza trabalho manual para todos os alunos, com duração mínima de uma hora e meia por dia, geralmente de 2 a 4 horas, trabalho obrigatório com finalidade educacional de utilidade individual ou coletiva, e não profissional.

7.       Entre o trabalho manual, a carpintaria ocupa o primeiro lugar, pois desenvolve habilidade manual e firmeza, senso de observação exata, sinceridade e autodomínio. O cultivo da terra e a criação de pequenos animais se enquadram na categoria de atividades ancestrais que toda criança ama e deve ter a oportunidade de realizar.

8.       Ao lado do trabalho regular, é criado um espaço de trabalho livre que desenvolve os gostos da criança, desperta o seu espírito inventivo e a sua engenhosidade.

9.       O cultivo do corpo é assegurado pela ginástica natural realizada a nu, ou pelo menos com o tronco nu, assim como pelos jogos e desportos.

10.   As viagens a pé ou de bicicleta, com acampamentos em barracas e refeições preparadas pelas próprias crianças, desempenham um papel importante na Escola Nova. Essas viagens são preparadas com antecedência e servem como auxiliares de ensino.

11.   Em termos de educação intelectual, a Nova Escola busca abrir a mente por meio de uma cultura geral de julgamento, ao invés de um acúmulo de conhecimento memorizado. O pensamento crítico surge da aplicação do método científico: observação, hipótese, verificação, lei. Um núcleo curricular obrigatório realiza a educação integral, não como uma instrução enciclopédica, mas como uma possibilidade de desenvolvimento, por meio da influência do meio ambiente e dos livros, de todas as faculdades intelectuais inatas da criança.

12.   A cultura geral está associada a uma especialização que é primeiro espontânea: cultura dos gostos predominantes de cada criança, depois sistematiza e desenvolve os interesses e faculdades do adolescente no sentido profissional.

13.   O ensino é baseado em fatos e experiências. A aquisição de conhecimentos resulta de observações pessoais (visitas a fábricas, trabalhos manuais etc.) ou, na sua falta, observações de terceiros recolhidas em livros. Em qualquer caso, a teoria segue a prática; nunca o precede.

14.   O ensino é, portanto, também baseado na atividade pessoal da criança. Isso pressupõe a associação mais próxima possível com o estudo intelectual do desenho e os mais diversos trabalhos manuais.

15.   O ensino também é baseado nos interesses espontâneos da criança: 4 a 6 anos, idade de interesses dispersos ou idade para brincar - 7 a 9 anos, idade de interesses ligados a objetos concretos imediatos - 10 a 12 anos, idade de interesses específicos específicos ou idade de monografias - 13 a 15, idade de interesses abstratos empíricos - 16 a 18 anos, idade de interesses abstratos complexos: psicológicos, sociais, filosóficos. As notícias da escola ou de fora dão origem, com adultos e crianças, a aulas e discussões pontuais que ocupam lugar de destaque na Escola Nova.

16.   O trabalho individual do aluno consiste em pesquisar (fatos em livros, em jornais, etc.) e em classificar (de acordo com um quadro lógico adaptado à sua idade) documentos de todos os tipos, bem como no trabalho pessoal e na preparação para as palestras a serem ministradas nas aulas.

17.   O trabalho coletivo consiste em uma troca e um acordo conjunto ou elaboração lógica de documentos particulares.

18.   Na Escola Nova, o ensino propriamente dito é limitado ao período da manhã - geralmente das 8h. ao meio-dia. - A noite; de uma a duas horas, dependendo da idade, de quatro e meia a seis horas, ocorre o "estudo" pessoal. Crianças menores de dez anos não têm dever de casa para fazer sozinhas.

19.   Poucos assuntos são estudados por dia; apenas um ou dois. A variedade surge não dos assuntos tratados, mas da maneira de tratar os assuntos, diferentes modos da atividade sendo implementados por sua vez.

20.   Poucos assuntos são estudados por mês ou por período. Um sistema de cursos, semelhante ao que regulamenta o trabalho na Universidade, permite que cada aluno tenha o seu horário individual.

