O INEP divulgou o
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB - 2020) que, conforme a
Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases, é um indicador que informa
à sociedade a quantas anda a corrida pelo oferecimento de educação de qualidade
do Brasil. No Relatório é visível o esforço de municípios e estados para obter
os melhores indicadores, merecendo destaque imediato os estado de Pernambuco e
Ceará que já apresentam índices iguais e superiores a muitos estados das
regiões Sul, Centro-oeste e Norte. Os municípios do Nordeste com os melhores
índices estão nos estados do Ceará (Mucambo, 9.4; Independência, 9.1; Milhã,
8.7; Pires Ferreira, 8.5; Sobral, 8.4) e Alagoas (Coruripe, 8.9; Teotônio
Vilela, 8.4).
Quando se
estabelece o Ideb 4.0 como ponto de corte, 11 estados ficam acima e os demais
abaixo. As regiões NE e N têm a maior quantidade de estados com Ideb abaixo de
4.0 respectivamente sete e cinco), seguidas da região Centro Oeste, com dois
estados. As regiões Sudeste e Sul, as mais ricas do país, têm cada uma, um
estado que ainda não consegue um indicador igual a 4.0; estes são os estados do
Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O estado ou
município que queira aumentar o seu IDEB precisa gerenciar a qualidade da
educação que oferece. É o que se chama de controle da qualidade, tomado de
empréstimo das grandes corporações industriais. O estado do Ceará parece estar
se tornando uma espécie de expertise em tal gerenciamento e não por acaso vem
surpreendendo o país com os índices obtidos. Internacionalmente o destaque vai
para a gerencialista Polônia que, nos últimos anos vem aparecendo no Top 10 do
ranking do PISA - OCDE.
A qualidade da
educação que os estados e municípios mais bem sucedidos oferecem, no entanto,
não tem garantia de ser para a vida toda. Parece qualidade e durabilidade de
produto de $ 1,99: usar e jogar fora. Explico. A engenharia educacional traça o
plano de trabalho e as suas metas; produz material adequado e facilitador ao
cumprimento das metas; os professores operam com base nos manuais de produção
de qualidade; os estudantes dão conta de produzir bons resultados desde que haja
muita pressão da escola e das famílias. Em cidades do extremo Oriente como
Hong-Kong, Cingapura, Taipei etc. é isto o que acontece e são campeãs nos
rankings citados. Contudo, na correria para bater as metas esse gerencialismo
da educação menospreza os processos de interação entre os alunos e de mediações
importantes para elaborações superiores e mais complexas. Sem a devida atenção
a estes dois processos as fixações são esquecidas com grande brevidade.
A educação ofertada
na Finlândia não é gerencialista como na Polônia e alguns estados brasileiros.
Educa-se para a vida toda e permite aos estudantes fortes momentos de interação
(troca de conhecimentos entre pares, professores, familiares e amigos) e de
mediações. Daí a sua presença constante nos rankings internacionais. A mediação
- uma categoria filosófica - é o esforço mental que fazemos diante da realidade
(buscando compreender e interpretá-la) ou diante de textos escritos procurando
apreender os seus aspectos essenciais e mais subjetivos. É um constante
alargamento da leitura de mundo, à qual se referia Paulo Freire.
Por conta do
gerencialismo produtor de elevados índices de qualidade a minha comemoração a
tais conquistas é ainda muito tímida. É um avanço, sem dúvida e há que aplaudir
todos os esforços realizados. Contudo, para atingirmos a educação de qualidade
referenciada socialmente, isto é, reconhecida pela sociedade, é preciso ainda
gerenciar não apenas o preparo para resolver provas, testes internacionais ou ter
respostas na ponta da língua. Nossa educação precisa ter valor de uso, que
permita ao educando não apenas ler o mundo, mas transforma-se a si mesmo e ao
mundo; ser senhor de onde habita e do mundo, permitindo-se ser ainda, ao mesmo
tempo, singular e universal. Também precisa ter valor de troca no sentido de garantir
ao estudante a atenção às suas necessidades materiais e espirituais. Esta
educação se faz com professores bem preparados e não apenas com professores
batedores de metas, estes são bons funcionários sob ordens estritas ou
rigorosos planos de trabalho, nada mais do isto.
Precisamos desta
educação de qualidade reconhecida pela sociedade com urgência, sobretudo para
um tempo de aceleradas transformações promovidas pela Revolução
Técnico-científica que, ao digitalizar o mundo do trabalho e da produção, vem
expurgando trabalhadores desde os mais simples aos mais qualificados. Esta
Revolução vem liquidando profissões e postos de trabalho, criando com
voracidade uma nova pobreza constituída de ex-executivos endividados e
desempregados, famílias flageladas por desastres naturais, herdeiros
empobrecidos, sonegadores autuados, políticos e autoridades públicas vítimas de
graves processos de lacração social,
"além das milhares de pessoas que sobrevivem com baixos salários em
territórios de exclusão e possuem contratos precários de trabalho ou se
encontram na informalidade e que precisam de assistência" (Jacy
Curado, 2012). A extrema
pobreza já atinge hoje 13,5 milhões de brasileiros e, segundo dados do
1º trimestre de 2020, 27,6 milhões perderam os seus empregos.
Por todas estas razões, somente bater as metas do IDEB é
pouco. O Brasil com fome e desempregado exige mais, muito mais.
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