A rigor, a esquerda latino-americana sempre se colocou de forma radicalmente contrária ao neoliberalismo. A produção acadêmica dos anos 1990 em diante é prova disso: um vasto esforço intelectual de combate ao liberalismo e às suas múltiplas variações vindas de diferentes partes do mundo. No entanto, nesse percurso, percebe-se uma dissociação entre teoria e prática — visível em setores que, mesmo formulando críticas contundentes, acabaram por se deixar contaminar pelo próprio discurso que denunciavam.
Marilena Chauí alertou de forma cristalina: o pós-modernismo é a ideologia do neoliberalismo. Muitos ignoraram essa advertência, e o pós-modernismo se espalhou como tiririca-do-brejo, sem resistência proporcional e com efeitos corrosivos.
Na educação, isso se traduziu num derrame de diplomas esvaziados de conteúdo. Sob a lógica neoliberal, consolidou-se a sentença de que “o mercado é o grande juiz”. A seleção dos “melhores” passou a ser atribuída não ao processo formativo, mas ao próprio mercado de trabalho. Como consequência, instalou-se um darwinismo social às avessas: reprovar estudantes significava prejuízo, e muitas instituições privadas optaram por empurrar a responsabilidade de filtrar a mediocridade para o futuro empregador.
As artes também foram capturadas por esse espírito. Sob o mote da “morte da criatividade”, abriu-se espaço até para produções destituídas do mínimo talento. Como observa Fredric Jameson, “nesse ambiente, as imagens, os signos, tudo parece dado a uma apreciação estética imediatista e presentista, sem nenhum projeto crítico amplo que lhes dê suporte e sentido”. Sem as críticas estruturantes do modernismo, o campo artístico foi inundado pelo pastiche — na maioria das vezes, em sua forma mais efêmera e cínica.
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