21.   A educação moral, como a educação intelectual, deve ser exercida não de fora para dentro, por meio da autoridade imposta, mas de dentro para fora, por meio da experiência e da prática gradual do pensamento crítico e da liberdade. Com base neste princípio, algumas escolas novas aplicaram o sistema de república escolar. A assembleia geral, composta pelo diretor, professores, alunos e às vezes até funcionários, constitui a gestão eficaz da escola. O código de leis é feito por ela. A lei é o meio que tende a regular o trabalho da comunidade com vistas aos fins por ela perseguidos. Este sistema altamente educativo, quando viável, supõe uma influência preponderante do diretor sobre os "dirigentes" naturais da pequena república.

22.   Na ausência de um sistema democrático integral, a maioria das novas escolas são constituídas como monarquias constitucionais: os alunos procedem à eleição dos chefes, ou prefeitos, antes de uma responsabilidade definida.

23.   Encargos sociais de todos os tipos podem possibilitar uma assistência mútua eficaz. Esses encargos para o serviço da comunidade são confiados a todos os pequenos cidadãos por sua vez.

24.   Recompensas ou sanções positivas consistem em oportunidades dadas aos espíritos criativos para aumentar seu poder criativo. Eles se aplicam ao trabalho gratuito e, assim, desenvolvem o espírito de iniciativa.

25.   25. As punições ou sanções negativas estão em correlação direta com a falta cometida. Em outras palavras, visam colocar a criança em uma posição, por meios adequados, para melhor atingir no futuro a meta considerada boa que ela mal alcançou ou que não alcançou.

26.   A emulação dá-se, sobretudo, pela comparação feita pela criança entre a sua obra presente e a sua anterior, e não exclusivamente pela comparação da sua obra com a dos seus companheiros.

27.   A Escola Nova deve ser um ambiente de beleza, como Ellen Key escreveu. A ordem é a primeira condição, o ponto de partida. Arte industrial que se pratica e com o qual se rodeia, conduziu à arte "pura", capaz de despertar, na natureza dos artistas, os sentimentos mais nobres.

28.   A música coletiva, cantada ou orquestrada, exerce influência  profunda e purificadora sobre aqueles que a amam e praticam. As emoções que ela cria não devem ser perdidas por nenhuma criança.

29.   A educação da consciência moral consiste principalmente, nas crianças, em histórias que provocam nelas reações espontâneas, verdadeiros juízos de valor que, ao serem repetidos e acentuados, acabam por vinculá-los vis-à-vis, eles próprios e outros. Este é o objeto da "leitura noturna" da maioria das novas Escolas.

30.   A educação da razão prática consiste principalmente nos adolescentes em reflexões e estudos sobre as leis naturais do progresso espiritual, individual e social. A maioria das escolas novas observa uma atitude religiosa não confessional ou interconfessional acompanhada de tolerância para com vários ideais, na medida em que representam um esforço para o crescimento espiritual do homem.

16.1.21

Noção, Conceito e Categoria: um esforço de precisão

 





Zacarias Gama[1]

 

Introdução

A demanda do presente texto surge das reflexões e debates realizados nos encontros da disciplina Fórum Interdisciplinar II e IV, ministradas às quartas feiras, para estudantes em nível de Mestrado e Doutorado do curso de pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O princípio de rigor metodológico que a disciplina determina torna-se imperativa a maior precisão dos termos “noção”, “conceito” e “categoria”, dada a necessidade de não serem usados indistintamente.

O esforço de precisar os termos noção, conceito e categoria é também um exercício de mediação possível de ser feito, principalmente quando não se pretende embarcar na estranha onda da “novilíngua”, ou da nova “vulgata planetária”, que se difunde pela mídia internacional com idéias ou noções de globalização, flexibilidade, governabilidade, empregabilidade, exclusão, comunitarismo, etnicidade, minoridade etc., obliterando categorias importantes como capitalismo, classe, exploração, dominação, desigualdade etc. sob “o pretexto de obsolescência ou de presumida impertinência”, e, mais grave, fazendo “tábula rasa das conquistas sociais e econômicas resultantes de lutas sociais” (Bourdieu e Wacquant (2000)[2].

Ao contrário dos “mestres da economia” do capitalismo tardio que, segundo Bourdieu e Wacquant, “podem dormir tranquilos porque encontraram o seu Pangloss”[3], eu prefiro estar vigilante. Afinal, como diz o poeta gaúcho, “não desculpes, porém, coisa nenhuma, que eles bem sabem o que estão fazendo...” (Quintana, 1997)[4].

