Em matéria assinada por Josie Jerônimo, veiculada na edição do dia 21/1/2008, do Jornal “O Dia Online”, ficamos sabendo que os docentes aprovados em concurso realizado ontem, dia 20 de janeiro, estarão assumindo turmas no dia 18 de fevereiro. O resultado do concurso sai no 13 e cinco dias depois já serão regentes de turma!
O Secretário Estadual de Educação quer contar com estes professores no dia 18, mesmo sem terem sido submetidos a exames médicos, diz-nos a jornalista.
À primeira vista, é louvável o empenho do Sr. Secretário. Face ao déficit existente, sua atitude é, de fato, de se elogiar. Mas, se nos detemos um pouco que seja, começamos a entender que é o mesmo que mandar uma tropa para o Haiti, Iraque ou para a Faixa de Gaza tão logo os recrutas estejam engajados. Se há disposição para se engajar, supõe-se que uma vez fardados saibam o que fazer no campo de batalha.
Não há treinamento prévio, nada. Talvez nem saibam atirar ou identificar seus objetivos. Continuando com a metáfora bélica, nossos “soldados” da educação estão indo enfrentar as tensões existentes nos campi escolares sem sequer conhecer os cinco fatores fundamentais para a vitória, enunciados pelo Mestre Sun Tzu no seu clássico manual, “A Arte da Guerra”, publicado há 25 séculos atrás.
E quais são estes fatores?
O primeiro fator é a influência moral, isto é a harmonia que deve existir entre povo (professores recém-concursados) e dirigentes. Se os professores não são tratados com benevolência, retidão e confiança, é impossível que trabalhem unidos, satisfeitos e obedientes aos seus líderes.
O segundo fator é o clima, aqui entendido como ambiente escolar. As ações educativas que os futuros docentes desempenharão a partir do dia 18 de fevereiro estão em conformidade os climas das diferentes escolares da rede pública?
O terceiro fator é o terreno, ou seja, as distâncias, as facilidades e dificuldades de acesso, se a comunidade é violenta ou não etc. O próprio Secretário já anunciou que a maioria será alocada em São Gonçalo e na Baixada Fluminense, sem se importar se o docente conhece o seu futuro local de trabalho, que relação vai estabelecer com a cultura local etc. É como se cada professor fosse um “soldado universal”, destes de filmes americanos que podem lutar em quaisquer lugares deste planeta e de outros.
O quarto fator tem a ver com os atributos do general/secretário quanto à sua sabedoria, sinceridade, humanidade, coragem e exigência. E quanto a este fator há diversos problemas imediatos relacionados com sinceridade, humanidade e exigência. De imediato, não parece haver boa fé nesta ação apressada de suprir o déficit de professores no Estado do Rio de Janeiro e o seu resultado deverá ser a descrença docente nas promessas, recompensas e até nos castigos. O mesmo também parece acontecer em relação à humanidade do Sr. Secretário para com os outros. É provável que não goste dos professores, não saiba apreciar-lhes o engenho e esforço. Mas, felizmente os professores não são bobos e logo terão certeza da furada em que se meteram por escassos R$ 562,28, sem vales transporte, refeição etc; seus dirigentes, explicitamente, parecem não lhes ter amor ou respeito. E daí vem o seguinte problema: como exigir disciplina, deferência e obediência destes professores lançados à própria sorte nos diferentes confins onde foram alocados?
O quinto fator é a doutrina, quer dizer a organização pedagógica destes professores, o controle dos seus afazeres, o posicionamento correto deles nas escolas (será que todos já podem assumir turmas?), o provimento de instruções e treinamento, e o fornecimento de materiais pedagógicos e demais equipamentos necessários. Cada professor, coitado, vai como pode, lutar com as "armas" que tem!
O Mestre Sun Tzu, diz-nos que os generais que não dominam estes cinco temas são os perdedores, porque são incapazes de elaborar um plano. Seus oficiais no campo de batalha ficam despreparados, preocupados, hesitantes e indisciplinados. O general sequer sabe que o verdadeiro objetivo da guerra é a paz. No nosso caso, é a educação de qualidade, com alunos que aprendem os saberes construídos historicamente e os repassam com novas mediações para as gerações futuras.
Ora, assim nem é preciso ter dons de píton; é possível a qualquer humilde mortal prever para breve muitas exonerações, transferências, licenças de saúde e simples abandono de trabalho. É uma derrota anunciada... não obstante a coragem e a bravura dos nossos queridos colegas professores.