Meu blog é muito opinativo e quero mudar de rumo. Quero ser menos professoral, como me recrimina um amigo meu. Ele não tolera que eu seja professoral. Então deixarei de ser, se é que isso é possível. De qualquer jeito tentarei. Mas, de antemão, vou avisando. Toda a minha vida profissional transcorre em espaços escolares, nunca fui outra coisa diferente de ser professor.
Hoje recebi um e-mail de um aluno da UERJ se voluntariando para ingressar no meu grupo de pesquisa. Fico sempre fascinado com iniciativas semelhantes. Gosto de quem corre atrás do que quer. Nem é preciso dizer que vou inclui-lo imediatamente, mesmo sem o conhecer pessoalmente.
Serei coerente com o que digo para muitos que querem aprofundar os seus estudos: colem-se nos pesquisadores que podem agregar valor à sua formação.
Muitos alunos chegam à faculdade, passam ali pelo menos quatro anos em suas salas e laboratórios, e saem quase como entraram. Muitos procuram matrículas com professores pouco exigentes ou dosam os seus currículos com mais ou menos professores exigentes. Esses últimos talvez sejam mais espertos. Mas o melhor mesmo é fazer menos matérias com quem pode agregar valor ao conhecimento a ser acumulado. De preferência colar em algum professor que ofereça bolsa de IC.
Quem faz isso, vai longe e a passagem da graduação para o doutorado fica muito facilitada. Há muito anos um estudante negro, pobre e muito inteligente acercou-se de mim. Tornamos amigos e para minha alegria tive a honra de ser convidado a participar da sua banca de doutorado há pouco dias.
31.7.18
8.7.18
É preciso mudar o Art. 4º da LDB, com urgência.
Os candidatos a cargos legislativos e executivos (vereadores, deputados e prefeitos) em outubro deste ano parecem formigas em época de correição. Formam grupos de construção das suas plataformas e prometem... prometem com toda força que somente os imperativos hipotéticos permitem. No campo da educação as promessas são variadas e fantásticas. Nas bandeiras de todos está a tão sonhada oferta de educação de qualidade para todos. Mas, quando questionados sobre a tal qualidade da educação há engasgos ou até mesmo a promessa de uma educação com um padrão Fifa, como se tudo que vem do mundo do futebol valesse a pena.
Nenhum candidato dá atenção ao ponto central da educação de qualidade sobre o qual é preciso alterar, isto é, ao Artigo 4º da LDB (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) onde se lê: "Os padrões mínimos de qualidade de ensino, [são] definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem". Ora, este artigo é fundamentalmente quantitativista. Em sua ótica a educação terá um padrão mínimo de qualidade quando os índices, por exemplo, de reprovação e evasão são baixos. A variação dos indicadores para cima ou para baixo dá a qualidade da educação oferecida. Muitas escolas atestam as suas qualidades dando publicidade à quantidade de alunos aprovados em vestibulares e outros concursos, outras não se cansam de tornar público as notas obtidas no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) apurado pelo MEC/INEP. A nota dada pelo Ideb é a média de desempenho dos alunos na Prova Brasil e no Sistema de Avaliação da Educação Básica. De acordo com tais práticas quantitativistas os progressos da educação brasileira são grandes, muito embora o país ainda fique mal situado nas avaliações internacionais realizadas pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No exame aplicado em 2016, com estudantes de 70 países, o Brasil ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª posição em leitura e na 66ª posição em matemática.
Uma boa relação alunos x professores, quantidade de computadores por alunos, bibliotecas, etc., privadas no prédio escolar não se traduz imediatamente em melhoria da qualidade da educação oferecida. Muitas escolas particulares chegam a ser luxuosas e nem por isso têm boa qualidade de educação.
E por que? Por uma razão simples: um corpo docente e pedagógico com baixa qualificação produz uma educação de baixa qualidade. Se temos um corpo docente bem qualificado, como ocorre nas instituições federais de todos os níveis de ensino, mesmo que em ambientes precarizados, ele ainda assim produz mais qualidade de educação. Os empregadores preferem contratar estudantes oriundos de instituições federais de ensino porque eles agregam valor às suas empresas. Tais empregadores sabem que os jovens formados em tais instituições sabem usar melhor os conhecimentos aprendidos, são mais safos e mais empreendedores.
Ou seja, a educação de qualidade têm valor de uso e de troca. De nada adianta o estudante saber de cor uma enciclopédia se não é capaz de aplicar os seus conteúdos ou troca-los no mercado de trocas simbólicas por vantagens pessoais. De que adianta ao estudante gabaritar a Prova Brasil ou o Enem se não sabe usar os seus conhecimentos para fazer um grande viagem com uma mochila às costas? De que lhe adiantam 11 anos de escolaridade se nada consegue além de baixos salários nos postos de trabalho?
Somente a educação com valor de uso e troca retira o estudante de situações atávicas e a se situar melhor no mundo e aos olhos das pessoas. A sociedade referencia os seus conhecimentos, tem o estudante como referência, toma-o como referência de pessoa bem educada. O mesmo ocorre com a instituição em que estudou, todos querem nela matricular os seus filhos.
É daí que surge a urgente necessidade de alterar o Art. 4º da LDB e os métodos de apurar a qualidade da educação brasileira. Outros indicadores precisam ser construídos para apurar a educação de qualidade referenciada socialmente. Alguns rankings universitários já podem nos dar boas pistas de como avaliar as universidades referenciadas socialmente. O Ranking Universitário da Folha de São Paulo, por exemplo, tem como critérios a qualidade de ensino oferecida tendo como referência a formação dos professores e relevância das suas pesquisas e estudos; internacionalização dos corpos docentes e discentes e dos trabalhos científicos realizados, inovação de produtos e empregabilidade dos egressos.
Ser bom na realização de provas, ter históricos escolares com altos coeficientes de rendimentos (CR) é uma coisa; outra bem diferente é tirar proveito pessoal do que aprende para se elevar espiritualmente e melhorar o seu posicionamento pessoal, tornando-se referência aos olhos da sociedade.
3.7.18
De volta aos trabalhos
Olá, estamos de volta...
Depois de muito tempo com dificuldade de acessar o blog, consegui recuperar a chave de entrada e, com muito otimismo, pretendo atualiza-lo.
O Brasil mudou e mudou para pior. Se antes, até 31 de agosto de 2016, caminhávamos celeremente na construção de um país mais democrático, menos desigual e com menor dependência ao capital internacional, o golpe que derrubou a presidente Dilma Roussef nos colocou de marcha-ré. A ascensão ao poder de uma fração da burguesia nacional com o apoio do Poder Judiciário, Legislativo, Midiático e de fortes grupos econômicos nacionais e internacionais está se traduzindo na retração de direitos sociais, transferências de divisas e riquezas naturais para empresários estrangeiros... enfim, estamos de volta à velha política entreguista, antinacional, antidemocrática e impopular.
A educação é a primeira e grande vítima: congelamento de investimentos por vinte anos, reformas que a adequam às demandas imediatas do mercado... um horror! As atuais propostas de reforma da educação de qualidade se restringem às fórmulas dos indicadores de qualidade apurados matematicamente, como se as quantidades por si mesmas se transformassem automaticamente em qualidades.
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