Noção

O termo “noção” (de origem Greco-latina), no Novo Dicionário Aurélio em sua versão eletrônica é traduzido como “conhecimento”, “ideia”, e também como “concepção”, “conceito”. Esta sinonímia é coerente com a que encontramos no Dicionário de Filosofia de N. Abbagnano (1970)[5], no qual a noção aparece também como conhecimento ou ideia que se tem de alguma coisa, e significa qualquer ato simples de operação cognitiva; como concepção indica uma classe especial de atos ou operações cognitivas.

Na Antiguidade e na Idade Média, o termo foi empregado com o seu sentido geral sempre indicando a primeira expressão ou impressão de uma coisa. Para Kant, segundo Abbagnano, o termo tinha significado restrito. Era utilizado por Kant como “conceito puro enquanto tem sua origem unicamente no intelecto”. Para expressar o significado geral Kant usava a palavra “representação”.

Ainda segundo Abbagnano, o termo permanece hoje com o seu significado genérico.  Bourdieu e Wacquant (2000) no texto “A nova bíblia de Tio Sam”, usam-no com esta significação geral, inclusive aproximando-o ao de “ideia”, isto é, no sentido de “ter alguma ideia sobre determinada coisa”, como por exemplo, sobre o que significa “eficácia” do mercado, “identidades” (culturais), “responsabilidade” (individual).

No sentido em que estes autores franceses usam o termo, a ideia geral ou noção tende “a ocultar as condições e os significados originais”, isto é, as suas raízes históricas. Neste caso, apresenta-se impregnado ideologicamente, prestando a transformar-se “num senso comum universal, fazendo esquecer que, na maioria das vezes, apenas exprime (de forma truncada e irreconhecível) realidades complexas e contestadas de uma sociedade histórica particular”. Além de tais impregnações, conforme Gramsci nos adverte, as noções de senso comum contêm equívocos, podem ser contraditórias e multiformes; referir-se a ele, senso comum, como prova de verdade é um contrassenso (Gramsci, 199, p. 118)[6]. A mídia internacional, como se pode constatar, de fato, difunde noções como ‘globalização’, ‘flexibilidade’, ‘governabilidade’ etc., “patrões, altos funcionários internacionais, intelectuais de projeção e jornalistas de primeiro escalão”, sem preocupações de depurar as ideias que contêm. Segundo afirmações de Bourdieu e Wacquant ela fala uma estranha novilíngua.

O termo ideia, em filosofia, como qualquer objeto do pensamento humano ou como representação geral de uma coisa, foi usado nesse sentido por Descartes, pelos empiristas, e ainda hoje é usado com esta mesma significação pelos filósofos contemporâneos conforme as informações de dicionarista de filosofia.  Nos dicionários da maioria das línguas modernas também é usada como representação de alguma coisa; até para Descartes, a ideia “tem, em primeiro lugar, uma realidade como ato de pensamento subjetivo ou mental. Mas em segundo lugar, tem também uma realidade objetiva, conquanto represente um objeto” (cit. por Abbaganano)

Na perspectiva da filosofia materialista e histórica de Marx ter noção de uma coisa indica o grau de conhecimento dessa mesma coisa na sua essência, pelo fato de a “obviedade não coincidir com a perspicuidade e a clareza de uma coisa em si” (Kosik, 2002)[7]. A noção é construída pela aparência da coisa, por sua aparência fenomênica. Os fenômenos e as suas formas mais imediatas são reproduzidos espontaneamente no pensamento comum como realidade. A práxis utilitária cotidiana é que cria o pensamento comum, nos familiariza com as coisas, cria-nos o mundo da aparência.

Em Gramsci o termo noção é o mesmo que senso comum, o que é, em si mesmo muito limitado, difuso e incoerente. A noção como senso comum, diz esse pensador, não é única, é coletiva. Há muitas noções sobre a mesma coisa porque elas “são produtos e um devir histórico” (1999, p. 99)[8]. A noção é a primeira ideia que formamos das coisas a partir dos sentidos. Por esta razão é empírica, imediata, superficial.

