6.1.13

A Direita para o Social e o Brasil para Quem?



O livro “Direita para o Social e Esquerda para o capital” (SP, Xamã, 2010), organizado pela Professora Lúcia Neves, pesquisadora da EPSJV/Fundação Oswaldo Cruz, é uma leitura obrigatória para todos que queiram compreender as “novas configurações históricas da ordem do capital” no Brasil. Neste livro tanto se demonstra como a direita tornou-se hegemônica em distintos domínios: emprego, renda, segurança, educação, esportes, saúde, assistência social, cultura etc., como expõe os seus principais teóricos estrangeiros (Giddens, Touraine, Schaff, Putnam, Drucker, Boaventura Santos, Manuel Castells, Morin, Bauman, Hardt e Negri), a formação brasileira de intelectuais da nova pedagogia da hegemonia e as principais instituições de formação e disseminação de uma concepção de mundo pautada pelo neoliberalismo: Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE).

As análises deste livro também ratificam as teses defendidas por André Singer ao demonstrar as novas expressões do conservadorismo brasileiro (Le Monde Diplomatique Brasil, 02 de Outubro de 2012). Segundo Singer a esquerda brasileira perdeu a hegemonia no plano cultural que possuía nas décadas de 1960 e 1980. Ele assinala que a partir da eleição de Fernando Henrique Cardoso uma fração importante da nossa intelectualidade passou a defender os valores de mercado, a ascensão individual, a competição e os valores ligados a uma intensa mercantilização dos espaços públicos. O que impressiona Singer é atual e escancarada hegemonia das manifestações ideológicas desta fração levada a efeito por articulistas, autores de livros, produtores influentes e até artistas...

A leitura do livro organizado por Neves e as teses de Singer permitem-nos afirmar que o mesmo fenômeno é, sobretudo, visível no campo da educação brasileira. Também este campo está dominado pelos intelectuais orgânicos do capital articulados a partir do consenso em torno da qualidade da educação oferecida às nossas crianças e jovens. Os intelectuais orgânicos da educação em bases neoliberais e inúmeros profissionais de ensino devidamente cooptados já conseguiram redefinir a formação escolar a partir de competências e habilidades requeridas pelo mercado, já ativaram uma profunda reforma em todo o nosso sistema educacional e conseguiram submete-lo a metas e parâmetros avaliativos que sobejamente interessam ao capital.

Os intelectuais e profissionais de educação contra hegemônicos, assim como os partidos políticos, universidades, instituições sociais e fundações culturais de partidos políticos e outras entidades, parecem estar em estado de profunda catatonia diante desta articulação que impõe a hegemonia do capital e facilita a entrada da direita pelo social. É como se todos estivessem incapacitados de qualquer ação face aos articulistas das principais revistas e jornais conservadores (Veja, Isto É, O Globo, Estadão e Folha de São Paulo), aos noticiários das redes de televisão (Globo, RBS, Band e Record), aos escritores de livros e artigos científicos e aos programas de pós-graduação alinhados a esta nova pedagogia da hegemonia.

Costumo pensar que, mesmo querendo, muitos prefeitos e governadores contra hegemônicos encontrariam dificuldades para ter à disposição materiais pedagógicos e projetos de gestão escolar com valores indispensáveis à formação do cidadão não idiotizado e de um projeto societário de libertação, justiça, equidade, democracia e de república. A pedagogia da hegemonia no Brasil reina e se alastra incontestável.

Quais entidades culturais e educacionais contra hegemônicas nacionais poderiam concorrer e sobrepujar o expansionismo da Fundação Roberto Marinho, Instituto Ayrton Senna, Instituto Alfa e Beto, Kroton Educacional, Civita (Abril Educação), Grupo Galileo Administradora de Recursos Educacionais? Quais poderiam fazer frente ou regular a entrada avassaladora de grupos estrangeiros no campo do ensino superior - Cartesian Capital Group, Grupo Britânico Pearson, Laureate International Universites, Multi Brasil S/A, DeVry etc.?(1)

Quanto mais tardia a reação contra hegemônica maior deverá ser o atraso para a construção de uma socialibidade não pautada pelos valores do mercado, tanto mais difícil será desalojar ou empatar com a direita para o social. Quanto mais adiaremos nosssas ações?




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(1) CM CONSULTORIA. Fusões & Aquisições no Ensino Superior – quadro resumo. Junho de 2012. Disponível no site: www.cmconsultoria.com.br. Acesso em Janeiro de 2013.




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