Zacarias Gama
Uma das características do governo do presidente Jair
Bolsonaro, além de inúmeras outras igualmente negativas, é a nomeação de
pessoas despreparadas para os ministérios, as quais desaparecem do cenário nacional
em pouco tempo por absoluta incompetência. O ministro da Cidadania, Onyx
Lorenzoni, é o mais flagrante exemplo, ninguém tem conhecimento de suas ações
ou, até mesmo, se continua vivo. O Bolsonaro, o detestado presidente, colocou-o
no mais frio congelador, simplesmente por causa de seu potencial político de
apagar qualquer luz do presidente. Atualmente, tudo indica que o ministro da
Saúde seguirá o mesmo caminho, mas não por causa de algum potencial, mas sim
por conta de sua magistral incompetência e capacidade de fazer trapalhadas
logísticas.
O atual ministro da Educação, o pastor e professor Milton
Ribeiro, oriundo da Universidade Mackenzie, é outro grande exemplo de incompetência. Ele
assumiu o MEC em 16 de julho, comprometendo-se a “dialogar com a sociedade e a observar
os valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público” (Ministério
da Educação, 16/07/2020).
Seis meses após a sua posse, em suas
aparições públicas, a imagem que constrói de si é a de um indivíduo inepto,
incapaz e despreparado para a função. Tentando justificar a sua inação, ele
próprio afirma que o seu papel na educação é, sobretudo, espiritual, muito mais
que político. Seu grande propósito é “tirar o Brasil de um rumo de desastre, em
que valores como família, como criação de filhos, o que é certo, o que é
errado, pudessem ser novamente restabelecidos. A Bíblia diz que haveria um
tempo em que as pessoas iriam chamar o que é errado de certo, e o que é certo
de errado” (Correio
Braziliense, 25/01/2021), sequer se dando ao trabalho de ser coerente com o
seu compromisso de posse.
Além de ser homofóbico – "Acho que o adolescente que
muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto
familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas,
algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe" (UOL
Notícias, 24/09/2020) – é alheio às dificuldades dos estudantes de acessar as
plataformas de ensino remoto em pleno isolamento social imposto pela pandemia
de Covid-19. Para ele tais dificuldades são problemas do Brasil e a retomada
das aulas presenciais é da alçada dos estados e municípios. O MEC nada tem a
ver com o desenrolar do ano letivo, em seu modo de ver.
A realização do ENEM – Exame Nacional de Ensino Médio – de
estrita responsabilidade de sua pasta, não obstante os insistentes pedidos de
adiamento pela sociedade, justiça e estudantes, teve os maiores índices de
abstenção da história, 51,5%. Para sua excelência, o ministro-pastor, os estudantes
ficaram com medo de se contaminarem, quando a sociedade sabe que as ausências foram
devidas à suspensão das aulas nas escolas e cursos preparatórios e às
dificuldades de acesso às plataformas de ensino remoto. Mais de 40% dos
estudantes têm dificuldade de acessar sinais de internet de boa qualidade por
falta de dinheiro e recursos técnicos. Os seus computadores são precários, os
telefones são pré-pagos e a zonas de sombra impedem que se conectem. O Enem
virtual realizado em fevereiro também foi um fracasso, a evasão chegou a mais
de 68% no primeiro dia de provas (31 de janeiro), confirmando-se a exclusão dos
mais pobres.
Um ministro-pastor, que ocupa a pasta da educação por desígnio
divino, conforme diz – e que prefere responsabilizar “as forças do inferno que
se levantam contra nós” é um escárnio e uma demonstração do apreço do governo
do presidente Bolsonaro às grandes questões nacionais. Não se trata apenas de
incompetência, mas de um projeto de volta ao passado, ao período anterior ao Iluminismo.
A noção de progresso econômico e social é jogada às traças com a entrega da
exploração de recursos nacionais a companhias estrangeiras; as autoridades
religiosas voltam a propagar crenças religiosas e sociais fundamentalistas e irracionais;
e a cada pronunciamento ou documentos oficiais são disseminadas dúvidas e
incertezas artificiais que negam a ciência e os seus benefícios.
A grande façanha do professor Milton Monteiro, à frente do
MEC, é, sem dúvida, descumprir o compromisso de “dialogar com a sociedade,
observar e garantir os valores constitucionais da laicidade do Estado e do
ensino público”. Sua felicidade é “orar
com um grupo de ministros num salão onde as coisas mais infames eram ditas e feitas”
(Correio
Braziliense, 25/01/2021).