É Gramsci quem ainda afirma que o senso comum tem, no entanto, um núcleo sadio que merece ser desenvolvido e transformado “em algo unitário e coerente”. De fato, as noções que nós, maioria de brasileiros, temos acerca do Planeta Júpiter ou da longínqua Mongólia podem ser e, evidentemente, são superficiais, mas de maneira alguma são descartáveis. Segundo o pensador sardo, as noções desde que desenvolvidas podem vir a ser chamadas de bom senso, uma vez transformadas em algo unitário e coerente. Torna-se evidente, assim, porque não é possível, para Gramsci, a separação entre a chamada filosofia “científica” e a filosofia “vulgar” e popular, sendo esta última tão somente um conjunto desagregado de ideias e de opiniões.

Conceito

O Novo Dicionário Aurélio em sua versão eletrônica, significa-o como “representação dum objeto pelo pensamento, por meio de suas características gerais”. O Dicionário Michaelis online também o explica como “representação mental das características gerais de um objeto”. Ambas as significações, ainda pouco distanciadas das nossas primeiras noções, supõem a existência de um processo mental no qual ocorre a conceituação. Interessante observar a influência de Hegel em ambos os dicionários lhes dando uma fundamentação teórica para situar a conceituação e o conceito no âmbito da mente, como resultado de uma mediação intelectiva, de uma idealização.                             

Filosoficamente, no entanto, nos dizeres de Abbagnano (1970), o significado do termo conceito pode ser mais amplo, “podendo incluir toda espécie de sinal ou procedimento semântico, qualquer que seja o objeto a que se refere, abstrato ou concreto, próximo ou longínquo, universal ou individual”. O conceito, neste sentido, pode ser referente a coisas ou fatos reais: podemos ter conceitos sobre coisas inexistentes (dragões, elfos, nirvana, Atlântida etc.) ou passadas (o assassinato de César, o dilúvio bíblico etc.), cujas “existências” têm um sentido específico e difícil de ser verificado. A função primeira e fundamental do conceito é a mesma da linguagem conforme Abbagnano, ou em outras palavras: sua função é a comunicação.

Os filósofos encontram dois problemas relativos ao termo conceito: o primeiro relaciona-se à sua natureza, e o segundo, à sua função. Para o problema de natureza eles, também conforme Abbagnano, apresentaram duas soluções: tomar o conceito como expressando a essência das coisas, pela qual não podem existir de modo diferente daquilo que são; e como sendo um signo. Esta segunda solução não será objeto das minhas preocupações neste texto.

Entre os filósofos que tomaram o conceito como essência das coisas encontramos Hegel. Em sua acepção “o conceito acaba por penetrar para surpreender a pulsação interna e senti-la bater debaixo da aparência exterior”. É “a essência necessária da realidade, o que faz com que ela (a essência) não possa ser diferente do que é” (Hegel, 1997, prefácio, p. xxxvi)[9]. Quando se apreende o que está por debaixo da essência é preciso então representar a coisa e expressá-la em linguagem. Se a representação é verdadeira em seu conteúdo, ela então assume a forma do conceito, ela, a representação, “recebe dele a sua verdade, por ele se corrige e se conhece” (1997, p. 3).       

A solução relativa à sua função, ainda segundo o mesmo dicionário de filosofia, apresenta quatro alternativas: final, instrumental, organizadora e previsão. A função final não é outra senão o expressar ou o revelar a substância das coisas – nesse sentido o que lhe compete é a descrição dos objetos de forma a permitir o seu conhecimento; a instrumental vincula-se ao seu caráter classificador; a organizadora diz respeito à organização dos dados da experiência de modo que se estabelecem entre eles conexões de natureza lógica; e por último, a função de prever, que implica em antecipar ou projetar a solução de dado problema. Para diversos filósofos, diz Abbagnano, essa função antecipadora “é o instrumento de que a ciência se serve para predizer a experiência futura à luz da experiência passada”. O mesmo dicionarista também nos informa que são as funções de organizar e prever os tipos fundamentais dos conceitos científicos que estão presente nas ciências, não são, portanto, descritivas nem classificatórias. Na Matemática e na Física os conceitos, como instrumentos de previsão, permitem introduzir procedimentos especiais de cálculo.

Mas nem sempre os conceitos são exatos e verdadeiros. Hobsbawn, por exemplo, em seu texto “Etnia e Nacionalismo na Europa de hoje” (2000)[10], evidenciou as dificuldades do uso generalizado deles ao se debruçar, nomeadamente, sobre os conceitos de “etnia” e “nacionalismo”. Para ele o conceito de etnia não constitui um “conceito político e, que, apenas em certas circunstâncias pode adquirir funções políticas”; em seu ponto de vista, a etnia é tão somente um modo “definível de expressar um sentimento real de identidade grupal”, nada mais do que isto. O nacionalismo, por sua vez, diz-nos o historiador inglês, quando destituído de um projeto político, “é uma palavra vazia”.      

Em Marx o conceito resulta de um processo de reflexão/mediação sobre a coisa, diante dela. É no momento da conceituação que se torna possível a sua análise, isto é, a decomposição do todo ainda em seu estado de pseudoconcreticidade para tentar apreender a sua essência, captar o movimento existente nela, assim como “as relações existentes na realidade social dos homens como uma união dialética entre o sujeito e objeto”. É neste momento de mediação que se historiciza o todo, ao ser considerado como produto da práxis humana.

O conceito, no entanto, contém ainda alguns equívocos, contradições e múltiplas formas. Marx mais de uma vez nos adverte para as ciladas que um conceito pode apresentar, como por exemplo nesta passagem um pouco longa:

O capital provém inicialmente da circulação, na verdade, do dinheiro como seu ponto de partida. Vimos que o dinheiro que entra na circulação e ao mesmo tempo dela retorna a si é a última forma em que o dinheiro supera a si mesmo. É ao mesmo tempo o primeiro conceito do capital e a sua primeira forma fenomênica (Marx, 2011, p. 309)[11].

 

O fato de ainda ser possível existir no conceito alguns resíduos inadequados impede-nos tomá-lo como prova de verdade, embora já seja hierarquicamente superior à noção. Ele já se contrapõe ao senso comum e pode “aniquilar quase fulminantemente os efeitos do ópio intelectual” (Gramsci, 2001, p. 266)[12]. Mas, somente encontraremos o bom senso científico como categoria, como síntese construída em conformidade com os rigores dos métodos científicos.

Categoria

O termo categoria no Novo Dicionário Aurélio, filosoficamente, quer dizer “alto grau de generalidade que define, em perspectivas e níveis diversos, domínios do conhecimento e da ação. O seu dicionarista afirma que, segundo Kant, a categoria define cada um dos conceitos fundamentais do entendimento puro, que confere unidade aos juízos”.

No Dicionário de Filosofia que estou usando, o mesmo termo quer dizer “qualquer noção que sirva como regra para a investigação ou para a sua expressão lingüística em qualquer campo”. Está dito nele que as categorias historicamente foram consideradas como “determinações da realidade e em segundo lugar, noções que servem para indagar e para compreender a própria realidade”. Aristóteles, nos dizeres de Abbagnano, a compreendeu como sendo “os modos em que o ser se predica das coisas nas proposições, portanto, como sendo os predicados fundamentais das coisas”.

Como determinação do ser, segundo Abbagnano, Hegel a retomou na perspectiva do entendimento aristotélico, considerando as categorias como “determinações do pensamento”. O mesmo dicionarista nos informa que, na verdade para Hegel, as “determinações do pensamento são, ao mesmo tempo, as determinações da realidade (pela identidade por ele formulada de realidade e razão e que a única categoria que o mestre do idealismo alemão reconheceu verdadeiramente como tal foi a própria “realidade-pensamento, isto é, autoconsciência: o Eu é a única essencialidade pura do ente ou a categoria simples”. Para Hegel, continua, a categoria deve ser considerada não como uma determinação do ser em geral, mas como a consciência, isto é, a própria realidade construída mentalmente. Esta teoria do Eu e da Consciência ou do Espírito como única categoria hegeliana tornou-se lugar comum às diversas formas do idealismo. Heidegger, ainda segundo o nosso dicionário, se opôs a Hegel afirmando que a categoria “é a determinação, não da autoconsciência ou do Eu, mas do ser das coisas”.

Indo diretamente à fonte hegeliana é possível comprovar a sua consideração às ciências como categorias:

Se elas são na verdade ciências, de modo algum se situam no terreno da opinião e das considerações subjetivas, e não consiste a sua exposição numa arte de alusões, de subentendidos, mas são antes um enunciado inequívoco, aberto e bem definido do significado e do alcance daquilo que se diz. Não pertencem, assim, à categoria do que constitui a opinião pública (1997, p. 293)[13].

Em outras correntes da filosofia contemporânea, conforme o mesmo dicionarista, como por exemplo no empirismo lógico e no próprio marxianismo, a categoria subordina o conceito, elas se apresentam como novas regras convencionais que presidem ao uso dos conceitos. Hoje é consensual ser sempre possível a proposição de novas categorias como instrumentos conceituais de investigação e de expressão lingüística. Observe-se, porém, que tanto no empirismo lógico como no marxianismo, as categorias deixam de ser consideradas à moda hegeliana “como determinação do ser em geral” e passam a ser consideradas como a consciência”. Em ambos, empiristas e marxianos, as categorias derivam de mediações[14] em face à realidade concreta, e não como reflexões intelectivas circunscritas ao âmbito da mente. Marx adverte que a aceitação sem críticas das categorias, como por exemplo as de “valor do trabalho” e “preço natural do trabalho”, gerou confusões e contradições insolúveis, “enquanto ofereceu à Economia vulgar uma base segura de operações para sua superficialidade, dedicada principalmente ao culto das aparências” (Marx, 1996, p. 168)[15]. Mais adiante, Marx chama atenção para o fato de a Economia vulgar “substituir uma categoria econômica por uma frase sicofanta” (Idem, p. 230).                 

Cury, seguindo a linha marxiana, no livro “Educação e contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativo” (1987)[16], define as categorias como conceitos básicos “que pretendem refletir os aspectos gerais e essenciais do real, suas conexões e relações. Elas surgem da análise de multiplicidade dos fenômenos e pretendem um alto grau de generalidade”. Elas, porém, não são definitivas nem possuem fim em si mesmas. Só adquirem sentido como instrumento de compreensão de uma realidade social concreta e, ainda assim, precisam ser assumidas pelos grupos ou agentes que participam de uma determinada prática transformadora. As categorias, na perspectiva de Cury, não “dão conta de toda e qualquer realidade para todo o sempre”, elas estão diretamente relacionadas aos movimentos do real e das nossas mediações concretas.

À compressão de Cury, eu acrescentaria uma pequena observação, enfatizando que as categorias não apenas se apresentam como sínteses de uma realidade social concreta. Elas se apresentam também negação da negação, porquanto é a negação do conceito que, por sua vez, já negara a noção. Objetivamente o que elas estabelecem são novos conceitos sobre os fundamentos rigorosos do materialismo histórico-dialético.  

As categorias assim compreendidas possuem duas funções: como sínteses do real e indicadores de uma estratégia política. Contudo, somente adquirem consistência se contextualizadas historicamente, na medida em que a realidade, como síntese de múltiplas determinações, está em constante movimento e expansão. Saturá-las, portanto, de historicidade é o que impede se isolarem em estruturas conceituais intelectualizadas e o que lhes permite se mesclarem de realidade e movimento.

Acácia Kuenzer (2008)[17] afirma ser difícil o trabalho com as categorias, porque conduz nossas investigações “à produção de conhecimento objetivo e [nos] permitem avançar, para além das aparências fenomênicas, na progressiva e histórica compreensão da realidade”. Ela argumenta que são as categorias “que servem de critério de seleção e organização da teoria e dos fatos a serem investigados, a partir da finalidade da pesquisa, e fornecem o princípio de sistematização que vai lhe conferir sentido, cientificidade, rigor, importância”.

Kuenzer estabelece didaticamente uma diferenciação entre categorias metodológicas e categorias de conteúdos. As primeiras são as do próprio materialismo histórico-dialético: práxis, totalidade, contradição, mediação etc., e correspondem “às leis objetivas, e, portanto, universais, no sentido de permitirem investigar qualquer objeto, em qualquer realidade”. As demais, as categorias de conteúdos, emergem de “recortes particulares” definidos a partir do objeto e da finalidade da investigação em curso, e podem ser passiveis de detalhamentos em subcategorias.

Uma chave importante

O texto de Barata Moura (1997)[18] neste momento nos é bastante é útil e serve como chave para mais esclarecer o presente texto, principalmente quando retomamos as respostas que dá às questões: “por que é necessário o saber que se qualifica como científico” e “qual o télos da ciência? ”.

Ora, a construção do presente texto que busca apurar os termos “noção”, “conceito” e “categoria”, como já disse inicialmente, surgiu em virtude do rigor metodológico que vem regendo a disciplina Fórum Interdisciplinar II e IV, assim nada melhor do que enfatizar que a elaboração do saber científico é mais do que um exercício para simples erudição; esta elaboração indica momentos de mediação e de desalienação e é, então, por seu intermédio que superamos os saberes cristalizados, intuitivos, fundados nas aparências enganadoras das coisas: as noções de senso comum. A cientificidade do saber tem a ver, portanto, com a possibilidade concreta de compreensão do real, indispensável, inclusive, à sua transformação.

A finalidade da ciência, nos dizeres de Barata-Moura, é a de dar inteligibilidade aos processos, e é por meio de procedimentos científicos rigorosos que podemos estabelecer a conexão dos fenômenos, seus vínculos internos, e quais os seus movimentos e tendências. Um trabalho “científico” que se apóie nas vulgatas divulgadas e propaladas pela mídia internacional, em noções e conceitos abstratos, não nos permite avançar, quando muito favorece a construção de saberes em bases tautológicas, inúteis para a transformação da realidade.  

 

Rio de Janeiro, 2016[19]

 

 



[1] Professor Titular da Faculdade de Educação, Coordenador Geral do Programa de Pós-graduação Desenvolvimento e Educação Theotonio dos Santos (ProDEd-TS), Colaborador do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) e Membro do Comitê Gestor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

[2] BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Löic. A nova bíblia do Tio Sam. São Paulo: Le Monde Diplomatique- Brasil, maio de 2000.

[3] Pangloss é personagem do romance “Candide”, de Voltaire, de l759, e é um otimista por excelência, assim como possuidor de uma impressionante ingenuidade. Para ele o mundo era naturalmente perfeito e acreditava que todo mal é passageiro, porque a ele sucede um bem maior. Pangloss vive num mundo irreal e nega o real. Para ele tudo estava certo, que tudo o que existia era naturalmente assim mesmo. Na aventura voltairiana, Pangloss adoece, vira mendigo, fica cego e sem orelha.  Não morre apesar de ter sido enforcado e passar parte da vida preso nas galeras. Nada arrefece o seu otimismo, para ele as coisas vão da melhor forma possível.

[4] QUINTANA, Mário. De como perdoar aos inimigos. In Espelho Mágico. Porto Alegre: Globo, 1951.

[5] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1970.

[6] GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, volume 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

[7] KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

[8] GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, volume 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

[9] HEGEL, G. W. Friedrich. Princípios da filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Clássicos)

[10] HOSBAWN, Eric. Etnia e nacionalismo na Europa de hoje. In BALACRISNAN, Gopal (Org.). Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. Pp. 271-282.

[11] MARX, K. Grundrisse. Rio de Janeiro: Boitempo/Editora UFRJ, 2011.

[12] GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere, volume 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

[13] HEGEL, G. W. F. Princípios da filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Clássicos)

[14] Há grande diferença entre as concepções de mediação tal como foram desenvolvidas por Hegel e Marx. No presente trabalho, estou assumindo a categoria mediação na perspectiva marxiana. Para mais aprofundamento ver GAMA, Z. A categoria mediação em Hegel, Marx e Gramsci: para suprimir ruídos conceituais. Rio de Janeiro: Ciência & Luta de Classes, 46 Ano I Vol.2 N°2, 2015.

[15] MARX, K. O Capital – Livro Primeiro, Tomo II. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. (Os Economistas).

[16] CURY, C. R. J. Educação e contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativo. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1987.

[17] KUENZER, Acácia. Desafios teórico-metodológicos da relação trabalho-educação e o papel social da escola. In FRIGOTTO, Gaudêncio (Org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis: Vozes, 2008, pp. 55-75.

[18] MOURA, José Barata. Marx e a cientificidade do saber. In Marxismo e Subjetividade. Lisboa: Editorial “Avante!”, 1997.

[19] Uma primeira versão deste texto, foi socializada com os meus orientandos no segundo semestre de 2008. Esta atual foi revista, está mais ampliada e aprofundada.

Que educação é esta? Até quando?

Imagem Copilot Com o gado bolsonarista berrando loucamente pelas ruas, me pergunto sobre o que entregaram as aulas de História, Geografia, ...